Portugal assina declaração sobre mineração do mar profundo na COP15

Conferência Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica aprova criação de 17 áreas protegidas, sete das quais em zonas sob jurisdição portuguesa.

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Ilhas Desertas: nesta área ficam algumas das colónias mais importantes de aves marinhas no Atlântico

Portugal assina, juntamente com os outros países da União Europeia, uma declaração que será levada ao plenário final da 15.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica (COP15), na segunda-feira, 19 de Dezembro, em Montreal, Canadá. O documento “convida outros governos a garantir que antes de se iniciar a mineração no mar profundo, devem ser suficientemente investigados os impactos no ambiente e biodiversidade marinhos, e compreendidos os riscos”.

É uma linguagem menos ambiciosa do que a que tínhamos no documento que Portugal assinou Setembro de 2021, no Congresso Mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), em Marselha, através do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), quando apoiou o estabelecimento de uma moratória para a mineração em mar profundo. Há uma mudança de posição?

“Não há nenhuma alteração da posição, antes pelo contrário. É o facto de Portugal ter vindo a assumir uma posição clara face à mineração em mar profundo que lhe permitiu subscrever a proposta, que de resto é subscrita não só pela União Europeia”, responde, a partir de Montreal, Nuno Banza, presidente do ICNF.

O contexto dos dois documentos é bastante diferente: agora trata-se de uma declaração aprovada no quadro de uma Convenção das Nações Unidas. Em 2021 era um documento emitido por uma organização composta de entidades governamentais e da sociedade civil, embora seja uma autoridade global sobre o estado da natureza.

“Confirma-se que [a declaração] será adoptada na próxima segunda-feira, por todos os países signatários da Convenção da Diversidade Biológica, o que é um marco relevantíssimo e um compromisso com a conservação do meio marinho, que Portugal apoia sem reservas”, acrescenta Nuno Banza ao PÚBLICO.

Em jeito de balanço da participação portuguesa na COP15, o ICNF divulgou ainda que há “sete zonas sob jurisdição portuguesa” entre as 17 Áreas Marinhas Ecologicamente ou Biologicamente Significativas do Atlântico Nordeste aprovadas na conferência. Uma das metas em discussão, e das mais polémicas, é que se protejam 30% das zonas mais importantes para a conservação da biodiversidade até 2030.

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A única população da espécie de ave freira-da-madeira vive nas Desertas DR

Estas áreas foram avaliadas no âmbito dos Critérios dos Açores para identificação de áreas marinhas ecológica ou biologicamente significativas e concepção de redes representativas de áreas marinhas protegidas em oceano aberto e mar profundo. Estes critérios são: singularidade ou raridade do local e das espécies que nele habitam; especial importância para etapas do ciclo vital das espécies; importância para espécies e/ou habitats ameaçados, em perigo de extinção ou em declínio; vulnerabilidade, fragilidade, sensibilidade ou recuperação lenta; produtividade biológica; diversidade biológica e naturalidade.

Foram assim distinguidas sete áreas, uma delas com a jurisdição partilhada com Espanha.

  • Complexo Geológico Madeira-Tore – Com uma área de 197.431 km2. Inclui 19 estruturas, 17 das quais são montes submarinos, áreas de grande diversidade de vida marinha. Inclui o Banco de Gorringe, proposto como Sítio de Importância Comunitária, definido pela Directiva Habitats da Comissão Europeia como um local que contribui de forma significativa para a manutenção, recuperação e conservação de um habitat ou uma espécie, para manter a biodiversidade ou ainda para a coesão da Rede Natura 2000.
  • Desertas – Tem 455 km2, e localiza-se a sudoeste da ilha da Madeira. Tem algumas das colónias mais importantes de aves marinhas no Atlântico. Tem grandes populações de aves da ordem dos Procellariiformes, incluindo a única população de freira-da-madeira (Pterodroma deserta).
  • Complexo de dez montes submarinos Atlantis-MeteorSão centros de vida marinha e áreas de grande produtividade biológica, situado a cerca de 700 km a sul dos Açores e a cerca de 1500 km a noroeste de África. Tem uma área total de 134.079 km2, com profundidades que chegam a 4800 metros (a base do monte submarino Great Meteor) Estão ali representadas 437 espécies, sendo 16% mega e macrofauna, como tubarões.
  • Crista a sul dos Açores – Esta cordilheira submarina tem estruturas até 3460 metros de profundidade. Inclui os topos da Crista Médio-Atlântica, desde o campo hidrotermal Menez Gwen até à zona de fractura Haynes. Nesta área estão incluídas três zonas marinhas protegidas (parte da rede de Áreas Marinhas Protegidas da Convenção OSPAR, ou Convenção para a Protecção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste): os campos hidrotermais Lucky Strike, Menez Gwen e Rainbow. São locais de grande diversidade de vida marinha.
  • Graciosa – Delimita uma zona em torno da Graciosa, a ilha mais a Norte do arquipélago dos Açores, e dos ilhéus Baixo e Praia, com 277 km2 de área. É uma área crucial para a única população reprodutora da mais pequena ave marinha dos Açores, o painho-de-monteiro (Hydrobates monteiroi), e também é importante para a reprodução do frulho (Puffinus lherminieri baroli), que a Convenção OSPAR classifica como uma espécie ameaçada ou em declínio. Há muitas outras espécies de aves marinhas nestas águas.
  • Plateau a norte dos Açores – esta área estende-se sobre uma vasta área do oceano Atlântico, e ali existem múltiplos tipos de estruturas (campos hidrotermais, a Crista Médio-Atlântica e montes submarinos, que são muito distintos entre si em termos geográficos e biológicos, com diferentes composições e idades. Estes locais são pontos de grande diversidade de vida marinha. Aqui existe o primeiro campo hidrotermal na Crista Médio-Atlântica a Norte do Atlântico que se está a afastar lentamente, chamado Moytirra, o que torna esta área única, diz o documento aprovado pela COP15. Foram observadas neste área um total de 536 espécies, 6% das quais estão sob protecção da lei internacional ou regional.
  • Bancos e desfiladeiros do Oeste da Península Ibérica – Esta área abrange águas que rodeiam Portugal e Espanha, num total de 189.238 km2, e divide-se em três regiões: Noroeste da Península Ibérica, Centro-Oeste da Península e Sudoeste da Península. Aqui existem 12 desfiladeiros submarinos, cinco estruturas de montes submarinos, ilhas e um arquipélago. Existem ainda várias áreas protegidas, uma Reserva da Biosfera da UNESCO, 12 sítios da Rede Natura 2000 de Interesse Comunitário e dez Áreas de Protecção Especial para Aves Marinhas. Tem centros de grande diversidade de vida marinha, em especial organismos que vivem nos fundos marinhos. É também importante para os cetáceos.
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