Paletes com iPhones estão a ser vendidas pelos CTT por 1,95 euros?

As várias páginas criadas no Facebook alegam que a distribuidora está a vender, de forma aleatória, as encomendas não reclamadas que acumulou ao longo do último ano por menos de dois euros cada.

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As páginas de Phishing têm-se multiplicado com anúncios de que os CTT está a vender paletes com artigos não reclamados por 1,95 euros Nuno Ferreira Santos

A frase

“Todos os anos se acumulam muitas encomendas não reclamadas nos correios. De acordo com as regras, a CTT pode deitar fora estas encomendas, mas distribui as encomendas aleatórias por apenas 1,95 euros. Pode facilmente ganhar um iPhone, qualquer aparelho de cozinha, tal como um aspirador, e outros artigos.”

O contexto

Nas últimas semanas, páginas criadas no Facebook têm partilhado várias publicações e imagens alegando que os correios portugueses estão a vender paletes de encomendas não reclamadas que acumularam ao longo de um ano a menos de dois euros cada uma.

O anúncio que dá conta desta venda é a única publicação da página criada há três semanas. No entanto, conta com comentários de diferentes “utilizadores” que garantem que encomendaram – mesmo que a medo – e que receberam em casa uma palete inteira. “Tive muito medo que estas paletes estivessem a vender mercadorias defeituosas. Mas decidi arriscar e ganhar uma palete praticamente de graça. No final, todos os artigos estão intactos, sem defeitos e funcionam perfeitamente”, comenta uma utilizadora. Há até quem inclua fotografias daquilo que alegadamente recebeu.

Estes comentários são gerados através de bots de spam, programados por computadores e que ajudam a executar tarefas repetidas. Neste caso, envia comentários e interage com outros utilizadores com o objectivo de dar credibilidade à publicação inicial. No caso do Facebook, destacam-se por serem perfis sem qualquer publicação, amigo ou interacção e por terem o perfil criado na altura da publicação que estão a comentar.

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São criados utilizadores para dar credibilidade às publicações com comentários sobre o que receberam.

Os bots de spam passam despercebidos aos antivírus e são cada vez mais usados em esquemas de phishing nas mais variadas plataformas online, desde redes sociais à recriação de websites de marcas – como já aconteceu, por exemplo, com a Lefties e a Tiffosi.

Nas várias respostas, surgem perguntas sobre como funciona a venda. “Não sabes que mercadorias estarão na tua palete?” perguntou um utilizador. “Não, mas podes escolher a categoria de bens que desejas”, pode ler-se numa resposta.

Numa outra página criada com o mesmo propósito, a realidade é a mesma. Multiplicam-se os comentários que dão conta de encomendas recebida. “Como prometido, eles entregaram em três dias! Muitas coisas boas saíram”, lê-se. Surgem também alguns que mostram dúvidas sobre como fazer o pagamento, ao que a administração da página se apressou a responder: “Tente novamente. Ou use um cartão de outro banco.”

Os factos

De acordo com o site oficial dos CTT, é verdade que são realizados, na última quarta-feira de Janeiro, Abril e Outubro, leilões de correio que não foi reclamado, que “esteja em bom estado de conservação” e não inclua “alimentos, bebidas, artigos de higiene, publicidade e armas”. Isso é feito sempre que o prazo durante o qual a encomenda é guardada esteja expirado.

No entanto, não é verdade que esta venda seja realizada através de páginas criadas nas redes sociais. Os leilões são presenciais e não implicam o preenchimento de um inquérito com os dados de conta bancária.

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Os CTT procederam à criação de posts de sensibilização dos utilizadores

O aparecimento deste tipo de páginas levou os CTT a lançar um alerta aos consumidores no site oficial e na conta do Facebook. “Estão a ser criadas páginas nas redes sociais que referem falsamente que os CTT acumulam encomendas não reclamadas para depois as venderem. Algumas destas páginas são: 1,95 euros por Palete, Venda de Paletes, Eliminação de Paletes, Entrega de Paletes com desconto. Trata-se de um esquema com vista à obtenção de dados pessoais, sem qualquer ligação aos CTT.”

Em resposta a esta publicação, surgem comentários que referem o papel do Facebook nestas situações. “O problema disso é que o Facebook é bem pago para deixar essas burlas acontecerem e quando um user as denúncia (vezes sem conta) acaba com a conta bloqueada”, escreve um utilizador.

​Em resumo

É falso que a distribuidora esteja a vender paletes de artigos não reclamados por menos de dois euros. Trata-se de um esquema de phishing que tem como objectivo roubar os dados bancários dos utilizadores, retirando dinheiro das contas dos mesmos.​

Texto editado por Ivo Neto

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