Dois terços das novas matrículas de 2022 são de carros usados comprados lá fora

Portugal regista “subida exponencial” na importação e registo de carros em segunda mão e a culpa é do atraso de carros novos por causa da falta de chips, o que esvaziou mercado nacional de usados.

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Idade média dos carros importados em segunda mão em 2022 é de sete anos Rui Gaudêncio (arquivo)

A importação de ligeiros de passageiros usados representou 67,1% do total de matrículas em Portugal em 2022, de acordo com dados apresentados hoje pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP).

De acordo com o balanço anual, hoje apresentado em Lisboa, em 2022 foram matriculados 104.908 ligeiros de passageiros que “já tiveram uma matrícula noutro Estado”, detalhou o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro.

“Portugal sempre foi um mercado que teve uma grande penetração de veículos importados usados, mas andava nestas percentagens dos 20%/25% e subiu exponencialmente”, acrescentou o mesmo responsável.

Helder Pedro atribuiu esta subida à crise de semicondutores, que provocou uma falta de veículos usados no mercado português. “Naturalmente, os canais de livre circulação na União Europeia levaram a que houvesse, digamos, esta importação de veículos em 2022”, defendeu o secretário-geral, acrescentando que a idade média dos automóveis registados era de sete anos.

Antes da pandemia da covid-19 e da consequente escassez de semicondutores, em 2019, os usados importados representavam 35,5% das matrículas. Foram 79.459 ligeiros de passageiros que já tinham sido registados noutro país. Em 2020, este valor caiu para 58.106, mas como todo o mercado caiu devido à pandemia, a "quota" de importados em segunda mão acabaria mesmo por aumentar em 4,5 pontos percentuais.

Em 2021, Portugal comprou 72.586 usados no estrangeiro, que representaram quase metade dos matriculados (49,5%).

A idade média dos automóveis preocupa os dirigentes do sector. O presidente do seu Conselho Estratégico dos Construtores de Automóveis, Pablo Puey, assinala o impacto negativo nos objectivos ambientais e nas vendas.

“A primeira preocupação que temos é ambiental. Se um carro que está a entrar tem sete anos, venha de onde venha, está a aumentar as emissões no país. A nossa primeira preocupação é que temos um parque velho, que é poluente, e que temos de renovar”, vincou Puey.

O mesmo porta-voz, que também é director de operações em Portugal do grupo PSA, mostrou ainda reservas quanto ao impacto da importação no comércio de automóveis. “Um mercado de 180.000 que tenha 100.000 carros importados usados é uma grande preocupação”, vincou.

Já o presidente da ACAP, José Ramos [Toyota Caetano Portugal], alertou para os efeitos da imposição da venda exclusiva de carros eléctricos a partir de 2035 na União Europeia, pedindo medidas para a sua regulação.

“Com as medidas que foram aprovadas ontem [terça-feira] pelo Parlamento Europeu, se não houver medidas que impeçam a importação, ou pelo menos reduzam a importação de carros usados, (…) vamos aumentar ainda mais a importação de carros usados, que têm motores a combustão”, defendeu José Ramos.

Na terça-feira, o Parlamento Europeu (PE) aprovou a proposta da Comissão Europeia que proíbe a comercialização na União Europeia de novos automóveis ligeiros de passageiros e comerciais exclusivamente movidos a combustíveis fósseis a partir de 2035.

O texto já acordado com os Estados-membros da UE e aprovado com 340 votos a favor, 279 contra e 21 abstenções, define para o sector o caminho para se atingir as metas definidas no pacote Objectivo 55 e que prevê, nomeadamente, emissões nulas de dióxido de carbono (CO2) dos novos automóveis de passageiros e veículos comerciais ligeiros em 2035 – um objectivo para a frota da UE de reduzir em 100% as emissões de CO2 produzidas pelos novos carros e furgonetas relativamente a 2021.

Os objectivos intermédios de redução das emissões para 2030 são fixados em 55% para os automóveis de passageiros e em 50% para os veículos comerciais ligeiros.

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