Chefes de equipa de serviços de urgência: generais sem soldados!

É absolutamente essencial criar equipas fixas, dedicadas e especializadas de médicos nos serviços de urgência.

Nestes últimos dias assistimos ao grito de desespero de várias dezenas de médicos com responsabilidades de chefia de serviços de urgência (SU). Um grito que significava: não temos condições. Na verdade, um grito comum entre diversos trabalhadores de vários setores.

Portanto, numa primeira impressão, banal ou vulgar. Não fora, neste caso, essa denúncia desesperada significar que os doentes urgentes (potencialmente, todos nós) não têm, alegadamente, as condições mínimas para serem tratados e as garantias de qualidade de serviço médico ou de segurança que estas dezenas de médicos experientes, e com responsabilidades no sistema, entendem que serão as necessárias para si e, principalmente, para os doentes.

Este alerta, que tem vindo a subir de tom e de magnitude, não pode “cair em saco roto”. É grave demais. Só o simples conhecimento da sua existência (e esse é, agora, inegável) “queima” (ou devia queimar) as mãos de quem tem responsabilidades técnicas nesta matéria.

Mas de que se queixam, afinal, estas dezenas de chefes e diretores de urgência? De falta de médicos nas suas equipas! Em número e diferenciação para poderem responder às necessidades dos doentes urgentes! São generais sem soldados ou com magalas indiferenciados!

Para além de todas as medidas que se impõe adotar para melhorar o funcionamento do sistema de urgência e emergência, nomeadamente ensinando a população a atuar em casos de situações menos graves e a utilizar a linha de apoio do SNS24; revendo os fluxos de decisão e criando alternativas de direcionamento dos doentes que ligam para o SNS24; capacitando os cuidados de saúde primários para melhor capacidade resolutiva de situações menos graves; criando na dependência dos SU hospitalares áreas especificas para doentes de menor prioridade; alterando o paradigma do INEM de transportar sempre para um SU; implementando a “urgênciação domiciliária”; e adaptando as estruturas físicas dos SU às necessidades atuais, é absolutamente essencial criar equipas fixas, dedicadas e especializadas de médicos nos SU.

Sobre este último ponto, importará lembrar que algumas dezenas de médicos que constituem a Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos irão votar (e decidir) brevemente a criação da Especialidade de Medicina de Urgência. Um processo que dura há cerca de 20 anos e que continua a desesperar chefes de equipa e diretores de urgência (e doentes a correr riscos), os generais continuam sem exército e o problema continua a agravar-se…

São essas dezenas de médicos que podem contribuir para a resolução de um problema que, sendo dos Serviços de Urgência, é de dez milhões de portugueses.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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