Ministra de Negócios Estrangeiros alemã cita Mariza para elogiar unidade europeia

Primeira visita do ano de Annalena Baerbock foi a Lisboa. Na parte privada do programa visitou o Panteão por causa de Aristides de Sousa Mendes.

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Annalena Baerbock e João Gomes Cravinho, esta quarta-feira, em Lisboa Nuno Ferreira Santos,Nuno Ferreira Santos

A ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, usou uma canção de Mariza para elogiar a actuação da União Europeia “a uma só voz” durante a guerra da Rússia na Ucrânia, na sua primeira viagem de 2023, a Lisboa.

No país onde, contou, aprendeu a andar com um ano e meio (os pais visitaram Portugal “após a Revolução dos Cravos”), Baerbock sublinhou a unidade europeia com recurso à fadista portuguesa, com que pontuou o seu discurso no Seminário Diplomático que se iniciou esta quarta-feira no Museu do Oriente.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, usou outra imagem, de Rousseau: dois homens juntos conseguem caçar um veado. Se não juntarem os esforços, sozinhos, apenas conseguirão caçar uma lebre.

Até agora, a União Europeia tem decidido e agido em unidade, mas Baerbock alertou que qualquer sinal de desunião ou hesitação dará a Putin mais incentivo para continuar os seus ataques.

Questionada sobre as perspectivas de paz na Ucrânia, Baerbock disse que a Rússia sabe, há 11 meses, que “basta retirar militarmente” para haver paz.

Mas o facto de Moscovo não deixar sequer entrar a Cruz Vermelha nas zonas do Leste onde estão russófonos ou mesmo russos que foram viver para as regiões depois de 2014, de continuar a atacar infra-estruturas civis, de atacar durante o dia de Natal e de Ano Novo mostram que a Rússia não está interessada na paz, acusa. Putin só pensa em destruir a Ucrânia.

Maior ameaça são as alterações climáticas

Um ponto forte das conversas com o seu homólogo português foi, para Baerbock, a protecção do clima, já que a maior ameaça à segurança não é a guerra na Ucrânia nem a China: são as alterações climáticas. E Portugal tem um papel importante nesse campo, por exemplo, com a preocupação com a protecção do mar, já que não há transição verde sem transição azul, declarou.

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Baerbock referiu várias vezes a importância de Portugal como parceiro, destacando, na energia, o enorme potencial ibérico de levar hidrogénio para o resto da Europa e, no clima, a experiência portuguesa na protecção dos oceanos. Também destacou o apoio português à Ucrânia, mencionando os 60 mil refugiados ucranianos recebidos por Portugal e o envio de material militar para a Ucrânia.

Se houve grandes pontos de contacto entre a Alemanha e Portugal, a ministra alemã optou por falar também daquele que mais provoca discordância entre si e Gomes Cravinho (nas reuniões dos ministros de Negócios Estrangeiros em Bruxelas os dois sentam-se ao lado um do outro, comentou, e têm por isso oportunidade para conversar mais): o fim da regra de unanimidade para decisões de política externa. “Não podemos ter decisões bloqueadas por um país, porque há, por exemplo, uma eleição regional [ou uma outra questão interna], defendeu.

Para Baerbock, seria importante que a UE pudesse tomar decisões de modo mais rápido na política externa, e para isso seria necessário a tomada de decisões por maioria qualificada. “Não acho que seja altura para teorias, é altura para resolver os problemas. Mas como fazê-lo, se não conseguimos sequer escrever um comunicado de imprensa, porque os países não concordam com a formulação?”

Questionada sobre o poder alemão poder ser desmedido, já que por vezes basta saber-se que a Alemanha é contra para não se chegar sequer a discutir-se alguns assuntos, Annalena Baerbock disse que esta questão surge também depois de a guerra na Ucrânia ter levado a Alemanha a uma postura mais humilde, porque errou muito em relação à Rússia (“Cada vez que falo com colegas dos países bálticos tenho de pedir desculpa”). Assim, para a Alemanha, a discussão sobre as decisões por maioria qualificada “também é marcada por uma auto-reflexão”.

A propósito da importância de decidir o que é justo ou injusto, Baerbock mencionou o diplomata português Aristides Sousa Mendes, falando também para a imprensa alemã, porque, reconheceu, a figura não era ainda muito conhecida no seu país.

Na parte da tarde, tinha prevista uma visita privada ao Panteão, onde está o túmulo do antigo cônsul português em Bordéus com a inscrição “Quem salva uma vida, salva o mundo”.

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