Os peixes do teu aquário estão felizes? Cinco coisas que deves ter em conta

Dar comida adequada à espécie de peixe que tens, mudares a água e estares atento a feridas ou doenças nestes animais são algumas das dicas.

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Os peixes do teu aquário estão felizes? Cinco coisas que deves ter em conta Claudio Guglieri

Se 1500 mamíferos em cativeiro sufocassem até à morte num jardim zoológico, o sofrimento que teriam desencadearia um grito de protesto. Sendo assim, porque é que quando um aquário de hotel em Berlim explodiu, no final de 2022, foram poucas as pessoas que comentaram sobre o bem-estar dos peixes?

As espécies aquáticas parecem não provocar a mesma resposta emocional, e esta disparidade está a afectar a nossa compreensão das vidas destes animais em cativeiro.

Depois de décadas de estudos sobre a senciência nos peixes (ou seja, a capacidade de experienciarem sentimentos e sensações), os cientistas chegaram a um consenso e afirmaram que estes animais podem sentir dor.

Esta sensação nos seres humanos tem uma componente emocional importante, e o mesmo parece ser verdade nos peixes, que também são capazes de sentir ansiedade e medo. Isto, juntamente com provas convergentes de que podem realizar tarefas complexas envolvendo ferramentas e resolução de problemas, coloca-os ao mesmo nível de outros vertebrados.

Os peixes são o terceiro animal de estimação mais popular no Reino Unido, e 9% da população tem pelo menos um. O comércio destes animais é vasto, com milhões retirados todos os anos dos habitats naturais (principalmente na Ásia e no Pacífico Sul) e enviados para aquários, sobretudo nos EUA e Europa.

No entanto, as atitudes [dos humanos] em relação a estes vertebrados são um pouco mais frias do que para outras espécies. Estes animais são considerados alimento, e os estudos têm sistematicamente concluído que as pessoas estão menos preocupadas com o bem-estar dos peixes entre outras espécies exploradas. Isto pode ser explicado pelo facto de se terem desviado do nosso caminho evolutivo há muito tempo.

Contudo, toda esta distância entra em colapso quando passas a ter um em casa. Por isso, se estás a pensar comprar um peixe de estimação, há cinco coisas que deves ter em conta se quiseres manter o teu novo amigo feliz.

Alimento

Muitas pessoas alimentam os peixes com comida que não é apropriada para a espécie que têm no aquário. Para outras, custa-lhes alimentar estes animais com comida própria para a espécie.

Por exemplo, quem tem peixes tropicais e dourados no mesmo aquário vai descobrir que os primeiros adoram comida com alto teor de proteína, como a larva vermelha ou do camarão. No entanto, demasiada proteína não é benéfica para os peixes dourados.

Podes alimentar os teus peixes com a comida adequada, mas negligenciar a quantidade que lhes dás tendo em conta o tamanho e idade que eles têm. Vai existir uma forte competição por alimento no aquário, especialmente em grupos maiores, o que significa que os peixes mais jovens poderão ficar sem nada.

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É comum os peixes ficarem feridos nos aquários domésticos Thomas Park/Unsplash

Água

Os peixes produzem muitos dejectos e os níveis de amoníaco, nitratos e nitritos podem acumular-se rapidamente na água. É por esta razão que existem dispositivos de monitorização que te podem dizer se a qualidade da água do teu aquário é segura, mas há indícios que sugerem que são poucas as pessoas que seguem as instruções.

A par disto, existe ainda a iluminação. Os peixes também dormem – na verdade, os padrões de sono são semelhantes aos humanos. Sendo assim, precisam de um período de escuridão definido para descansar, por isso, faças o que fizeres, não deixes as luzes acesas 24 horas por dia.

Desconforto

Achas que saberias detectar se um peixe estiver ferido ou doente? Se a resposta é não, não estás sozinho. Os peixes são alguns dos animais de estimação mais mal compreendidos, e esta dificuldade acontece até com os especialistas.

Os ferimentos nos aquários domésticos são comuns, uma vez que os peixes formam hierarquias e lutam. Além disto, também podem ocorrer infecções bacterianas ou parasitas que podem ser difíceis de detectar.

Desta forma, é importante que uma doença seja detectada atempadamente para que os peixes infectados possam ser colocados em quarentena e tratados para impedir que o problema se propague aos restantes. Quando um peixe se esfrega no aquário, muitas vezes fá-lo na tentativa de remover os parasitas e é um forte indício de que não está bem.

Comportamento normal

É difícil dizer o que representa um comportamento normal num peixe, mas uma das questões mais importantes que deves colocar a ti próprio é se a estrutura ou o ambiente natural do grupo se reflecte no teu aquário.

Se os teus peixes são uma espécie de cardume (ou seja, organizam-se em formações apertadas chamadas cardumes), significa que gostam de viver em grupos. Os Zebra danios, por exemplo, devem ser mantidos em grupos de pelo menos seis da mesma espécie. No entanto, existe um equilíbrio delicado: a sobrepopulação vai dar origem a agressões à medida que os peixes competem por comida e espaço, enquanto muito poucos peixes vão impedi-los de formar cardumes.

No mínimo, os aquários devem ser suficientemente grandes para permitir que os peixes nadem livremente e ter abrigo suficiente (como plantas ou uma pequena cova submersa para se esconderem por baixo) para terem a possibilidade de estarem sozinhos se quiserem.

Medo ou angústia

Há várias causas para um peixe estar a viver com medo. Alguns podem sentir-se regularmente intimidados por companheiros de aquário maiores, o que se torna um tormento quando não existem esconderijos.

Além disto, estes animais também são sensíveis a coisas fora do aquário. Por exemplo, o aquário está perto de um radiador quente ou de uma janela aberta? São perturbados pelas vibrações de uma máquina de lavar roupa próxima? Todos estes factores podem causar medo e angústia.

Se estás a planear ter peixes e um aquário em casa, tudo isto pode parecer que há muito trabalho envolvido. Esperemos que esta lista mostre que os peixes têm necessidades complexas tal como outros animais de estimação – mesmo que não possas levá-los a passear.


Exclusivo P3/The Conversation
Matt Parker é professor de Neurociência e Ciência do Sono na Universidade de Surrey, em Inglaterra

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