Quem corre por gosto também se lesiona

Correr faz bem à saúde e pode ser uma prova inequívoca de superação, mas também pode provocar lesões. O melhor é consultar um especialista antes, durante ou depois de começar o exercício físico.

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"Correr com uma lesão só serve para a perpetuar e dificulta a sua resolução" Paulo Pimenta/Arquivo

A corrida desportiva está hoje amplamente massificada, também pelas suas características particulares, por ser tecnicamente simples, sem necessidade de equipamentos complexos e com um relativo baixo custo. Mais importante, a corrida é um desporto versátil: para além de promover a saúde, permite traçar metas e objetivos. Muitas vezes, mais do que ganhar corridas, é uma prova inequívoca de superação pessoal.

Cerca de 70% dos corredores têm uma qualquer lesão decorrente desta prática desportiva ao longo de 1 ano, pelo que é essencial conhecer e prestar particular atenção a algumas lesões, que poderão assim ser evitadas ou diminuídas.

Comecemos pelo joelho do corredor, também chamado de Síndrome Patelofemoral, uma lesão de overuse (ou utilização excessiva) frequentemente causada pela assimetria muscular, bem como por más posturas na corrida. As queixas são de dor anterior no joelho, sobretudo nas descidas ou subidas mais intensas e agachamentos. Não tratada, esta patologia pode progredir e originar lesão de cartilagem da rótula, aconselhando-se a fisioterapia e a reeducação na corrida.

Mas falemos também da fasceíte plantar, que é uma das patologias mais frequentes em corredores, causada pela inflamação e o espessamento da fáscia plantar, no contexto de traumatismo de repetição no solo. Está também associada a pés com arcada plantar mais elevada, mais conhecida de todos como pé cavo. O tratamento passa por medicação e uma melhoria do calçado em associação com fisioterapia.

Outra das lesões do corredor, é a tendinite do tendão de Aquiles, que causa dor no calcanhar, geralmente matinal e no início da atividade, sendo originada pelo impacto repetido no solo, que cronicamente altera a estrutura deste tendão. São indicados a modificação de fatores externos, bem com o tratamento médico e a fisioterapia.

Quanto às canelites, podem ter lugar com o aparecimento de dor, anterior ou posterior, na perna. Geralmente decorre de sobrecarga ou aumento de intensidade de treino num curto espaço de tempo. É importante fazer um diagnóstico que possa distinguir das fraturas de stress, que também estão associadas a este tipo de quadro. A pausa desportiva, a modificação do tipo de treino, o tratamento médico e a fisioterapia reeducativa fazem parte das medidas de resolução desta lesão.

Correr também pode provocar a síndrome da banda iliotibial, que é causa frequente de dor lateral no joelho. É uma síndrome de fricção, clássica nos corredores, que causa o “espessamento” e a inflamação desta zona. Tratamento médico com anti-inflamatórios, exercícios de aquecimento e de alongamento adequados são a solução para minimizar esta lesão.

As lesões musculares representam também uma parte importante das lesões do corredor. Resultam frequentemente de episódios isolados por intensidade, sprint ou duração de treino fora do habitual. Deve ser feito tratamento dirigido com fisioterapia, assim como melhoria das técnicas de aquecimento e de alongamento para prevenção.

Finalmente, falemos das lesões por fricção que também são comuns, geralmente quando as sapatilhas são novas, e por isso é necessária a adaptação progressiva ao calçado — utilizar umas boas meias, próprias de corrida, bem como a lubrificação das áreas de maior stress mecânico. Ter dois pares de sapatilhas é aconselhado.

A postura durante a corrida, bem como o equipamento, têm um papel preponderante na prevenção de lesões. Na escolha das sapatilhas deve ter-se em conta os objetivos, a experiência e as características individuais do corredor, assim como o tipo de corrida. Não esquecer que os pés sofrem uma dilatação com o aquecimento progressivo durante a corrida, pelo que se deve utilizar sapatilhas com tamanho superior ao dos sapatos habituais, bem como com um amortecimento adequado.

A realização de um Exame Médico Desportivo regular deve ser uma rotina para quem pratica corrida, seja de lazer, amador ou profissional. Esta avaliação pode despistar inúmeros fatores que podem desencadear lesões na prática desportiva, e com isto melhorar as condições de saúde.

Os treinos de força, específicos e diversificados, podem complementar a prevenção de lesões, bem como melhorar a performance. A prática de outras atividades físicas como a natação, ginásio, bicicleta e outros, que muitas vezes também são utilizadas durante os tratamentos de lesões, para que o corredor não fique parado completamente, será a melhor maneira de contrariar as lesões de overuse.

Muitas vezes o esforço exagerado e o treino excessivo não são benéficos. O repouso é preponderante para que toda a máquina possa recuperar e ficar preparada e fortalecida para a próxima sessão. Correr com uma lesão só serve para a perpetuar e dificulta a sua resolução.

Acima de tudo, para quem corre, seja por lazer ou para ganhar provas, torna-se essencial conhecer os seus limites, ter disciplina, fazer um bom planeamento dos treinos, bons aquecimentos, alongamentos e recuperações, para que as lesões desportivas não apareçam.

Em caso de dúvida ou por precaução, o melhor é consultar um especialista, seja antes, durante ou depois de correr. Porque quem corre por gosto, também se lesiona.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990.

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