Satélite da NASA vai mapear toda a água da Terra a partir do espaço

Satélite é lançado esta quinta-feira e vai oferecer uma visão inédita das águas superficiais da Terra, numa missão internacional que poderá ajudar os cientistas a gerir os efeitos da crise climática.

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Reuters/US SPACE FORCE/CHRIS OKULA

Um satélite da agência espacial norte-americana NASA deverá ser lançado a partir do sul da Califórnia, nos Estados Unidos (EUA), na madrugada desta quinta-feira, como parte de uma missão internacional que pretende estudar oceanos, lagos e rios do planeta a partir do espaço. A expectativa é que esta iniciativa possa fornecer imagens inéditas de toda a água na superfície da Terra.

O novo satélite - chama-se SWOT, abreviação em inglês de Topografia da Água Superficial e Oceânica - foi desenhado para oferecer aos investigadores uma visão sem precedentes do elemento que cobre cerca de 70% do planeta. Esta informação poderá fornecer novas pistas para uma melhor compreensão sobre os mecanismos e as consequências das alterações climáticas.

Um foguete Falcon 9, detido e operado pela SpaceX (empresa do bilionário Elon Musk), está preparado para descolar na quinta-feira da base da Força Espacial dos EUA, em Vandenberg, que fica 275 quilómetros a noroeste de Los Angeles, para colocar o SWOT em órbita. Se tudo correr como previsto, o satélite do tamanho de um jipe produzirá dados científicos dentro de meses.

Desenvolvido ao longo de quase duas décadas, o SWOT incorpora tecnologia avançada de radar de microondas que, segundo os cientistas, vai permitir obter medições precisas da superfície dos oceanos, lagos, reservatórios e rios a partir de imagens de alta definição.

Mapear 90% do planeta

Os dados deverão ser compilados a partir dos dados recolhidos por radar de 90% da superfície do planeta, realizadas pelo menos duas vezes a cada 21 dias. Este manancial de informação poderá permitir não só o aperfeiçoamento de modelos de circulação oceânica e das previsões meteorológicas e climáticas, mas também da gestão de água doce em regiões afectadas pela seca hidrológica.

O satélite foi concebido e construído no Laboratório de Propulsão a Jacto (JPL, na sigla em inglês) da NASA, perto de Los Angeles. Desenvolvido pela agência espacial dos EUA em colaboração com as congéneres na França e no Canadá, o SWOT foi uma das 15 missões da NASA definidas para a próxima década.

"É de facto a primeira missão capaz de observar quase toda a água à superfície do planeta", disse Ben Hamlington, cientista da JPL que também lidera a equipa da NASA que dedica ao estudo da subida do nível do mar. Um dos principais objectivos da missão é estudar como os oceanos absorvem o calor atmosférico e o dióxido de carbono, um processo natural que regula as temperaturas globais e influencia as mudanças climáticas.

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O satélite SWOT opera na chamada frequência de banda Ka do espectro de microondas, permitindo que as varreduras não sejam "incomodadas" pelas nuvens ou pela escuridão NASA/JPL-Caltech

Capaz de mapear águas oceânicas a partir do espaço, o SWOT foi projectado para medir com precisão diferenças mínimas nas elevações da superfície à volta de correntes e redemoinhos menores, onde acredita-se que ocorra grande parte da redução de calor e carbono dos oceanos. Segundo o JPL, o novo satélite permite fazer isso com uma resolução 10 vezes maior do que a oferecida pelas tecnologias actuais.

O ponto de não retorno dos oceanos

Estima-se que os oceanos tenham absorvido mais de 90% do excesso de calor retido na atmosfera da Terra pelas emissões atropogénicas de gases de efeito estufa. Os cientistas consideram fundamental estudar o mecanismo através do qual esta absorção acontece.

Nadya Vinogradova Shiffer, cientista do programa SWOT da NASA em Washington, explica que esta compreensão poderá ajudar a responder uma pergunta crucial: "Qual é o ponto de inflexão a partir do qual os oceanos começam a libertar grandes quantidades de calor, em vez de absorvê-las, acelerando assim o aquecimento global, em vez de o limitar?"

A capacidade do SWOT de discernir características subtis de superfície também pode ser usada para estudar o impacto da subida do nível do oceano nas zonas costeiras. Dados mais precisos das zonas de maré ajudariam a prever até que ponto as inundações causadas por tempestades podem invadir o interior, bem como a extensão da intrusão de água salgada em estuários, zonas húmidas e aquíferos subterrâneos.

Os corpos de água doce são outro foco do SWOT, equipado para observar toda a extensão de quase todos os rios com mais de 100 metros, bem como mais de um milhão de lagos e reservatórios com mais de 62.500 metros quadrados.

Ao fazer um inventário detalhado dos recursos hídricos da Terra, ao longo de três anos de missão, o SWOT permitirá uma melhor monitorização das flutuações nos rios e lagos do planeta durante as mudanças sazonais e eventos climáticos relevantes.

Um satélite à prova de nuvens

Tamlin Pavelsky, responsável da missão para o estudo da água doce, afirmou que esta recolha de dados vai ser como "tomar o pulso do sistema de água do mundo". "Vamos poder ver quando está a fluir e quando não está", observa.

O instrumento de radar SWOT opera na chamada frequência de banda Ka do espectro de microondas, permitindo que as observações não sejam "incomodadas" pelas nuvens ou pela escuridão. Isso abre caminho para que os cientistas obtenham mapas com precisão e em duas dimensões, independentemente do clima ou hora do dia, abrangendo grandes áreas geográficas muito mais rapidamente do que antes.

Antes, os estudos da água planetária dependiam de dados obtidos em pontos específicos, como medidores de rios ou oceanos, ou de satélites que só podem rastrear medições ao longo de uma linha unidimensional, exigindo que os cientistas extrapolassem dados para preencher as lacunas. "Ao invés de nos dar uma linha de elevações, o SWOT dá-nos um mapa de elevações - e isso muda tudo", disse Pavelsky.

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