Grupo Wagner saqueia diamantes em África para vender na Europa

Grupo russo tem ligações a uma rede de empresas que opera desde 2018 na República Centro-Africana, vendendo pedras preciosas para o continente europeu.

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Centro de tecnologia do grupo Wagner inaugurado em Novembro, em São Petersburgo Reuters/IGOR RUSSAK

O grupo paramilitar russo Wagner, liderado por Evgueni Prigozhin, está a saquear diamantes na República Centro-Africana (RCA) para depois os vender para a Europa, através de empresas de fachada, revelou na sexta-feira uma investigação internacional.

Este trabalho conjunto de investigação, realizado pela European Investigative Collaborations, o projecto All Eyes on Wagner e o Dossier Centre, denunciou que a empresa Diamville opera como um braço de Wagner na República Centro-Africana.

Através de uma rede de empresas, com ligações ao grupo Wagner, a análise detalhada explica que uma especialista em diamantes mudou-se para a República Centro-Africana em Setembro de 2018, onde avaliou as pedras preciosas e posteriormente as colocou à venda na sua rede social Facebook.

A Diamville, empresa alvo da investigação, foi inscrita no registo comercial da República Centro-Africana em Março de 2019 e tornou-se um “escritório de exportação de ouro e diamantes autorizado por decreto do Governo” em Outubro de 2019.

O email no registo aponta para um número de telefone russo e duas contas em duas redes sociais associadas a este contacto. A página do Facebook, explica a investigação, pertencia anteriormente a um utilizador chamado “Lanadiamanter”.

Nesse perfil, cuja primeira publicação é de Janeiro de 2020, havia fotos de diamantes à venda, além de fotos pessoais de uma mulher que foi identificada como Svetlana Troitskaia, que gosta de ponto cruz e desportos.

Troitskaia, além de engenheira especializada em física de diamantes, já trabalhou em diversas empresas e chegou a leccionar na Russian State University for Geological Prospecting (MGRI), segundo dados fornecidos no seu perfil na rede social LinkedIn.

Nesta plataforma, a própria Troitskaya garante que, de Agosto de 2018 a Agosto de 2021, desenvolveu um “projecto de negócios” na Rússia e em África através de uma empresa internacional, que não cita.

O seu papel, ainda segundo Svetlana Troitskaia, é valorizar os diamantes e oferecer suporte tecnológico para as suas operações de transformação, exportação e importação.

Segundo apurou este consórcio de jornalistas, o responsável pela Diamville tem nacionalidade centro-africana e chama-se Bienvenu Patrick Setem Bonguende, motorista de Dimitri Sitii, conhecida figura russa que tem ligações ao grupo Wagner na capital do país, Bangui.

Outra informação extraída da investigação é que a empresa centro-africana Bois Rouge, dedicada à extracção de madeira, e ligada ao grupo de mercenários na República Centro-Africana, foi registada no mesmo dia que a Diamville.

A sua directora, Anastasie Naneth Yakoima, é amiga de Patrick no Facebook.

A investigação ‘regressa’ a Troitskaya para revelar que esta aparece numa fotografia ao lado de Dimitri Sitii, e também de um dos principais assessores políticos de Prigozhin, Evgeny Kopot, em Lobaye, região no oeste do país onde o líder do grupo Wagner tem várias empresas, como a Lobaye Invest.

Os documentos recolhidos pela investigação mostram que Troitskaia viajou de Moscovo para Bangui, através de Casablanca, em Setembro de 2018, quando trabalhava para a Russian Service K LLC, empresa de propriedade de Yana Nikitina e que ocupa vários cargos de recursos humanos em diferentes empresas ligadas a Prigozhin.

As provas recolhidas apontam que Troitskaia aparece em documentos que formam uma rede de empresas ligadas ao grupo Wagner, incluindo a M-Finance, para garantir o seu emprego durante o mês em que trabalha como avaliadora de diamantes naquele país africano.

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