“O jogo mais inclusivo do mundo” é neste sábado e tem dedo português

A partida Betis-Valladolid, do campeonato espanhol, servirá para promover a inclusão de adeptos com deficiência. Uma ONG nacional esteve no centro da iniciativa e propõe mudanças também por cá.

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Equipa onde atuam William Carvalho e Rui Silva promove a inclusão de adeptos com algum grau de incapacidade Betis

Vai ser em Espanha, neste sábado, a contar para a 22.ª jornada da Liga espanhola. O “jogo mais inclusivo da história” do futebol põe frente a frente o Betis e o Valladolid e espera reunir vários milhares de pessoas, muitas delas com algum grau de incapacidade. E tem um dedo português.

O encontro que ambiciona alertar para a acessibilidade aos estádios tem a assinatura da Integrated Dreams, uma ONG criada por José Soares e Joana Cal, e cujo objectivo é integrar pessoas com deficiência física no sector profissional do desporto. A iniciativa surge da colaboração com o Football World Summit (congresso anual sobre a indústria do futebol) e o Betis, clube onde jogam os internacionais portugueses William Carvalho e Rui Silva e que todas as épocas, em Sevilha, dedica um jogo a este grupo – diferente de adeptos.

Estão planeadas inúmeras acções para antes e durante a partida. Ao chegar ao Estádio Benito Villamarín, por exemplo, os adeptos com deficiência vão ser acompanhados aos respectivos lugares por voluntários. Por sua vez, as pessoas com autismo têm reservadas salas sensoriais, nas quais estão salvaguardadas do ruído e da agitação exterior.

Durante o aquecimento, os atletas da casa promovem a inclusão visual através de coletes com códigos ColorADD, sistema destinado às pessoas daltónicas e criado pelo designer português Miguel Neiva.

Minutos mais tarde, quando as equipas entrarem em campo, os jogadores serão acompanhados por crianças com deficiências, e os do Betis vão vestir um equipamento diferente, no qual os números são impressos em Braille. Após o encontro, as camisolas serão leiloadas, a fim de angariar verbas para a Fundação Real Betis.

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ONG ambiciona parcerias com clubes portugueses Integrated Dreams

Entre as várias iniciativas previstas, o presidente da Integrated Dreams, José Soares, anseia pelo entoar do hino do Betis no Benito Villamarín, momento no qual os ecrãs do estádio vão ser ocupados por intérpretes de língua gestual.

A colaboração com o Betis e o Football World Summit surgiu por via do programa Football for All Leadership, promovido pela ONG portuguesa. José Luís Falcon, que havia participado no programa e que colabora com o clube espanhol fez a ponte. E, segundo José Soares, os astros alinharam-se para concretizar a vontade da associação. “Começou como um sonho e agora estamos a horas da realidade. Não vamos mudar o mundo sozinhos, mas com outras instituições contribuímos para um mundo inclusivo”, declarou ao PÚBLICO.

Bater recorde

No horizonte da organização do “jogo mais inclusivo do mundo” está bater o recorde estabelecido em 2018, quando 1074 adeptos com deficiência assistiram a um encontro da Liga polaca.

Em Portugal, apesar de reconhecer a crescente sensibilidade das entidades nacionais, José Soares lamenta a inexistência de salas sensoriais e de medidas de evacuação para pessoas com deficiência nos recintos desportivos.

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Associação promove a empregabilidade de pessoas com deficiência no desporto Integrated Dreams

Além disso, o dirigente da ONG criada em 2017, e que colabora, entre outras entidades, com a FIFA, a Johan Cruyff Foundation e a União Europeia e, em Portugal, com a FPF e o Benfica, apela à revisão da acessibilidade nos estádios e nas áreas circundantes, assim como nos lugares digitais dos clubes: “Trata-se de uma oportunidade para as organizações aumentarem a base de adeptos e as receitas. Se uma pessoa com deficiência não consegue ir ao jogo, então não compra bilhete ou camisola.”

Para o futuro, a Integrated Dreams assume ainda o objectivo de ampliar as iniciativas às doenças neurodegenerativas, como a esclerose múltipla e o Parkinson.

Texto editado por Jorge Miguel Matias

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