Nova coligação da esquerda espanhola ainda não existe mas já rouba votos ao PSOE e à direita

Se os partidos à sua esquerda concorrerem juntos roubam votos ao PSOE, mas aumentam as suas hipóteses de ficar no poder. Eleitores dos vários partidos de esquerda querem Yolanda Díaz como candidata.

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Yolanda Díaz esteve em Portugal no final de 2020 Rui Gaudencio

As próximas eleições legislativas espanholas ainda não têm data – serão entre Novembro e 10 de Dezembro de 2023 –, mas os seus resultados podem depender em grande parte de como se irão organizar as várias esquerdas à esquerda do Partido Socialista. A acreditar numa sondagem que o jornal El País descreve como “o primeiro estudo de opinião profundo sobre as distintas opções que estão a ser consideradas neste campo”, para a direita não regressar ao poder será fundamental que as várias formações se unam sob a bandeira Sumar, a plataforma lançada pela vice-presidente do Governo, Yolanda Díaz.

O paradoxo, como nota o diário espanhol, que encomendou este estudo à agência de investigação 40dB, é que ao unir o conjunto das esquerdas, a Sumar roubaria votos ao PSOE de Pedro Sánchez – ao mesmo tempo que dificultaria o objectivo da direita de o derrotar e regressar ao poder.

Com todos estes partidos (Podemos, Esquerda Unida, Más País e Sumar) a candidatarem-se sozinhos, os socialistas conquistariam 104 lugares no Congresso; se se apresentassem em conjunto, o PSOE já só conseguiria eleger 96. Ao mesmo tempo, no conjunto, socialistas e as quatro formações de esquerda concorrendo isoladas poderiam eleger 136 deputados; se a soma for apenas entre PSOE e o conjunto da esquerda com a marca Sumar, o resultado sobre para 153 lugares.

Na prática, não são os apoios de uns e de outros que mudam, mas o sistema eleitoral beneficia as grandes formações e prejudica os pequenos partidos. De acordo com as contas do estudo realizado por encomenda do El País e da rádio Cadena Ser, sob a liderança de Díaz – que o ex-líder do Podemos, Pablo Iglesias, escolheu como sucessora quando deixou o Governo (e depois a política) – estas quatro forças somariam até 57 deputados, mais 19 do que os conquistados pelo mesmo espaço político nas últimas eleições gerais, em 2019.

Os efeitos destas duas opções na direita também são claros: se houver uma candidatura conjunta, a soma do Partido Popular, Cidadãos e extrema-direita do Vox seria 159. Mas caso todas as forças de esquerda se apresentam sozinhas, a direita já poderia chegar aos 171, muito perto dos 176 que garantem a maioria absoluta.

Os eleitores de esquerda espanhóis não têm grandes dúvidas e a maioria dos que votam à esquerda do PSOE quer poder votar numa lista unida e liderada por Díaz, enquanto os votantes socialistas preferem, ainda que por curta margem (42% para 39%), ver o seu partido a governar em coligação do que sozinho – isto num país durante décadas marcado pelo bipartidarismo e onde a ideia de coligação de governo pareceu assustar durante muito tempo os dirigentes das tradicionais formações de poder, o PSOE e o PP.

“Acredito que Sumar vai ser o segredo de uma nova coligação progressista”, afirmou a vice-presidente e ministra do Trabalho, questionada pelos jornalistas sobre este barómetro. Tendo em conta que sua plataforma “não é ainda uma oferta eleitoral” (e até já afastou a possibilidade de se apresentar às eleições locais, de Maio), afirma-se “surpreendida” com os resultados. Os dirigentes do Podemos têm pressionado Díaz para que defina os seus planos eleitorais e se assuma como candidata.

Depois de Iglesias a escolher para lhe suceder no Governo e no espaço político então representado pela denominação Unidas Podemos (que juntara o Podemos à Esquerda Unida e a pequenas formações), Díaz prosseguiu o caminho que iniciara anos antes, em busca de um novo movimento agregador das esquerdas. Há pouco mais de um ano, reuniu mulheres de várias esquerdas para lançar um debate e em Maio registou uma plataforma política chamada Sumar, descrevendo este termo como lema e não como nome final do projecto.

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