O vinho certo, com o sommelier Adácio Ribeiro

O director de comidas e bebidas do hotel Vila Foz, embaixador assumido da região dos Vinhos Verdes, partilha as suas escolhas vínicas para a temporada festiva.

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Adácio Ribeiro

No hotel Vila Foz, no Porto, cujo restaurante conquistou a estrela Michelin há um ano, o elenco de vinhos tem sempre o dedo de Adácio Ribeiro, que antes de ser director de comidas e bebidas foi sommelier – e garante ter “a parte dos vinhos enraizada no sangue”. Antes do Vila Foz, fez parte da equipa vencedora da Casa da Calçada (Amarante), onde, apesar de várias mudanças de chef (sempre sob sua indicação), o galardão do famoso Guia Vermelho se foi repetindo ao longo dos anos. Nasceu e cresceu em Baião, e assume-se um embaixador do Vinho Verde, nomeadamente na missão de mudar a percepção do público, dar a conhecer a nova realidade de “vinhos mais redondos, mais gastronómicos, com mais estrutura e menos acidez”. Ponto de honra: “Nas cartas onde eu estiver, o Vinho Verde tem de estar sempre presente.”

Que vinhos sugere para fazer brilhar o bacalhau da Consoada?

Muitas pessoas ainda acham que o Vinho Verde é para o Verão e para desfrutar junto da piscina. Desengane-se quem ainda pensa assim: com a chegada ao Inverno, a região tem uma variedade enorme de vinhos que se adaptam, e muito bem, ao tempo frio. Na altura de Natal, em que o bacalhau é rei na mesa dos portugueses, são muito bem-vindos, principalmente aqueles que não tenham uma acidez demasiado marcante e com algum estágio em barrica.

O Parcela Única de Anselmo Mendes Alvarinho 2019 é, sem dúvida, um excelente vinho para estar na mesa na noite da Consoada, um vinho com muita elegância e complexidade. No palato destaca-se a acidez refrescante, ligeiro fumado terminando longo e elegante. Outro exemplo é o Pequenos Rebentos Selvagem Azal 2020, de grande potencial, com sete meses em barrica – de carvalho francês e carvalho português, usadas –, e mais cinco meses de estágio em garrafa. Quem prova não fica indiferente à sua qualidade. Cor um pouco amarelada, aroma intenso, vibrante na boca, excelente acidez.

Após o jantar, na hora da troca de presentes, que vinhos gostaria de receber?

O Santiago na Ânfora do Rocim Alvarinho 2019, da Quinta de Santiago. Apresenta cor amarelo-esverdeada. No nariz, destaque para as notas florais e de matriz mineral. Na boca revela acidez vincada, equilibrada pela componente terrosa, mas de forma elegante, estruturada e persistente, da ânfora onde fez estágio. Ou o Manoel Pedro Guedes 2019, de loureiro e alvarinho, provenientes das melhores parcelas da Quinta da Aveleda. A fermentação decorre parte em barricas de carvalho francês e outra parte em inox. O vinho estagia durante oito meses em carvalho francês.

E para brindar ao Ano Novo, o que recomenda?

No bater da meia-noite, um espumante como o Soalheiro Bruto Barrica 2017 não vai nada mal com as suas uvas passas ou sultanas. É um espumante com um carácter distinto proporcionado pelo estágio em barrica. Este vinho mostra toda a elegância e complexidade do alvarinho, com especial destaque para as suas características menos frutadas, que fazem dele uma excelente entrada de Ano Novo.

* Depoimento recolhido e editado por João Mestre


Este artigo foi publicado no n.º 7 da revista Singular.

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