Criadas vacinas orais para prevenir doenças em peixes de aquacultura

Desenvolvidas por cientistas do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, estas vacinas destinam-se a evitar doenças bacterianas.

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Neste momento, estão a ser feitos testes com robalos Citron/CC-BY-SA-3.0

Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar), da Universidade do Porto, desenvolveram vacinas orais para peixes de aquacultura que, incorporadas no alimento, previnem a ocorrência de doenças bacterianas. Neste momento, está a testar-se a solução em robalos.

Em declarações à agência Lusa, Cláudia Serra, investigadora do Ciimar, explicou que o projecto, intitulado ProbioVaccine, surgiu da necessidade de se encontrarem soluções para um dos problemas da aquacultura: “A existência frequente de doenças bacterianas nos peixes. As doenças bacterianas, algumas de carácter zoonótico, são muito frequentes e levam a perdas económicas muito significativas porque a produção de aquacultura fica afectada”, afirmou.

Segundo a investigadora, actualmente, um dos “estratagemas” utilizados pelo sector para evitar que a doença bacteriana se instale é a vacinação, nomeadamente, a injectável. Apesar de ser a solução “mais eficaz”, a vacinação injectável acarreta “complicações ao nível logístico”, “implica bastante investimento” e tem “repercussões” ao nível do stress dos peixes.

“A maioria das vacinas usadas na aquacultura é injectável, mas do ponto de vista logístico é muito trabalhoso porque os peixes são vacinados um a um, implica bastante investimento e tem repercussões ao nível do stress dos peixes. Os peixes são muito susceptíveis ao stress e não gostam de ser manuseados, nem de estar fora de água”, referiu Cláudia Serra. Nesse sentido, os investigadores do Ciimar desenvolveram uma vacina oral que, ao ser incorporada na ração, previne a ocorrência de doenças bacterianas em massa. 

Ainda que a vacinação oral não seja “uma novidade na aquacultura”, a desenvolvida pelo Ciimar foi testada em peixes-zebra e revelou “resultados promissores” com diferentes patogénicos, sendo que num deles se observou uma “redução da mortalidade na ordem dos 50% e no outro de 70%”. “Prevemos que pelo menos um produto comercial resulte deste projecto e que a tecnologia proposta possa ser aplicada no controle de doenças em diferentes espécies de peixes e contra diversas doenças bacterianas que afectam a sustentabilidade da aquacultura”, disse.

No decorrer dos resultados obtidos, o projecto foi reconhecido pelo Business Ignition Programme (um programa para modelos de negócio para tecnologias desenvolvidas no meio académico), com a atribuição de um prémio no valor de 10.000 euros.

De acordo com Cláudia Serra, essa atribuição permitiu dar início à mesma prova de conceito, mas em peixes de aquacultura, nomeadamente, robalos. “Produzimos a nossa vacina e incorporamos na dieta do peixe, que também é produzida no Ciimar, e depois alimentamos os peixes. Neste momento, vamos vaciná-los durante um mês, sendo que o objectivo mais tarde é perceber qual o tempo mínimo para ser eficaz”, referiu.

Sublinhando que este é “um pequeno passo”, uma vez que os peixes de aquacultura estão expostos a um grande conjunto de patogénicos, a investigadora adiantou que o objectivo futuro da equipa é “testar a tecnologia noutras doenças e espécies de peixes, bem como em diferentes fases de desenvolvimento das espécies”. A investigadora disse ainda que a prova de conceito da tecnologia, que será apresentada em Setembro, permitirá “oferecer à aquacultura novas e práticas armas contra doenças”, contribuindo para “o desenvolvimento da produção de pescado seguro e para a sustentabilidade do sector”.

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