Morreu Richard Belzer, o comediante que se tornou uma peça essencial de Lei & Ordem

Vindo da comédia stand-up, o actor que encarnou o icónico detective John Munch alcançou a popularidade com um par de policiais televisivos. Tinha 78 anos.

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Richard Belzer Andrew Kelly/Reuters

O actor Richard Belzer, cuja costela de comediante de stand-up acabou por desembocar numa carreira de papéis dramáticos, desempenhando o emblemático papel do detective John Munch nas séries Homicídio, da NBC, e depois no franchise Lei & Ordem, morreu no domingo aos 78 anos.

Belzer estava na sua casa de Inverno em Beaulieu-sur-Mer, França, com a mulher, a ex-actriz Harlee McBride, e os enteados, disse ao Washington Post o seu amigo de longa data Bill Scheft. Segundo Scheft, que estava a fazer um documentário sobre Belzer, nos últimos anos o actor sofria de problemas circulatórios e respiratórios.

A notícia do seu falecimento, avançada em primeira mão pela revista Hollywood Reporter, gerou uma profusão de homenagens de amigos e colegas da televisão e do mundo da comédia, que recordam Belzer pela amada personagem do detective Munch, bem como pela sua carreira de stand-up. O comediante Billy Crystal considerou-o "um génio a lidar com a multidão". Marlee Matlin, que foi actriz convidada na série Lei & Ordem: Unidade Especial, descreveu-o como "um dos actores mais amáveis e acolhedores" que conheceu. O actor Henry Winkler escreveu nas redes sociais: "Descansa em paz, Richard."

Vários colegas partilharam os momentos mais famosos de Belzer, incluindo a altura em que o wrestler Hulk Hogan o deixou KO nos anos 1980, quando o actor apresentava o talk-show televisivo Hot Properties. Para provar que o wrestling profissional não era a fingir, Hogan agarrou Belzer pelo pescoço e este desmaiou, vindo a ser arremessado ao chão já sem sentidos.

Belzer teve de receber assistência hospitalar (foi suturado com nove pontos) e acabou por processar a super-estrela do wrestling. Foi com o dinheiro conseguido no acordo judicial que o actor comprou as suas casas em França.

Ainda segundo Scheft, Belzer chamou menos atenção com os seus papéis cómicos do que como detective, mas o seu stand-up inspirou outros comediantes durante décadas.

"Ele é conhecido em todo o mundo como Munch, que era o personagem mais antigo da televisão quando [Belzer] se reformou", diz Scheft. "E no entanto não é conhecido como um dos mais influentes comediantes stand-up do final dos anos 1970. Ele era lendário".

Dick Wolf, o criador de Lei & Ordem, recordou no Instagram que trabalhou pela primeira vez com Belzer num episódio em que se cruzavam as histórias de Lei & Ordem e Homicídios. Gostou tanto da personagem de Munch que quis torná-lo parte de Lei & Ordem: Unidade Especial.

"O resto é história", escreveu Wolf. "Richard trouxe humor e alegria às nossas vidas, foi o profissional perfeito, e todos sentiremos muito a sua falta."

Nascido em Bridgeport, no estado norte-americano do Connecticut, Belzer lutou com aquilo que veio a descrever como uma "infância amarga". A mãe, uma figura abusiva, morreu quando o actor tinha 20 anos, e o seu pai suicidou-se quatro anos mais tarde.

Profissionalmente, tentou vários trabalhos, incluindo o de jornalista na publicação local Bridgeport Post. Em 1971, porém, concorreu a uma audição para uma produção teatral underground anunciada no jornal nova-iorquino Village Voice. Foi o papel que lançou a sua carreira. Depois, fez outros trabalhos como comediante stand-up, alguns dos quais no programa de variedades Saturday Night Live, assim que este se estreou em 1975.

Em 1993, estreava-se Homicídios, uma série policial passada em Baltimore, e Munch tornava-se um nome familiar para milhões de americanos.

Ao longo dos 20 anos seguintes, Munch apareceu em pelo menos dez séries televisivas em cinco canais diferentes, tipicamente usando óculos escuros e com uma atitude cínica. A personagem tornou-se conhecida também pelo seu interesse por teorias da conspiração —​ um interesse que partilhava com Belzer, que escreveu vários livros sobre OVNI e o assassinato do Presidente John F. Kennedy.

"Os polícias das brigadas de homicídios são fascinantes para mim", disse Belzer ao Washington Post em 1994. "Devido à natureza da vítima e do criminoso, eles passam a saber realmente muita coisa. Podem falar sobre cascos de cavalos, cinzas ou mobília, todo o tipo de coisas. É aquele aspecto Sherlock Holmes de usar o intelecto e de não ter de recorrer a uma arma. Muitos destes tipos provavelmente nunca sacaram da sua arma, e estão muito orgulhosos disso. São jogadores de xadrez.”

Belzer tinha dois enteados, Bree e Jessica Benton, e seis netos.

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