Uma telenovela mexicana chamada TAP

Nunca ninguém provou os reais benefícios para o país e para a economia nacional em manter uma companhia aérea de bandeira, que serve apenas uma região onde só vive 25% da população.

Sempre fui contra as greves na TAP, principalmente em alturas em que a empresa se encontra na esfera pública e a receber ajudas que pertencem legitimamente a todos os portugueses, a grande maioria dos quais não precisa nem ganha nada com a TAP, nem de uma forma indireta. Numa empresa salva da falência com o dinheiro dos contribuintes (ninguém lhes perguntou se o queriam fazer), que serviu para pagar indemnizações a centenas de funcionários e ordenados a outros tantos e ainda ter dinheiro para pagar outras despesas, ou seja, manter-se em funcionamento, na minha perspetiva esses funcionários não têm direito moral para fazerem greves.

Pelos vistos, para os sindicatos e trabalhadores isso sempre pouco importou - devem achar que os portugueses têm de lhes pagar os salários e ainda por cima ser deixados em terra quando fazem greves. Não se trata de ser contra o direito legítimo à greve (que é constitucional), trata-se de uma questão de moralidade, em que a sobrevivência da empresa foi efetuada em detrimento da construção de hospitais ou em dar mais apoio às famílias em carência alimentar ou energética, principalmente na altura inflacionista que vivemos.

Também nunca ninguém provou os reais benefícios para o país e para a economia nacional em manter uma companhia aérea de bandeira, que serve apenas uma região onde só vive 25% da população. Até pode ser que o país beneficie em termos líquidos em injetar dinheiro na TAP, mas isso seria necessário provar de uma forma clara e independente. O problema é que nunca o foi. Falar claro e verdade aos portugueses também sobre esta situação nunca aconteceu.

Com o decorrer dos acontecimentos, vou mudando a minha opinião. Todas as semanas surgem trapalhadas na TAP em que só a sua administração e a tutela são responsáveis finais. Numa altura querem renovar a frota de carros do luxo das dezenas de boys e girls disto e daquilo, por outra frota de luxo, dizendo que ainda temos de ficar agradecidos, pois iria ficar mais barato a todos nós. Acho que nunca ninguém se lembrou de dizer aos portugueses que estão com extremas dificuldades para sobreviver e alimentar os filhos que os gestores da TAP iriam poupar dinheiro a todos.

Depois surgem informações oficiais que os portugueses vão ser ressarcidos do dinheiro que puseram por eles na TAP, mas, afinal, parece que já não vão. Depois vem a história da indemnização obscena paga a Alexandra Reis para passar quatro meses de férias e ir trabalhar para outra empresa da esfera pública mais um tempo e no mesmo ano ir para o Governo. Ainda se falava deste caso, quando se percebeu que a empresa prestou falsas declarações à CMVM, em face da saída da Alexandra Reis.

Agora sabe-se que os diretores estão a receber um abono mensal para poderem andar de Uber, porque ficaram sem os luxuosos automóveis que pretendiam e que são mais do que no tempo da TAP privada, em que tinha mais rotas, aviões e clientes. Dificilmente, em tão pouco tempo se pode fazer pior. Daria um excelente enredo para uma novela mexicana de mau gosto, ou um filme de suspense, porque nunca se sabe o que vem a seguir.

Perante tantas trapalhadas, os trabalhadores agora querem fazer mais uma greve entre 25 e 31 de janeiro, que foi convocada pelo Sindicato Nacional de Pessoal de Voo. Confesso que pela primeira vez apoio a greve. A concretizar-se vai trazer enormes prejuízos para a empresa e para quem tem viagens marcadas para essa altura e prejuízos para quem pagou a sobrevivência da empresa, além do prejuízo para o turismo nacional e para a imagem do país.

Se para estas trapalhadas existe dinheiro, também tem de haver para quem quer continuar a trabalhar (e não ir meses de férias) e melhorar as suas condições de vida.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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