A precariedade de quem tem sonhos

Assistimos a um mercado que quer tudo e não quer nada. Quer jovens dispostos a ganhar o salário mínimo, com imensos anos de experiência e a cumprirem mil e um requisitos.

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Kilian Seiler/Unsplash

Escrevo este artigo depois de atingir o estado de exaustão de uma procura de emprego num país que diz beneficiar os melhores, mas onde a meritocracia está longe de ser implementada.

Sou a favor de respeitar o nosso tempo, de saltar sem pára-quedas quando assim tem de ser e de novos desafios, mas, depois de experiência profissional, conhecimento de mercado e horas infindáveis de dedicação, onde aparecem, finalmente, os “sim”?

Não aparecem. E não aparecem porque assistimos a um mercado que quer tudo e não quer nada. Quer jovens dispostos a ganhar o salário mínimo, com imensos anos de experiência, a cumprirem mil e um requisitos e elaborarem tarefas que davam para dois ou três postos de trabalho. Não aparecem porque quem tem opiniões fortes e transparentes acaba por sair prejudicado. Não aparecem porque quem quer sempre mais e procura isso, mesmo que tenha de saltar de trabalho em trabalho, é visto como alguém instável. Sonhar tem os seus custos… mentais, muitas das vezes.

E, no meio de todos estes acontecimentos, aparece o desânimo e o quase conformismo com um estado de monotonia e resignação. Mas não… recuso-me a aceitar que por ter sonhos não os posso cumprir, que para sonhar têm de me cortar as pernas e que para ser feliz tenho de me sentir infeliz profissionalmente. Recuso-me a aceitar que qualquer pessoa não possa e tenha as oportunidades para conseguir cumprir o que mais deseja.

Estamos em pleno início de ano. Nos últimos meses de 2022 mudei-me para Lisboa, sem nunca esquecer o meu toque nortenho e alma aguerrida. Se enquanto jovens somos agentes de mudança, deixem-nos sonhar. Dêem-nos a oportunidade para sonhar e ser felizes. Talvez muitos vejam esta visão como sendo utópica, mas prefiro considerá-la realizável.

Somos um país lutador, mas nem sempre premiamos essas mesmas pessoas. Somos um país com tradições, que, às vezes, são esquecidas. Somos um país democrático, mas a meritocracia costuma ficar na gaveta fechada. Somos um país com talento, mas maior parte das vezes não o deixam fluir.

E porque não quero sonhar apenas acordada e não quero olhar para a mesinha de cabeceira e ver no papel tudo o que quero realizar, envio uma mensagem extra de confiança de que se não for hoje, nem amanhã, será noutro dia e esse outro dia será melhor.

Se quando nasci me tivessem dito que ter sonhos ia ser tão difícil, sonharia ainda mais, porque o mundo é dos que sonham e fazem acontecer e a mudança está já ao virar da esquina.

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