Há 17 urgências com “via verde” para encaminhar doentes não urgentes para centros de saúde

Caso aceitem, doentes triados como pouco urgentes ou não urgentes são encaminhados pelos hospitais para consultas nos centros de saúde, que deverão realizar-se num prazo de 24 horas.

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Nas últimas semanas, muitas urgência registaram um aumento da procura Ricardo Lopes

Perto de duas dezenas de hospitais já têm a funcionar a “via verde ACES”, que permite reencaminhar caso estes aceitem doentes triados como pouco urgentes ou não urgentes para consultas nos centros de saúde, que deverão realizar-se num prazo de 24 horas. Esta é uma das medidas que fazem parte do plano de Inverno do Ministério da Saúde, que esta terça-feira reuniu com todos os hospitais com serviço de urgência da região de Lisboa e Vale do Tejo, e que tem como objectivo aliviar a pressão que tem recaído sobre as urgências hospitalares.

Este reencaminhamento dos doentes que recorrem à urgência com situações menos graves para os centros de saúde já existia, mas o objectivo da equipa liderada por Manuel Pizarro é intensificá-la. Com a “via Verde ACES”, caso aceitem, os doentes são referenciados para os centros de saúde “com data e hora previamente definida (próximas 24 horas)”, disse o ministério no comunicado em que faz o balanço da reunião com os hospitais.

A medida, a par do alargamento do horário dos centros de saúde, foi considerada central pelas instituições que estiveram reunidas com o ministério. Para já, existem 17 hospitais com esta opção a funcionar e que estão coordenados com 27 agrupamentos de centros de saúde (Aces), avançou o Expresso. Segundo informação do Ministério da Saúde enviada ao PÚBLICO, 19 Aces são área da Administração Regional de Saúde do Norte e oito da de Lisboa e Vale do Tejo.

Assim, com esta medida já activa estão os centros hospitalares Lisboa Central, Lisboa Norte, do Oeste, de Trás-os-Montes e Alto Douro, do Médio Ave, do Tâmega e Sousa, do Porto, Póvoa de Varzim/Vila do Conde e de Entre o Douro e Vouga. Assim como os hospitais de Guimarães, Garcia de Orta (Almada), de Santarém, de Braga, Santa Maria Maior e as unidades locais de saúde do Alto Minho, de Matosinhos e do Nordeste.

No encontro entre o ministro e vários dirigentes hospitalares, e que serviu para fazer um ponto da situação sobre a implementação do plano de Inverno, foram também abordadas as dificuldades sentidas nas urgências.

Falhas no encaminhamento

O Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi um dos mais pressionados, tendo atingido no fim-de-semana tempos médios de espera para as pulseiras amarelas (urgentes) superiores a dez horas. Esta terça-feira, a situação era “mais tranquila”, mas a unidade continuava a registar “uma afluência grande às urgências”, disse ao PÚBLICO o director da urgência João Gouveia. “Temos alguma dificuldade em escoar os doentes, pois são mais complexos, precisam de mais tempo de internamento e é mais difícil conseguir vagas”.

“Precisamos da colaboração dos outros hospitais para drenar os doentes de volta” às unidades das suas áreas de referência. Um processo nem sempre fácil, justificado pela falta de camas, que também acaba por atingir este hospital.

Por ser um hospital de fim de linha, o Santa Maria recebe, além dos doentes da sua área de influência, outros doentes que precisam de cuidados mais diferenciados. Os encaminhamentos têm acontecido de forma “muito mais frequente”, o que eleva a pressão, explicou, referindo que entre sábado e domingo tiveram mais 100 doentes na urgência do que o habitual e só 40% eram da área directa de influência do hospital.

Mas João Gouveia alertou também para falhas no processo de encaminhamento. A “maior parte das vezes, os doentes não são triados”, disse, dando como exemplo doentes transportados pelos bombeiros que “vêm directamente para o Santa Maria”, sabendo que há hospitais na área que pediram desvios ao INEM.

“Na minha opinião, há um problema de controlo no acesso ao sistema de saúde. As urgências só deveriam ter doentes referenciados”, disse, considerando que deve existir uma entidade seja o SNS24 ou outra que sirva de porta de entrada quer para as urgências como para a marcação de consultas. E, continuou, é preciso dar solução às cerca de 40% de pessoas que recorrem às urgências mas que não entram na classificação de casos urgentes.

“Tiveram algum problema que as fez deslocar à urgência. Temos de saber qual o problema e dar solução. Isto passa por dar mais médicos de família e meios de diagnóstico na comunidade, numa verdadeira medicina de proximidade”, apontou. Quanto aos hospitais, “têm de ter consultas de diagnóstico rápido e mais de hospital de dia”, disse, reforçando a necessidade “haver uma melhor facilidade de comunicação entre as diferentes estruturas”.

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