Governo dinamarquês quer abolir um feriado para financiar a Defesa. A ideia não é popular

Coligação centrista pretende abolir feriado do Dia de Todas as Orações. Sindicatos e organizações religiosas protestam, e petição já recolheu quase meio milhão de assinaturas.

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A medida foi apresentada pelo Governo liderado por Mette Frederiksen Reuters/RITZAU SCANPIX DENMARK

O Governo dinamarquês está a planear abolir um feriado religioso para ajudar a financiar o aumento do orçamento da Defesa, na sequência da guerra na Ucrânia. Mas a população não está contente e a Confederação Dinamarquesa de Sindicatos lançou uma petição que conta já com perto de meio milhão de assinaturas contra a proposta.

A proposta do Governo centrista liderado por Mette Frederiksen prevê a supressão do Dia de Todas as Orações (Store bededag) em 2024. O objectivo é gerar mais receita fiscal ao manter os negócios abertos.

“É uma grande ameaça para o modelo dinamarquês”, avisou em entrevista à Agência France-Presse (AFP) Lizette Risgaard, líder da Confederação Dinamarquesa de Sindicatos, que conta 1,3 milhões de membros num país com 5,9 milhões de habitantes. "Se forem em frente, estarão a impor a sua vontade e a violar os nossos acordos", continuou a sindicalista.

A insatisfação com a proposta é partilhada pela Igreja Luterana Dinamarquesa, que diz não ter sido consultada antes do anúncio e fala numa "quebra de confiança". Para a presidente da Associação do Clero Dinamarquês, Pernille Vigso Bagge, os dinamarqueses não devem ter de escolher entre a paz e a reflexão do feriado em questão e as armas e balas do orçamento da Defesa. “As pessoas precisam destes feriados para relaxar e estar juntas”, referiu em Dezembro, citada pelo The New York Times.

O Dia de Todas as Orações é celebrado desde o século XVII na quarta sexta-feira após a Páscoa (este ano a 5 de Maio). Começou por ser um dia de oração, jejum e penitência. Actualmente, é uma data comum para a realização de cerimónias de confirmação (confirmação do baptismo).

Em 2022, a Dinamarca teve um orçamento para a Defesa de 27,1 mil milhões de coroas dinamarquesas (cerca de 3,64 mil milhões de euros), o equivalente a cerca de 1% do PIB.

Segundo as contas do Governo, o dia adicional de trabalho permitiria ao estado acumular mais três mil milhões de coroas dinamarquesas (cerca de 400 milhões de euros), ajudando a atingir a meta da NATO dos 2% do PIB na Defesa em 2030, em vez de 2033, como estava até agora previsto.

Na apresentação do programa do novo Governo ao Parlamento dinamarquês, Mette Frederiksen desvalorizou o dia de trabalho extra. “Não acho que seja um problema ter de trabalhar um dia adicional”, disse. “Estamos a enfrentar enormes gastos para defesa e segurança, saúde, psiquiatria e a transição verde.”

A líder sindical Lizette Risgaard sublinha que o feriado, e os salários de quem trabalha nesse dia, estão consagrados nos acordos salariais colectivos da Dinamarca. Acabar com esse feriado e tê-lo como um dia de trabalho choca contra o direito de estar com a família, indo "contra o que foi acordado nas negociações", disse à AFP.

No Parlamento dinamarquês, apenas os três partidos que constituem o Governo concordam com a medida – todos os nove partidos da oposição estão contra. Da esquerda à direita, os líderes queixam-se de estarem a ser postos de parte na decisão e consideram a abolição do feriado "um erro".

A decisão de suprimir um dos 11 feriados nacionais será votada pela primeira vez no dia 2 de Fevereiro. A AFP lembra que, há uma década, um Governo social-democrata também tentou abolir um outro feriado, mas acabou por desistir devido à resistência que enfrentou.

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