Uma visita centenária ao Bussaco n’O Dia Mais Curto (do cinema)

Agência da Curta-Metragem cumpre o décimo aniversário da iniciativa com um programa alargado a todo o país e a vários géneros cinematográficos.

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Fotograma de A Floresta do Bussaco DR

Vai já na décima edição o programa O Dia Mais Curto, com que a Agência da Curta-Metragem celebra a arte fílmica de formato curto, aquele que, afinal, esteve na origem do próprio cinema. E se a atenção maior nestes dias 21 e 22 de Dezembro está virada para a produção portuguesa contemporânea, a história do próprio cinema não é esquecida. Este ano, a Cinemateca Portuguesa volta a associar-se à iniciativa nascida em Vila do Conde através de mais uma selecção de filmes no âmbito do projecto FilMar, com o qual tem vindo a digitalizar o património cinematográfico nacional ligado à temática marítima.

Na sessão que terá lugar esta quarta-feira (21h30) na sede da Cinemateca, em Lisboa, numa selecção de sete filmes, avultam uma descoberta e dois títulos quase centenários relativos a três lugares geográficos do país. A revelação chega da Noruega, um pequeno documentário recentemente localizado na Biblioteca Nacional deste país nórdico sobre a Floresta do Bussaco.

Com realização atribuída a um pioneiro do cinema norueguês, Hans Berge, esta curta com pouco mais de 7 minutos é, diz a Cinemateca, “um documento histórico que mostra as relações sociais e com elas o que se possa supor de relações económicas – e as práticas culturais na Mata do Bussaco”, previsivelmente no final da década de 1910.

Trata-se de "um filme do qual se sabe muito pouco, nem em que circunstâncias foi realizado", diz ao PÚBLICO Tiago Bartolomeu Costa, coordenador do projecto FilMar. A fita, que apresenta já algumas cenas gastas pelo tempo, regista o quotidiano daquele lugar que, por essa altura, depois de ter deixado de ser residência da família real na sequência da Revolução Republicana de 1910, era lugar de vilegiatura da aristocracia nacional (e não só). Aí se vêem chegar homens num automóvel descapotável e crianças a brincar, em contraste com as mulheres trabalhadoras da terra, que se ocupam do transporte da lenha por entre os caminhos da mata e também de varrer o terreiro do Palace Hotel do Bussaco. Dá-se também a ver o conjunto do edifício neomanuelino, em cuja construção participou o arquitecto italiano Luigi Manini, cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos. A fita termina com rapazes, raparigas e crianças a dançar folclore, antes de um epílogo bucólico no bosque, ao final da tarde.

Depois de encontrado, recuperado e digitalizado pelos parceiros noruegueses da EEA Grants – um mecanismo financeiro do Espaço Económico Europeu, que envolve também a Islândia e o Liechtenstein –, Floresta do Bussaco foi inicialmente exibido em Outubro no Festival de Cinema Mudo de Pordenone, em Itália.

Os dois outros filmes “históricos” no programa da Cinemateca para O Dia Mais Curto são Lagoa (1929) e Docas de Lisboa (Mota da Costa, 1932), títulos também recentemente recuperados pelo FilMar, que registam o quotidiano social e laboral daquela comunidade algarvia e do trabalho nas docas da capital, em ambos os casos com intensa relação com a economia do mar.

Além da Cinemateca, e com sessões espalhadas pelo país inteiro, de Paredes de Coura a São Brás de Alportel, de Amarante aos Açores (Madalena, Pico), a agenda do 10.º O Dia Mais Curto mantém o figurino das últimas edições, com uma selecção organizada em quatro programas: Novas Curtas Portuguesas, Curtas do Mundo, Curtinhas para Todos e Amiguinhos, a contemplar diferentes géneros, públicos e faixas etárias.

Aqui fica a lista dos cinco filmes que permitem ter uma panorâmica da produção portuguesa neste formato no ano que agora chega ao fim: O Casaco Rosa, um “filme musical e político” de Mónica Santos; O Homem do Lixo, de Laura Gonçalves; e Ice Merchants, de João Gonzalez, dois filmes de animação que se encontram na corrida à nomeação para os Óscares de Hollywood nesta categoria; Aos Dezasseis, um retrato da juventude que pratica skate; e , de Margarida Vila-Nova, uma carta de despedida de um pai que sofre de cancro terminal.

O restante programa de O Dia Mais Curto pode ser visto aqui.

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