Papa entregou em 2013 carta de renúncia em caso de impedimento médico

Carta foi entregue por Francisco ao secretário de Estado do Vaticano após a eleição, em 2013.

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Papa Francisco EPA/RICCARDO ANTIMIANI

O Papa Francisco revelou, numa entrevista publicada este domingo, que, após ter sido eleito em 2013, assinou uma carta de renúncia para ser utilizada se um dia problemas de saúde graves e permanentes tornassem impossível o desempenho das suas funções.

Francisco, que fez 86 anos no sábado e parece estar de boa saúde, com excepção de um problema no joelho, fez o comentário numa entrevista ao jornal espanhol ABC.

O líder da Igreja Católica disse ter entregado a carta ao então secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, que vinha do anterior papado. Bertone permaneceu no cargo durante cerca de seis meses depois de Francisco ter sido eleito a 13 de Março de 2013. Foi substituído, na mesma data, pelo actual secretário de Estado, Pietro Parolin.

Francisco disse muitas vezes que se demitiria se a saúde o impedisse de dirigir a Igreja Católica, mas não se conhecia a existência desta carta de renúncia já assinada. Na entrevista ao ABC, Francisco foi questionado se acreditava que deveria ser estabelecida uma norma oficial para casos em que problemas de saúde ou um acidente impedissem um Papa.

"Eu já assinei a minha renúncia. Tarcisio Bertone era secretário de Estado. Assinei-o e disse-lhe: 'Em caso de impedimento por razões médicas ou outras, aqui está a minha renúncia. Já a têm'", disse ao ABC.

"Não sei a quem o cardeal Bertone possa tê-la dado, mas dei-lha quando era secretário de Estado", afirmou Francisco, acrescentando que o estava a revelar pela primeira vez em público.

Questionado sobre se queria que esta informação fosse conhecida, respondeu: "É por isso que lhe estou a dizer".

O Papa tem um problema de joelho inoperável, que o obrigou a usar uma cadeira de rodas nos últimos meses e, no último ano, teve de cancelar ou reduzir a sua actividade, várias vezes, devido à dor.

Numa entrevista à Reuters, em Julho, Francisco rejeitou relatos que davam conta de que a sua demissão era iminente e repetiu a sua posição frequentemente afirmada de que poderia demitir-se um dia se a falta de saúde o impossibilitasse de dirigir a Igreja – algo que tinha sido quase impensável antes de Bento XVI, agora com 95 anos, renunciar em 2013. Foi a primeira renúncia papal em seis séculos.

Desde Julho, Francisco fez três viagens internacionais – ao Canadá, Cazaquistão e Bahrein e planeia visitar a República do Congo e o Sudão do Sul entre 31 de Janeiro e 5 de Fevereiro.

Essa viagem esteve agendada para Julho, mas o problema de joelhos que aflige Francisco forçou o seu adiamento. O Papa usa uma bengala para deslocações curtas e uma cadeira de rodas para distâncias interiores mais longas.

Na entrevista ao ABC, Francisco disse acreditar que os papas Paulo VI (1963-1978) e Pio XII (1939-1958) tinham assinado cartas de renúncia semelhantes. Ambos os pontífices, no entanto, morreram durante o seu mandato.

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