Os fugitivos do Boko Haram vencem Roterdão

Le Spectre de Boko Haram, documentário de Cyrielle Raingou, é o Tigre 2023 para o festival dos Países Baixos, que termina este domingo.

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O documentário Le Spectre de Boko Haram é a primeira longa-metragem da realizadora camaronesa Cyrielle Raingou

O prémio máximo do 52.º Festival de Roterdão foi entregue ao documentário Le Spectre de Boko Haram, primeira longa-metragem da realizadora camaronesa Cyrielle Raingou, ao fim da tarde de sexta, em cerimónia aberta ao público no “centro de operações” do complexo De Doelen.

Apresentado na secção principal do festival, a Tiger Competition, o filme é um documentário atento e sensível que se interroga sobre as consequências da violência criada pelo grupo fundamentalista islâmico nigeriano. A cineasta acompanha alguns meses na vida de um punhado de crianças num campo de refugiados junto à fronteira dos Camarões com a Nigéria, com especial destaque para Fata, que fugiu com a mãe de uma aldeia em perigo, e os irmãos Mohamed e Ibrahim, crianças-soldado resgatadas em busca dos pais.

Le Spectre de Boko Haram foi para o júri composto pela actriz Anizia Uzeyman, pela produtora Christine Vachon, pela programadora Sabrina Baracetti, pelo crítico Alonso Diaz de la Vega e pelo realizador Lav Diaz o melhor dos 16 títulos apresentados na competição do festival, tradicionalmente mais focado em obras de cinematografias menos conhecidas. O prémio vem também ao encontro do interesse que a programação de Roterdão deu este ano ao cinema africano, com destaque para a redescoberta das duas longas realizadas pelo burkino Drissa Touré.

De salientar que Cyrielle Raingou esteve presente este ano com outro título fora de concurso: a curta de 20 minutos Mama Dan So Que Sorriso, realizada em Portugal ao abrigo do mestrado de documentário DocNomads.

Dois outros filmes receberam o prémio especial do júri: Munnel, de Visakesa Chandrasekaram, sobre a luta da minoria Tamil no Sri Lanka, e New Strains, diário da pandemia dirigido pela dupla americana Artemis Shaw e Prashanth Kamalakanthan. O filme ucraniano La Palisiada, de Philip Sotnychenko, recebeu o prémio FIPRESCI da Federação Internacional de Críticos de Cinema.

Na competição secundária Big Screen, onde participou este ano Edgar Pêra com Não Sou Nada, o prémio — que consiste na distribuição em sala e plataformas do filme vencedor e é escolhido por um júri de espectadores — coube a Endless Borders, do iraniano Abbas Amini, onde os destinos de exilados iranianos e afegãos se cruzam.

Roterdão atribuiu ainda à directora de fotografia Hélène Louvart o prémio Robby Müller, homenagem àquele director de fotografia holandês que trabalhou, por exemplo, com Wim Wenders e que é entregue anualmente a um “criador de imagens” que se destaca no cinema contemporâneo.

Portugal saiu de Roterdão com um dos três prémios de melhor curta na competição Ammodo Short para Natureza Humana, de Mónica Lima, galardão anunciado a meio do certame.

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