Câmara de Lisboa vai restaurar monumento de Cutileiro no Parque Eduardo VII

Conjunto escultórico de João Cutileiro deverá ficar oculto durante a Jornada Mundial da Juventude, mas não será desmontado para instalar o palco.

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O conjunto escultórico foi encomendado a João Cutileiro em 1997 pela Câmara de Lisboa CARLOS LOPES

O monumento ao 25 de Abril instalado no Alto do Parque Eduardo VII, da autoria de João Cutileiro (1937-2021), não vai ser desmontado e retirado provisoriamente do local, como chegou a ser equacionado, para erguer o altar-palco que vai receber no centro de Lisboa parte das cerimónias da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

“A estátua não vai ser retirada”, disse ao PÚBLICO um assessor de comunicação da Câmara Municipal de Lisboa (CML), João Maia Abreu, sobre o conjunto escultórico de 90 toneladas encomendado em 1997 pela CML por ocasião do 23.º aniversário do 25 de Abril, que tem como elemento principal um obelisco de seis metros de altura de forma acentuadamente fálica.

“A estátua está em adiantado estado de degradação, incluindo o circuito hidráulico que está avariado. O cravo também está partido”, acrescentou o assessor, referindo-se ao cravo bicolor, único elemento figurativo do conjunto, esculpido em mármore verde de Viana e mármore encarnado.

Está previsto que o palco vá receber, a 1 de Agosto, a missa de abertura da JMJ, celebrada pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e depois a cerimónia de acolhimento ao Papa Francisco e a Via Sacra, agendadas para os dias 3 e 4.

No final de Janeiro, quando a CML ainda não tinha aprovado o projecto final para o palco do Parque Eduardo VII, o jornal Observador adiantou que estava decidida, com a autorização da família de João Cutileiro, a retirada provisória do monumento ao 25 de Abril.

Na última sexta-feira, o presidente da autarquia, Carlos Moedas, revelou que a construção deste altar-palco — que chegou a ter um custo previsto entre 1,5 a 2 milhões de euros, segundo número divulgados pela comunicação social — passaria a ser da responsabilidade da Igreja e custaria 450 mil euros, altura em que também anunciou que os custos do maior palco da JMJ, a construir no Parque Tejo, também em Lisboa, tinham passado de 4,2 milhões de euros para 2,9 milhões.

Escultura oculta

“Será iniciado um processo de recuperação da escultura e esta ficará protegida nas montagens do palco, atrás deste, pois a implantação do palco não exige que seja retirada”, disse ainda João Maia Abreu, acrescentando que os trabalhos estão a ser acompanhados pela família do escultor.

O restauro da escultura, que deverá ficar oculta durante as jornadas, será assumido pela CML e não pela JMJ, acrescentou.

A família de João Cutileiro, nomeadamente a sua viúva, a artista Margarida Lagarto, foi contactada em Janeiro por causa do restauro, altura em que visitou o monumento com a equipa da CML.

“A família foi contactada para ajudar a identificar os processos construtivos da peça, se [o centro] tinha a planta, desenhos, esquema de montagem, fotografias. Foi isso que recolhemos. Estamos à espera que a câmara consolide o projecto e esperamos receber uma proposta de conservação e restauro”, disse ao PÚBLICO Ana Cristina Pais, que faz parte da direcção do Centro de Arte João Cutileiro, uma associação cultural que gere o legado que pertence à família de João Cutileiro, um escultor com obra pioneira no século XX em Portugal.

Quando visitou recentemente o monumento, para fazer o registo fotográfico antes do início da obra, Ana Cristina Pais constatou que vários elementos apresentavam fissuras na pedra – além do cravo, há também duas colunas bastante danificadas – que terão sido provocadas pelo sistema hidráulico. O próprio sistema, acrescenta, que faria jorrar água do obelisco, está avariado.

“Sabemos que há peças que terão de ser desmontadas para serem conservadas, mas a generalidade da intervenção poderá ser feita no local”, acrescentou o membro da direcção do Centro de Arte João Cutileiro.

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