Quem são os novos secretários de Estado do Governo de António Costa?

Foram nomeados seis novos secretários de Estado na sequência do “caso Alexandra Reis”. Ambiente ganha autonomia. Ferrovia ganha peso nas Infra-Estruturas.

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António Costa nomeou os novos membros do seu executivo na sequência do "caso Alexandra Reis" Nuno Ferreira Santos

Esta quarta-feira, tomam posse dois ministros, João Galamba e Marina Gonçalves, e seis secretários de Estado. Conheça os percursos dos novos braços direitos dos ministros em áreas tão diferentes como o Ambiente, Energia, Infra-Estruturas, Tesouro, Habitação e Agricultura.

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Hugo Pires Paulo Pimenta

Hugo Pires, secretário de Estado do Ambiente

Natural de Coimbra, Hugo Alexandre Polido Pires, de 43 anos, é licenciado em Arquitectura pela Universidade Lusíada do Porto e foi na Juventude Socialista que deu os seus primeiros passos na política, tendo sido presidente da distrital de Braga da JS.

Deputado desde 2015, Hugo Pires tem exercido as funções de vice-presidente da bancada desde 2019, onde tutelou o Ambiente e a Energia, tendo sido co-autor da Lei de Bases do Clima. Foi também coordenador do grupo de trabalho que preparou a Lei de Bases da Habitação. Para além destas funções, Hugo Pires foi secretário nacional do PS com o pelouro da Organização.

No consulado do socialista Mesquita Machado à frente da Câmara de Braga, Hugo Pires ganhou notoriedade, sendo vereador responsável pela pasta do Urbanismo, da Reabilitação Urbana, da Protecção Civil e da Juventude. Mas também sofreu dissabores, tendo sido arguido no “caso das Convertidas”, processo em que esteve também envolvida a deputada socialista Palmira Maciel. Todos os vereadores do PS envolvidos viriam a ser ilibados. Já o ex-presidente da Câmara de Braga Mesquita Machado foi condenado.

Nas eleições autárquicas de 2021, liderou a lista do PS à Câmara de Braga, mas a vitória escapou-lhe, arrecadando 30,69% dos votos. Não ganhou, mas assumiu o seu lugar no executivo, sendo vereador sem pelouros.

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Ana Gouveia DR

Ana Gouveia, secretária de Estado da Energia e Clima

Do gabinete de António Costa para a Secretaria de Estado da Energia e Clima, Ana Cláudia Fontoura Gouveia é professora adjunta na Nova School of Business and Economics, onde lecciona no curso de Finanças Públicas e onde fez o doutoramento em Economia.

A futura secretária de Estado do ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, descreve-se no seu perfil na rede social LinkedIn como “economista especializada em políticas públicas e economia política”.

Em Outubro de 2019 entrou para o gabinete do primeiro-ministro, como conselheira económica e, antes disso passou (entre 2018 e 2019) pelo departamento de research do Banco de Portugal, onde desenvolveu pesquisas no campo da produtividade.

Entre 2015 e início de 2018 trabalhou no Ministério das Finanças (comandado então por Mário Centeno), onde, segundo relata, foi responsável por criar uma nova unidade destinada à avaliação do impacto de reformas estruturais.

“Também trabalhei no Ministério da Economia (em 2015), Banco Central Europeu (2008-2014) e Banco de Portugal (2004-2008)”, conta ainda a futura governante no LinkedIn.

Ao contrário de João Galamba, a futura secretária de Estado (que toma posse esta quarta-feira, às 18h) não terá a seu cargo a pasta do Ambiente, que volta a ter direito a Secretaria de Estado própria, sob o comando do até aqui deputado socialista Hugo Pires.

Ana Gouveia chega à Energia com a missão, entre outras, de continuar a reforçar a instalação no país de mais capacidade renovável – terá, por exemplo, de dirigir o primeiro leilão de capacidade eólica offshore previsto para este ano – e num momento em que os agentes do sector continuam a queixar-se dos constrangimentos nos processos de licenciamento e na dificuldade do relacionamento com entidades como a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e, sobretudo, a Direcção-Geral de Energia e Clima (DGEG).

Convencer as Finanças a libertar mais meios para reforçar os quadros destas instituições poderá bem ser um dos seus grandes desafios.

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Frederico Francisco DR

Frederico Francisco, secretário de Estado das Infra-Estruturas

Frederico Francisco, que já era adjunto de Pedro Nuno Santos no Ministério das Infra-Estruturas para a área do transporte ferroviário – coordenava o Plano Ferroviário Nacional , passa agora a ser o novo secretário de Estado das Infra-Estruturas.

Nascido em Cascais em Agosto de 1986 (tem 36 anos), a sua função abarca agora temas sensíveis como a TAP e a escolha da localização do novo aeroporto de Lisboa, além de sectores como os portos e as telecomunicações (se nada mudar face ao passado recente, como tudo indica).

Professor auxiliar convidado no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, é investigador do Centro de Física das universidades do Minho e Porto. De acordo com o despacho que o nomeou para adjunto do Ministério das Infra-Estruturas, em Novembro de 2019, Frederico Francisco tem tido “um percurso científico maioritariamente ligado às ciências do espaço, mas tem-se também dedicado à investigação em transporte ferroviário, onde participou em projectos nacionais e europeus”.

Licenciado em Ciências da Engenharia — Engenharia Aeroespacial, pelo Instituto Superior Técnico em 2008, tirou o mestrado na mesma faculdade de Lisboa, avançando depois para o doutoramento em Física, ainda no Técnico. A sua tese de doutoramento, intitulada “Anomalias de Trajectória em Sondas Interplanetárias”, recebeu o prémio Springer Theses da Springer Verlag, que a publicou em livro. Recebeu a medalha Zeldovich 2018 da Academia Russa de Ciências e a Cospar – Commission on Space Research.

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Maria Silva Rodrigues, secretária de Estado da Habitação

Maria Fernandes da Silva Rodrigues, formada em Engenharia Civil, e docente na Universidade de Aveiro, será a nova secretária de Estado da Habitação, cargo até agora ocupado por Marina Sola Gonçalves, que ascendeu a ministra da Habitação.

Licenciada em Engenharia Civil pela Universidade de Coimbra, e com doutoramento em Engenharia Civil, na Universidade de Aveiro (UA), Maria Fernandes da Silva Rodrigues tem actualmente 60 anos, e é natural de Águeda.

De acordo com a informação disponibilizada pela Universidade de Aveiro (UA), Fernanda Rodrigues concluiu o doutoramento em Engenharia Civil nesta universidade em Julho de 2018, com a tese intitulada “Estado de Conservação de Edifícios de Habitação a Custos Controlados. Índice de Avaliação e Metodologia para a Sua Obtenção”.

Professora auxiliar com agregação na UA, era desde Março de 2021 directora da licenciatura e do mestrado em Engenharia Civil.

A docente vai integrar um ministério com muitos desafios, e com reduzidos resultados no passado recente, mesmo quando, no anterior Governo de António Costa, já era um ministério, passando depois a Secretaria de Estado.

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Pedro Sousa Rodrigues DR

Pedro Sousa Rodrigues, secretário de Estado do Tesouro

Quadro da AICEP, tal como Fernando Medina, o economista Pedro Sousa Rodrigues, nascido em 1974, é o escolhido pelo ministro das Finanças para substituir Alexandra Reis na Secretaria de Estado do Tesouro.

Licenciado em Economia e com um mestrado em Ciências Empresariais, Pedro Sousa Rodrigues tem centrado a sua carreira profissional em organismos relacionados com o Ministério da Economia, tendo nos últimos anos assumido cargos de relevo no que diz respeito à dinamização da internacionalização das empresas portuguesas. Como secretário de Estado do Tesouro, irá ter como principal tarefa o acompanhamento do desempenho financeiro do Sector Empresarial do Estado, uma área que não consta ainda do seu currículo.

De acordo com uma nota curricular, o economista licenciado em 1997 pela Universidade Portucalense, iniciou a sua carreira no IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento, tendo passado pela API – Agência Portuguesa para o Investimento e tornando-se, a partir de 2007, quadro da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.

É na AICEP que se encontra agora, mas como assessor da administração, um cargo que ocupou depois da sua primeira experiência num gabinete governamental: em 2017 foi nomeado adjunto no gabinete do secretário de Estado da Internacionalização Eurico Brilhante Dias, que actualmente é o líder parlamentar do PS.

Pelo meio, foi recentemente candidato à liderança do IAPMEI, tendo sido um dos três nomes aprovados pela CRESAP, mas acabando por não ser o escolhido.

Pedro Sousa Rodrigues, ao substituir Alexandra Reis no Tesouro, será, dentro do Ministério das Finanças, o principal ponto de contacto com a TAP, no exercício da tutela da empresa em conjunto com o Ministério das Infra-Estruturas.

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Carla Pereira, secretária de Estado da Agricultura

Desde 2018, directora regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Maria Gonçalves Alves Pereira, a nova secretária de Estado da Agricultura, é licenciatura em Engenharia Zootécnica pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, tendo feito um curso avançado em Gestão Pública no ISCTE em 2020.

Trabalhou como técnica superior na Câmara Municipal de Vinhais desde 2000, tendo sido também directora do Parque Biológico de Vinhais desde 2008. Desempenhou ainda o cargo de vogal na Comissão Nacional de Coordenação e Acompanhamento do Plano Nacional para os Recursos Genéticos Animais desde Janeiro de 2018.

No seu percurso, Carla Pereira, que nasceu em Bragança a 5 de Dezembro de 1970, conta a organização de dois certames de promoção de produtos regionais, a Feira do Fumeiro de Vinhais e a Rural Castanea, tendo sido corresponsável pela execução de estratégias de turismo e de desenvolvimento rural. Foi ainda coordenadora da Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara (Ancsub) desde 1995 e secretária técnica do Livro Genealógico, por nomeação da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, em 2006, onde foi responsável por dirigir e coordenar as principais acções de valorização da raça bísara, pela elaboração de diversas candidaturas a programas comunitários, por vários processos de licenciamento industrial, na área das agroindústrias, pela execução de acções de formação profissional e pela elaboração dos cadernos de especificação do fumeiro de Vinhais e da carne de bísaro transmontano DOP.

Entre 2011 a 2014, foi representante da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), no grupo de peritos da DGagri, no comité consultivo da carne de suíno e no Comité das Organizações Profissionais Agrícolas – Comité Geral da Cooperação Agrícola da UE (COPA – COGECA), Bruxelas.

Entre 1996 e 2009, fez parte do conselho de administração da Turimonesinho, EM, Empresa Municipal de Promoção Turística de Vinhais. Entre 1997 e 1999 foi docente do Instituto Politécnico de Bragança, e entre 1993 e 1995 foi coordenadora técnica e comercial na área de Trás -os -Montes da empresa Fabrimar.

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