Festival de Cannes apela à “libertação imediata” da actriz iraniana Taraneh Alidoosti

Protagonista do filme Os Irmãos de Leila foi presa no sábado por ter apoiado os protestos contra o regime teocrático de Teerão.

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Taraneh Alidoosti no filme Os Irmãos de Leila DR

O Festival de Cinema de Cannes apelou esta segunda-feira à "libertação imediata" da actriz iraniana Taraneh Alidoosti, detida no sábado passado, no seu país, por apoiar os protestos dos últimos três meses contra o regime teocrático islâmico.

Num comunicado divulgado nas redes sociais, o festival salientou a sua "firme condenação" da detenção de Alidoosti e manifestou "total apoio" à actriz, "em solidariedade com a sua luta pacífica pela liberdade e pelos direitos das mulheres".

Segundo os meios de comunicação iranianos, as autoridades do país consideram que Alidoosti publicou conteúdos falsos e deturpadores e acusam-na de ter promovido motins e apoiado movimentos que o governo de Teerão apelida de "anti-iranianos".

Nascida em 1984, em Teerão, Taraneh Alidoosti ganhou vários prémios ao longo da sua carreira e foi a estrela do filme O Vendedor (Forushandeh), realizado em 2016 pelo seu compatriota Asghar Farhadi, vencedor do Óscar de Melhor Filme Internacional.

Em Julho passado, o Festival de Cannes tinha já pedido a libertação de três cineastas iranianos detidos no seu país: Mostafa Aleahmad, Mohammad Rasoulof e Jafar Panahi.

No início de Novembro, Taraneh Alidoosti juntou-se ao movimento de protesto que tem crescido no Irão desde a morte de Mahsa Amini, em 16 de Setembro, três dias depois de ter sido detida pela polícia dos costumes, acusada de violar o rigoroso código de vestuário das mulheres da República Islâmica.

A actriz prometeu ficar e "pagar o preço" necessário para defender os seus direitos e anunciou a sua intenção de deixar de trabalhar para apoiar as famílias dos mortos ou presos na repressão exercida pelas forças de segurança para travar os protestos. "Eu fico aqui e não tenho intenção de sair", disse a actriz numa publicação no Instagram, quando milhares de pessoas, incluindo figuras da cultura, já tinham sido detidas.

Esclarecendo não ter qualquer passaporte, além do iraniano, nem residência no estrangeiro, a conhecida actriz e activista dos direitos das mulheres e dos direitos humanos no Irão acrescentou: "Acima de tudo, acredito naquilo que estamos a construir hoje em conjunto".

No sábado passado, dia 17 de Dezembro, as autoridades iranianas detiveram-na, acusando-a de espalhar falsidades sobre os protestos. A detenção surgiu uma semana depois de Taraneh Alidoosti ter divulgado na rede social Instagram uma mensagem a expressar a sua solidariedade para com um homem de 23 anos recentemente executado por alegados crimes cometidos durante os protestos no país.

"O seu nome era Mohsen Shekari. Cada organização internacional que assiste a este derramamento de sangue e não age é uma vergonha para a humanidade", escreveu a actriz. De acordo com os media estatais, Alidoosti foi detida por não ter apresentado "nenhum documento que comprovasse as suas denúncias".

Shekari foi morto a 9 de Dezembro, após ter sido acusado por um tribunal iraniano de bloquear uma rua em Teerão e de ter atacado, segundo as autoridades, um membro das forças de segurança com uma faca.

Logo após a detenção de Alidoosti, celebridades e grupos de defesa dos direitos humanos começaram a apelar ao regime iraniano para que liberte a atcriz e activista. A sua detenção foi denunciada por várias organizações de defesa dos direitos humanos, como o Centre for Human Rights in Iran (CHRI), sediado em Nova Iorque, que declarou que "mulheres estão a ser presas e encarceradas no Irão por se recusarem a usar o hijab obrigatório, incluindo actrizes famosas, como Taraneh Alidoosti".

"O poder das vozes das mulheres aterroriza os governantes da República Islâmica", afirmaram responsáveis por aquela organização, citados pela AFP.

"Taraneh Alidoosti é uma das actrizes mais talentosas e reconhecidas do Irão. Espero que ela seja libertada brevemente para continuar a representar a força do cinema iraniano", escreveu o director do Festival de Cinema de Toronto, no Canadá, Cameron Bailey.

A actriz protagoniza Os Irmãos de Leila, filme de Saeed Roustayi, em exibição nas salas portuguesas, assim como O Vendedor e À procura de Elly, ambos de Asghar Farhadi, também estreados em Portugal.

Hengameh Ghaziani e Katayoun Riahi, outras duas actrizes famosas no Irão, igualmente detidas pelas autoridades por expressarem solidariedade com os manifestantes em mensagens nas redes sociais, foram já sido libertadas.

Desde a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, o Irão tem sido abalado por protestos, que se transformaram num dos mais sérios desafios ao regime teocrata do Irão, instalado pela Revolução Islâmica de 1979.

Nestes três meses de protestos, que têm sido fortemente reprimidos pelas autoridades iranianas, mais de 500 pessoas já foram mortas e pelo menos 15 mil foram detidas, segundo a organização não-governamental Iran Human Rights.

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