Mito: Portugal é um país pequeno, então a luta pelo clima não depende de nós

Portugal emite mais toneladas métricas de dióxido de carbono do que a média mundial. O combate à crise climática exige um esforço colectivo de mitigação e adaptação.

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Portugal está longe de ser dos principais poluidores à escala global, mas isso não significa que esteja isento no combate à crise climática Reuters/FABIAN BIMMER

Costuma pensar-se que, apesar de as mudanças no clima afectarem tanto as nações desenvolvidas como os países em desenvolvimento, o combate à crise climática é um combate dos países ricos, dado que só estes possuem os meios, tanto tecnológicos como financeiros, para investir em infra-estruturas que protejam os cidadãos mais vulneráveis e, por outro lado, implementar políticas que permitam inverter um cenário que já vem sendo catastrófico para o planeta.

A categoria “países ricos” é uma em que Portugal muitas vezes não é incluído. Há, portanto, quem pense que o nosso país pouco ou nada pode fazer para ter um papel minimamente decisivo na mitigação da crise climática — e que, por sermos um país pequeno, a quantidade de gases com efeito de estufa (GEE) que emitimos é relativamente irrelevante. Além disso, Portugal não está no top10 de países que mais poluem:

Não sendo mentira que os países mais ricos têm mais responsabilidades do que os restantes (no sentido em que são os que mais contribuem com emissões e devem não só reduzir drasticamente as suas emissões de GEE, como também apoiar as nações especialmente susceptíveis a eventos climáticos extremos), a ideia de que Portugal é um país demasiado pequeno para ajudar a salvar o planeta ou ter de se preocupar com as suas emissões não corresponde à verdade.

Comecemos por analisar alguns números. Segundo dados de 2020 das Nações Unidas, Portugal é o 110.º país com a maior área (91.590 quilómetros quadrados). Não se trata, de facto, de uma nação geograficamente extensa (Portugal cabe 180 vezes dentro da Rússia, que ocupa o primeiro posto do ranking), mas da lista fazem parte 235 países e territórios dependentes. Portugal está, ainda que não por muito, acima da média.

Portugal é também, de acordo com o Banco Mundial, a 89.ª nação mais populosa do mundo (10.344.802 habitantes, segundo o censo de 2021), estando quase 30 lugares acima do meio da tabela. Não é, portanto, um país “demasiado pequeno”.​

Eis um dado ainda mais significativo: novamente segundo o Banco Mundial, Portugal emitiu 4,84 toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2) per capita em 2018. Dizer isto equivale a dizer que, nesse ano, cada indivíduo residente no nosso país emitiu em média 4,84 toneladas métricas de CO2. À escala planetária, foram emitidas, no mesmo espaço de tempo, 4,48 toneladas métricas de CO2 per capita. Ou seja: Portugal polui (ou, pelo menos, poluía em 2018) mais do que a média.

O combate à crise climática exige um esforço colectivo — sobretudo nos países que necessitam de reduzir as suas emissões de CO2 e outros GEE. É um exercício de adaptação, que passa, por exemplo, pela aposta em energias renováveis e por uma eliminação gradual do recurso aos combustíveis fósseis. A noção de que não há nada que Portugal possa fazer para ajudar ou de que as escolhas do país são indiferentes é, portanto, um mito.

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