Kaili sentiu-se “traída” por eurodeputados, diz advogado

Eurodeputada grega não esteve presente na primeira audiência judicial por causa de uma greve de guardas prisionais. Dois dos acusados vão permanecer em prisão preventiva.

Foto
Eva Kaili é acusada de corrupção, organização criminosa e branqueamento de capitais Reuters/European Union 2022 - Source : E

A eurodeputada Eva Kaili não compareceu à audiência judicial marcada para esta quarta-feira em que foi decidido o prolongamento da prisão preventiva para os acusados no caso de corrupção conhecido como Qatargate. O seu advogado voltou a insistir na sua inocência e disse que a política se sente “traída” pelos colegas do Parlamento Europeu.

Kaili vai ser ouvida no dia 22, mantendo-se presa pelo menos até lá. De acordo com o site Politico, a eurodeputada não pôde ser transportada para o tribunal de Bruxelas onde decorria a sessão por causa de uma greve de guardas prisionais.

Para além de Kaili, encontram-se detidos o seu companheiro, Francesco Giorgi, que é também assessor parlamentar, o secretário-geral de uma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos italiana, Niccolo Figa-Talamanca, e o ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri.

A sessão no Palácio da Justiça de Bruxelas foi fechada aos jornalistas. Um painel de três juízes determinou que Giorgi e Panzeri vão permanecer em prisão preventiva, enquanto Talamanca teve autorização para regressar a casa com pulseira electrónica.

Os quatro são acusados de envolvimento num esquema que tem o objectivo de influenciar decisões políticas no Parlamento Europeu em favor de um país do Médio Oriente a troco de subornos. Apesar de o Qatar não ser referido directamente, a imprensa belga cita fontes da investigação que assumem tratar-se do emirado. O Governo de Doha nega todas as acusações. A polícia belga realizou buscas em 19 residências e gabinetes parlamentares nos últimos dias e confiscou, no total, mais de 1,5 milhões de euros em dinheiro.

Numa conferência de imprensa, um porta-voz do Ministério da Justiça belga forneceu alguns pormenores acerca da investigação, que envolveu um trabalho de cooperação entre os serviços secretos belgas e congéneres europeias durante mais de um ano. "Durante demasiado tempo fomos demasiado ingénuos", admitiu o responsável, referindo-se à presença de operações clandestinas em território belga operadas por países estrangeiros.

O caso chocou grande parte dos líderes europeus que o consideram um duro golpe na confiança dos cidadãos na lisura das instituições europeias. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que as alegações “são muito graves” e prometeu retomar os esforços para que seja constituída uma agência independente de supervisão no âmbito da União Europeia. A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, declarou que “a democracia europeia está sob ataque”.

Na terça-feira, o Parlamento Europeu votou de forma quase unânime a favor da retirada de Kaili do cargo de vice-presidente. Antes, a eurodeputada já tinha sido expulsa do Partido Socialista grego (PASOK) e suspensa do grupo dos Socialistas e Democratas. Na agenda do hemiciclo estava programado para esta semana o debate e votação sobre a isenção de vistos para a entrada de cidadãos de vários países, incluindo o Qatar, na UE, mas acabou por ser adiado.

O advogado de Kaili disse que a eurodeputada grega se sente “traída” pelos colegas do Parlamento Europeu e voltou a defender a sua inocência. “Ela diz sentir-se traída por [restantes eurodeputados] terem feito parecer que ela tinha uma agenda pessoal com o Qatar e por terem sugerido que ela aceitou subornos”, afirmou Michalis Dimitrakopoulos em entrevista à Reuters.

“A sua posição é de que não aceitou subornos, é inocente, o Qatar não precisava dela, não precisava de a subornar e ela nada tinha a oferecer ao Qatar”, continuou o advogado.

Um discurso recente de Kaili no Parlamento Europeu, em que a eurodeputada defende o Qatar das críticas de violações de direitos laborais durante a preparação do Campeonato do Mundo, tem sido encarado de forma suspeita desde que os contornos do Qatargate se tornaram públicos.

Em Novembro, Kaili visitou o Qatar e saudou as reformas postas em prática no emirado na área dos direitos laborais, como a introdução do salário mínimo. À Reuters, Dimitrakopoulos diz que a viagem “não foi uma decisão pessoal” da eurodeputada, mas sim do Parlamento Europeu com “o acordo” da Comissão Europeia e do Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell.

Sugerir correcção
Ler 33 comentários