O que é e para que serve o hidrogénio verde?

Na Península Ibérica poderá ser possível produzir hidrogénio em grande escala e a preços mais baixos graças à utilização de energia renovável no processo.

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Em território nacional será também construído um novo gasoduto para transporte exclusivo de hidrogénio verde que ligará Celorico da Beira a Zamora LISA LEUTNER/REUTERS

A ambição dos governos de Portugal e Espanha é que a Península Ibérica possa vir a tornar-se o líder europeu de produção de hidrogénio verde a longo prazo. O projecto é ambicioso e moroso, mas a necessidade de depender menos de potências como a Rússia leva a uma urgência reforçada nos projectos de transição energética. Na Península Ibérica poderá ser possível produzir hidrogénio em grande escala e a preços mais baixos graças à utilização de energia renovável no processo. Neste Perguntas & Respostas percebemos o que está em causa.

O que é o hidrogénio verde?

O hidrogénio é “verde” quando a sua produção industrial utiliza electricidade proveniente de fontes de energia renováveis, como a eólica ou a hídrica, tendo assim reduzidas ou inexistentes emissões de carbono e de outros gases com efeito de estufa na sua produção. Sendo produzido com energia renovável poderá ter também, tendencialmente, custos de produção mais baixos.

Para que pode servir o hidrogénio?

O hidrogénio pode ser usado como uma fonte de energia, substituindo essencialmente o gás natural. Para isso será necessário fazer algumas alterações nos aparelhos que usamos actualmente como esquentadores ou fogões para os converter para este tipo de energia. A rede de gasodutos também terá de ser adaptada para permitir o transporte desta substância gasosa. O hidrogénio também pode ser usado no sector dos transportes como combustível – evitando a necessidade de recorrer a grandes baterias – ou ser utilizado no sector industrial.

Por que razão se tem vindo a falar de hidrogénio verde nos últimos meses?

Com a guerra na Ucrânia tornou-se mais evidente a necessidade de a União Europeia não depender de países terceiros nas questões energéticas. O hidrogénio pode ser utilizado como um substituto do gás natural que Portugal importa, produzindo localmente hidrogénio a partir de fontes de energia renovável. Nos últimos meses surgiu também na Península Ibérica o projecto de construção de dois gasodutos para transporte exclusivo de hidrogénio verde: Celorico da Beira a Zamora (CelZa), com 248 quilómetros de extensão​; e Barcelona a Marselha (BarMar), com 455 quilómetros.

Onde é que Portugal vai produzir hidrogénio verde?

O Governo falou no interesse de localizar na Figueira da Foz projectos privados de produção de hidrogénio verde, apesar de ainda não serem conhecidos projectos concretos de grande dimensão. No final do ano passado, o Governo apresentou um programa de simplificação administrativa reduzindo a carga burocrática necessária para implementar este tipo de projectos. Esta simplificação de procedimentos levou a críticas por parte dos ambientalistas que temem ver esquecidos os requisitos de protecção ambiental.

E depois como vai ser transportado o hidrogénio verde?

O Governo já anunciou que vai reconverter parte da rede de gasodutos que é utilizada actualmente para o transporte de gás natural. Figueira da Foz-Celorico da Beira e Monforte-Celorico da Beira deverão ser os primeiros troços a ser reconvertidos e que actualmente fazem transporte de gás natural. Em território nacional será também construído um novo gasoduto para transporte exclusivo de hidrogénio verde que ligará Celorico da Beira a Zamora, ponto onde se interligará com a rede espanhola.

Porque tem de ser reconvertida a rede de gasodutos existentes?

A molécula de hidrogénio (H2) é constituída por dois átomos muito pequenos que conseguem “penetrar” no ferro e no aço que constituem o revestimento dos gasodutos tradicionais. Este processo tem o nome de embrittlement e pode resultar em fissuras no gasoduto, perigosas para a segurança do sistema. É, por isso, necessário a reconversão da rede existente para permitir “apertar a malha”, evitando a fuga dos átomos de hidrogénio.

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