O PS era eleitoralmente mais forte dentro da geringonça do que o PSD é face à IL e Chega?

Marcelo Rebelo de Sousa disse que nos últimos dois governos a vantagem do PS sobre o BE e CDU era “muito mais forte” do que a actual do PSD sobre IL e Chega. Será verdade?

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Marcelo Rebelo de Sousa foi esta quinta-feira entrevistado pelo PÚBLICO e pela RTP Daniel Rocha

A frase

“Uma alternativa para ser forte tem de ter um partido liderante do hemisfério mais forte do que os outros. O PS, mesmo com aquelas formas originais dos dois governos anteriores, era muito mais forte em termos eleitorais e em termos políticos do que os demais.”

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

O contexto

Marcelo Rebelo de Sousa, na entrevista ao PÚBLICO e à RTP, quando questionado acerca da existência de uma “alternativa” ao Governo, diz que esta existe “aritmeticamente”, mas não “politicamente”. Por um lado, diz que “um dos partidos recusa entender-se com um terceiro”, referindo-se à Iniciativa Liberal, que rejeita qualquer acordo com o Chega - o que é verdade.

Por outro, afirma que “uma alternativa, para ser forte, tem de ter um partido liderante do hemisfério mais forte do que os outros”, notando que nos “dois governos anteriores” existia a hegemonia de um partido (o PS) sobre os “demais” (BE e CDU). O que sugere que não acontece agora na relação PSD-Chega-IL, pois “as sondagens mostram que o partido mais importante daquela área [PSD] está acima do somatório dos outros dois, mas não chega a ter o dobro do somatório dos outros dois. Portanto, isso dá uma alternativa fraca na liderança”.

Os factos

O primeiro governo do PS a que Marcelo se refere — viabilizado em 2015 graças a um acordo parlamentar escrito com o BE e a CDU — resultou das eleições legislativas em que o PS arrecadou 32% dos votos, o BE 10% e a CDU 8%. O dobro da soma de BE e CDU dá 36%, logo, o PS ficou a quatro pontos percentuais daquele valor.

O segundo governo foi formado após as eleições legislativas de 2019 nas quais o PS arrecadou 36%, o BE 9,5% e a CDU 6%. Mas os socialistas descartaram quaisquer acordos e governaram em minoria, negociando leis ora à esquerda, ora à direita. Não houve, pois, nenhuma "fórmula original" num contexto em que, de facto, o PS obteve mais do dobro dos votos que os antigos parceiros da geringonça.

Olhando agora para a actualidade: a última sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, dá 31% ao PSD, 11% ao Chega e 8% à IL. Valores, portanto, muito próximos aos obtidos pela esquerda em 2015, mas em que o PSD fica ainda mais longe do dobro dos votos do Chega e da IL.

O dobro da soma do Chega e da IL dá 38%: estando, portanto, o PSD a sete pontos percentuais desse valor.

Em resumo

Comparando a dinâmica eleitoral do PS, BE e CDU em 2015 com a dinâmica eleitoral entre o PSD, IL e Chega sondada em 2023, a hegemonia do principal partido sobre os restantes é equivalentemente forte — PSD tem menos 1% do que o PS e Chega 1% mais do que o BE — e não “muito mais” no caso do PS, como afirmou o Presidente da República.

Contudo, o facto de Marcelo deixar claro que alicerça a sua opinião nos dobros das somas dos resultados dos partidos secundários — estando o PSD mais distante desse dobro — faz com que o que tenha dito esteja mais próximo da verdade do que da falsidade.

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