Morreram mais de 17 mil pessoas no Mediterrâneo central desde 2014

Só este ano já chegaram a Itália mais de 13 mil migrantes, quase o triplo em relação a igual período de 2022. Em apenas dois meses, morreram 220 pessoas ao largo da costa italiana.

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Os sobreviventes do naufrágio deste domingo recebem assistência das autoridades italianas EPA/GIUSEPPE PIPITA

Mais de 17 mil mortos e desaparecidos no Mediterrâneo central desde 2014, dos quais 220 só nos dois meses deste ano. Os números impressionantes, registados pelo Projecto Migrantes Desaparecidos das Nações Unidas, mostram que esta travessia é, de longe, a mais perigosa do mundo.

Itália é o principal destino de todos os que tentam chegar a solo europeu através do mar Mediterrâneo, sendo que a maioria dos migrantes tem como ponto de partida o Norte de África, com a Turquia em segundo lugar.

Dados colectados pelo Ministério do Interior italiano revelam que, entre 1 de Janeiro e 23 de Fevereiro deste ano, 13.067 migrantes chegaram a Itália de barco, contra 5273 no período homólogo de 2022 e 4156 no ano anterior. Cerca de 861 dos migrantes que fizeram a perigosa travessia este ano eram menores desacompanhados.

Durante o ano de 2022, mais de 105 mil migrantes chegaram à costa italiana, quase o dobro do que em 2021 (67 mil), dos quais mais de 13 eram menores desacompanhados, e em 2020 tinham sido 34 mil. O recorde de chegadas a Itália num único ano aconteceu em 2016, quando foram contabilizados 181.436 migrantes.

Segundo os números da ACNUR, a agência de refugiados das Nações Unidas, mais de metade (51%) das travessias marítimas com destino a Itália tiveram origem na Líbia, seguindo-se a Tunísia (31%) e a Turquia (15%). Menos comuns são as partidas de Argélia, Líbano e Síria.

Nos dois meses que já leva 2023, o principal país de origem dos migrantes é a Guiné-Conakri (1654), seguida pela Costa do Marfim (1511), Paquistão (997), Tunísia (846), Egipto (490) e Bangladesh (447). No ano passado, o principal país de origem foi o Egipto, com 20.542 migrantes a chegarem a Itália, seguido pela Tunísia (18.148), Bangladesh (14.982), Síria (8.594) e Afeganistão (7.241).

Para tentar combater a migração através do Mediterrâneo e, ao mesmo tempo, o tráfico de pessoas, o Governo italiano, na altura de centro-esquerda e liderado por Paolo Gentiloni, do Partido Democrático, assinou um acordo com as autoridades líbias para controlar o fluxo de migrantes.

Em resultado, o número de travessias foi drasticamente reduzido, mas várias organizações de direitos humanos denunciaram um acordo que classificaram como desumano, já que milhares de migrantes foram presos em campos de detenção na Líbia, muitas vezes vítimas de tortura.

A pandemia de covid-19 reduziu ainda mais o fluxo migratório através do Mediterrâneo, mas os números começaram novamente a subir no ano passado. Em Outubro, os italianos elegeram um Governo de direita, liderado por Giorgia Meloni, do partido Irmãos de Itália, que prometeu combater a imigração ilegal.

Uma das primeiras medidas foi a introdução de uma lei que limita a acção dos navios das organizações não-governamentais, forçando-os a atracar em portos mais distantes, alegando que estes barcos serviam como um “serviço de táxi” para migrantes.

Meloni fez também pressão junto da Comissão Europeia para assinar um acordo com a Líbia, semelhante ao que a UE fez com a Turquia em 2016, pelo qual Bruxelas paga ao Governo de Ancara para reter refugiados dentro das suas fronteiras.

Na última quinta-feira, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, disse que é possível chegar a uma solução europeia para resolver a situação.

“Devemos combater os contrabandistas e os traficantes, dialogar com os países parceiros e cooperar no repatriamento daqueles que não têm direito de permanência”, afirmou Von der Leyen na Universidade de Palermo, na Sicília.

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