Free Now sai de Portugal e deixa mercado para a Uber e Bolt

Empresa comunicou aos clientes que acaba com operação a 3 de Abril. Razões apontadas são “uma trajectória de crescimento fraca, forte concorrência e a falta de um negócio central de serviço de táxis”.

Foto
Mercado português fica partilhado entre a Uber e a Bolt Paulo Pimenta

A Free Now, uma das três empresas que operam no mercado de TVDE a nível nacional, vai encerrar a sua operação em Portugal no final do próximo dia 3 de Abril, de acordo com uma mensagem que foi enviada nesta sexta-feira aos seus clientes.

"Foi uma decisão difícil de tomar e estamos extremamente gratos por todos os passageiros e motoristas que melhoraram a nossa estada em Portugal", afirmou a Free Now na sua mensagem.

Questionada sobre as razões da sua saída, fonte oficial da empresa a nível europeu explicou ao PÚBLICO que "ao longo dos anos, a Free Now operou e cresceu de forma bem-sucedida em Portugal". "Contudo", acrescentou, "uma trajectória de crescimento fraca, forte concorrência e a falta de um negócio central de serviço de táxis levou à decisão de encerrar as actividades no mercado". "Isto tem por base a decisão estratégia clara de o negócio se focar na rentabilidade, assim como o impacto da pandemia, da guerra na Ucrânia e da forte concorrência contínua", concluiu.

De acordo com a mesma fonte, a empresa "visa melhorias para continuar o seu rumo de sucesso para um crescimento sustentável, o que significa que tem de adoptar medidas para melhorar a eficiência e a estrutura do custo, incluindo decisões de investimento em mercados individuais".

A empresa refere que vai ser possível continuar a alugar scooters da Cooltra em Lisboa através da aplicação desta marca. Ligada à Mercedes-Benz e à ​BMW, a Free Now, que surgiu da junção de várias marcas, como a Mytaxi e a Chauffer Privé/Kapten, destaca que continua a operar em "mais de 170 cidades" com meios de transporte, dos TVDE às bicicletas, passando pelas trotinetes. Esta empresa está presente em Espanha, Alemanha, Irlanda, Reino Unido, França, Itália, Polónia, Áustria e Grécia.

Em Novembro de 2019, também a Cabify anunciou que ia deixar de operar no mercado português.​ Em Portugal, operam também a Bolt e a Uber, bem como a Its My Ride (do Algarve)​, sendo que a Free Now era a única que também disponibilizava o acesso a táxis.

Mercado "muito sensível ao preço"

No início de 2021, o então director da Free Now, Sérgio Pereira, afirmou em entrevista ao PÚBLICO que o mercado português é “muito sensível ao preço”, e que isso fazia com que houvesse “um pouco mais de concorrência em Portugal entre as plataformas do que noutros mercados”. A guerra trava-se muito a partir dos descontos sobre o custo das viagens, algo que, destacou, “não é sustentável a longo prazo”.

A saída da empresa surge numa altura em que o Governo está a ultimar a proposta de alteração à lei em vigor, que data de 2018, depois de ter recolhido as apreciações do Instituto da Mobilidade e Transportes (IMT) e da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT).

O IMT refere que no final de Agosto de 2021 havia 8494 operadores licenciados – desconhecendo-se quantos estavam, de facto, activos –, dos quais 67% estavam localizados na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e 17% na Área Metropolitana do Porto (AMP).

Nessa mesma data, havia 30.314 motoristas certificados (mais uma vez, desconhecendo-se quantos estão efectivamente a trabalhar, tal como não se sabe o número de TVDE em circulação), dos quais 65,5% na AML e 16,6% na AMP e, segundo o IMT, “mantinham-se válidos 90,8% do total” dos certificados emitidos. De acordo com este organismo, 64,7% dos motoristas certificados são portugueses, seguindo-se os de nacionalidade brasileira, com 18,7%.

Nos primeiros nove meses de 2021, de acordo com o IMT, realizaram-se 107,6 mil viagens por dia, acima dos 99,3 mil de 2019 e dos 80,9 mil de 2020. Do total de 772 contra-ordenações ligadas ao sector, a falta de motorista certificado tem um peso de 22,7%, abaixo da ausência de dístico identificativo de TVDE (27,7%) e de inspecção fora do prazo (25,7%).

Sugerir correcção
Comentar