Morreu o puma P22, o “Gato de Hollywood” que conquistou Los Angeles

Era um dos felinos mais velhos dos que são seguidos nas Montanhas de Santa Mónica e era uma estrela, símbolo de como a vida selvagem pode sobreviver em meio urbano.

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O puma P22, numa altura em que foi capturado pelos cientistas em 2019, para substituir as pilhas na sua coleira GPS Santa Monica Mountains National Recreational Area

Desde que a revista National Geographic publicou, em Dezembro de 2013, uma foto do puma P22 na noite de Los Angeles com o sinal luminoso de Hollywood por trás, este grande felino tornou-se uma estrela. O “Gato de Hollywood”, como era conhecido, era seguido por 20 mil pessoas no Facebook. O Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos anunciou que teve de ser eutanasiado este mês, pois tinha vários ferimentos que indiciam uma colisão com um veículo. Tinha cerca de 12 anos, “o que é uma longa vida para um felino no estado selvagem”, diz um comunicado.

O P22 vivia na zona do Parque Griffith, em Los Angeles. Quem atravessava as montanhas de Santa Mónica, em Los Angeles (Califórnia) esperava conseguir vê-lo na zona do famoso letreiro, ou captar a sua imagem. O P22 era tão famoso que a cidade de Los Angeles tinha decidido dedicar-lhe um festival anual, ou Dia P22, a 22 de Outubro, recorda o jornal francês Le Monde.

Este era um dos felinos mais velhos dos que são acompanhados pelo Serviço Nacional de Parques na região das Montanhas de Santa Mónica. Cada felino é identificado com um “P” de puma e um número, que indica a ordem pela qual se tornaram parte do estudo. O primeiro, P001, foi capturado em 2002 para que lhe fosse colocado um emissor de GPS (e logo libertado).

Gavin Newson, o governador da Califórnia, apresentou as suas condolências pela morte deste californiano famoso. “O P22 era um ícone. A sua trajectória incrível inspirou uma nova era de conservação urbana”, afirmou, na sua conta oficial no Twitter.

Adam Schiff, membro da Câmara dos Representantes eleito pelo Partido Democrata no estado da Califórnia, disse estar “desolado” pela sua morte. “Ele era o nosso vizinho célebre preferido, ocasionalmente desordeiro, e muito amada mascote de LA. Mas sobretudo era uma criatura selvagem magnífica, que nos recordava que somos parte de um mundo natural muito maior do que nós”, escreveu no Twitter.

Qual é então a história do puma P22? A sua presença no Parque Griffith foi documentada pela primeira vez em Março de 2012, quando os cientistas lhe puseram um dispositivo GPS para poderem seguir as suas andanças. “É significativo descobrir um carnívoro de grande porte numa área tão rodeada pela urbanização. É uma prova da saúde dos sistemas naturais na zona de Los Angeles”, dizia então o ecólogo Seth Riley, citado num comunicado de imprensa do Serviço Nacional de Parques dos EUA.

Atravessou duas auto-estradas

Terá, no entanto, nascido nas montanhas de Santa Mónica e, para chegar até à zona do letreiro de Hollywood, teve de atravessar duas das auto-estradas com mais carros nos Estados Unidos – a 405 e a 101, diz o comunicado que anuncia a sua morte. Era uma super-estrela dos pumas. “Ele era Magic Johnson. Era James Dean. Uma versão felina de Brad Pitt”, entusiasmou-se no Twitter o actor French Stewart, citado pelo Le Monde.

Em Agosto de 2012 ano chegou pela primeira vez à capa do jornal Los Angeles Times, e foi frequentemente motivo de artigos, em que serviu como uma espécie de embaixador da vida selvagem num ambiente urbano – embora os 23 km2 do Parque Griffith tenham sido para ele uma ilha rodeada de auto-estradas por todos os lados, onde nunca encontrou uma fêmea com que acasalar. Embora fosse o seu território, era 31 vezes mais pequeno do que deveria ser para um puma adulto.

Ferimentos graves

Mas mesmo o super-homem tem a criptonite, ou seja, há sempre algo que trava a força dos heróis. No caso do P22, foi detectado em Novembro deste ano um comportamento invulgar, quando atacou e matou um cão que estava a ser passeado pelo seu dono pela trela. Depois deste incidente, houve vários outros avistamentos e ataques a animais de estimação em comunidades residenciais. Esta mudança de comportamento levantou a suspeita de que algo grave se passaria com a sua saúde.

Em Dezembro, biólogos do Serviço Nacional de Parques, em conjunto com o Departamento de Pescas e Vida Selvagem da Califórnia, a agência responsável pelos pumas que vivem naquele estado, capturaram o P22 na área de Los Feliz e transportaram-no para o Parque Safari e Zoo de San Diego para uma avaliação rigorosa da sua saúde. Concluíram que tinha vários ferimentos, como um trauma significativo na cabeça, olho direito e órgãos internos – condizentes com uma possível colisão com um veículo. Sofria ainda de várias doenças crónicas, incluindo problemas irreversíveis nos rins, perda de peso, uma doença parasítica em toda a pele e artrite localizada.

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Com guardas florestais e voluntários no festival P22 de 2017 Santa Monica Mountains National Recreational Area

O seu estado de saúde foi considerado tão mau, que foi tomada a decisão difícil de o eutanasiar a 17 de Dezembro, diz o comunicado.

“O P22 viveu uma vida extraordinária, e conquistou o coração de tantas pessoas em Los Angeles e noutros locais. Embora fisicamente tenha desaparecido, mostrou-nos os desafios e possibilidades da vida selvagem em Los Angeles, e estaremos a analisar estes dados durante muitos anos”, diz a nota de imprensa do Serviço Nacional de Parques dos EUA.

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