Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo protesta contra decisão da DGArtes

Excluída dos apoios bienais apesar de ter merecido do júri uma pontuação de 76%, companhia abre portas esta quarta-feira para mostrar o seu trabalho, com “tristeza e indignação”.

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ADRIANO MIRANDA

A Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo (CPBC) vai abrir as portas ao público na quarta-feira para "exprimir indignação", através da dança, na sequência da sua exclusão da lista de entidades contempladas com apoios bienais da Direcção-Geral das Artes (DGArtes).

Esta foi a forma de protesto escolhida pela companhia criada há 24 anos pelo coreógrafo Vasco Wellenkamp e pela bailarina Graça Barroso para denunciar uma decisão que deixa a CPCB "numa situação muito difícil", segundo afirmou a direcção à agência Lusa.

A iniciativa foi anunciada nas redes sociais Facebook e Instagram com o título "Nós cá dentro - Manifesto pela dança - Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo". O encontro decorrerá a partir das 19h30 de quarta-feira, na Rua do Açúcar, número 31, em Lisboa, seguido de um espectáculo gratuito.

Os dez bailarinos da companhia irão mostrar o seu trabalho e também "tristeza e indignação" perante a decisão dos concursos do Programa de Apoio Sustentado da DGArtes, antecipou à Lusa o director-geral da companhia, Vasco Wellenkamp.

Homologados os resultados dos concursos na área da dança, 12 entidades com nota acima de 70%, elegíveis para apoio, foram excluídas por falta de verba, entre elas também a Companhia Clara Andermatt, de Lisboa, o Quórum Ballet, da Amadora, e o Ballet Contemporâneo do Norte, de Santa Maria da Feira.

Face a esta situação, a direcção da CPBC decidiu criar um "manifesto vivo" de repúdio, convidando o público a conhecer a casa onde a estrutura trabalha diariamente, e um espectáculo único e gratuito, às 20h30, para "partilhar a dança" com os interessados.

"Nós contestámos [o resultado] mas os nossos argumentos não foram acolhidos. Dizem que não criamos projectos mais experimentais, e que o nosso projecto não cabe no modelo, mas somos uma companhia com repertório que tem feito digressões na Europa, com salas cheias, e ainda este ano estivemos no Centro Cultural de Belém e na Gulbenkian para apresentar um espectáculo de homenagem pelo centenário de Amália", argumenta o coreógrafo.

Director da Companhia Nacional de Bailado entre 2007 e 2010, Vasco Wellenkamp iniciou-se na dança em 1961, nos Bailados Verde Gaio, e ingressou no Ballet Gulbenkian, em 1968, tendo estudado na Escola de Dança Contemporânea de Martha Graham, em Nova Iorque.

O antigo professor-coordenador da Escola Superior de Dança de Lisboa sustenta que a CPBC "tem provas dadas em muitos palcos, nacionais e estrangeiros, com excelentes bailarinos, que se estão a perder, porque querem sair de Portugal", devido à falta de apoios.

"Nos últimos dois anos tivemos apoio, mas foram situações pontuais que foram resolvidas por causa da pandemia", recordou, acrescentando que ficou impossibilitado de concorrer aos apoios quadrienais, por não ter sido aceite a candidatura na DGArtes.

Vasco Wellemkamp diz não querer desistir da companhia, que já passou por maus momentos, nomeadamente a partir de 2010, quando quase se extinguiu, vindo a receber apoio mecenático da Allianz Portugal a partir de 2018.

No entanto, o fundador da CPBC diz que este apoio "não é suficiente para pagar os salários de dez bailarinos de uma companhia que tem uma equipa com 14 pessoas", a trabalhar num edifício da Câmara Municipal de Lisboa, onde paga uma "renda simbólica".

"Tenho esperança de que ainda surja alguma decisão que reverta esta situação", manifesta o responsável desta companhia que obteve no concurso uma pontuação de 76,54%, conforme os mapas divulgados pela DGArtes.

Na quarta-feira, os bailarinos vão apresentar excertos de várias obras do repertório da CPCB, "num ambiente íntimo e preparado ao pormenor pelos braços dos bailarinos e técnicos que acompanham os espectáculos".

Além de peças de Vasco Wellenkamp, serão revisitadas outras dos coreógrafos Margarida Belo Costa, Miguel Ramalho, Benvindo Fonseca, Beatriz Mira & Tiago Barreiros.

Na última semana, a DGArtes revelou a lista final de estruturas contempladas com apoios bienais e quadrienais no Programa de Apoio Sustentado 2023/2026 para a área da Dança, sem alterações em relação aos resultados provisórios.

Serão apoiadas nesta área 19 entidades, 11 na modalidade quadrienal (na qual foram admitidas a concurso 12 candidaturas), com 9,28 milhões de euros, e oito na modalidade bienal (na qual foram admitidas 21), com 1,56 milhões de euros.

Durante o período de audiência de interessados, sete candidaturas tinham contestado os resultados provisórios, de acordo com fonte da DGArtes, em resposta a questões enviadas pela Lusa.

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