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Uma folha de papel em branco tornou-se o símbolo dos protestos na China

As manifestações contra a política “covid zero” têm alastrado no país e são usadas folhas de papel como forma de protesto. “O papel branco representa tudo aquilo que queremos dizer, mas não podemos”

Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os manifestantes levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
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Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os manifestantes levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter

Os manifestantes chineses começaram a usar folhas de papel em branco em protesto contra as restrições impostas pelo Governo para conter os casos de covid-19. Uma demonstração rara de dissidência pública, que passou das redes sociais para algumas das principais ruas e universidades da China.

Imagens e vídeos que estão a circular online mostram estudantes universitários em cidades como Nanjing e Pequim a segurar folhas de papel em branco como protesto silencioso, uma técnica usada, em parte, para fugir à censura e prisão.

A China mantém-se agarrada a uma rígida política de “covid zero”, ao mesmo tempo que grande parte do mundo tenta coexistir com o vírus.

A última onde de indignação foi desencadeada por um incêndio num apartamento que vitimou dez pessoas na quinta-feira, 24 de Novembro, em Urumqi, uma cidade no extremo oeste onde algumas pessoas estavam confinadas há 100 dias, alimentando a ideia de que as medidas de confinamento teriam impedido a fuga de moradores.

De acordo com testemunhas, em Xangai, a multidão que se reuniu na noite de sábado numa vigília à luz das velas em homenagem às vítimas de Urumqi, ergueu folhas de papel em branco. Em diferentes pontos de protestos na Universidade de Tsinghua e ao longo do 3.º anel rodoviário da cidade, junto ao rio Liangma, foi possível avistar várias pessoas a segurar as folhas de papel em branco

“O papel branco representa tudo aquilo que queremos dizer, mas não podemos”, disse Johnny, 26 anos, que participou na manifestação junto ao rio Liangma. “Vim cá homenagear as vítimas do incêndio. Espero mesmo que possamos pôr um fim a estas medidas da covid-19. Queremos ter uma vida normal novamente. Queremos ter dignidade.”

Um vídeo amplamente partilhado, que se diz ser de sábado, mas que não pôde ser verificado, mostra uma mulher sozinha nos degraus da Universidade de Comunicação da China, na cidade oriental de Nanjing, com um pedaço de papel na mão, antes de um homem aparecer e o arrancar da mão.

Outras imagens mostram dezenas de pessoas nos degraus da Universidade com folhas de papel em branco, iluminadas pelas lanternas do telemóvel, em contraste com o céu nocturno. Mais tarde, foi possível ver um homem a repreender a multidão. “Um dia vão pagar por tudo o que fizeram hoje”, disse ele, em vídeos vistos pela Reuters. “O Estado também terá de pagar pelo que fez”, responderam algumas pessoas.

É raro que pessoas se juntem em protestos na China, onde o espaço para a dissidência foi praticamente erradicado pelo presidente Xi Jinping, forçando os cidadãos a desabafar nas redes sociais, onde jogam “ao gato e ao rato” com a censura.

Em Hong Kong, em 2020, activistas também levantaram folhas de papel em branco em manifestações para evitar slogans proibidos pela nova lei de segurança nacional da cidade, imposta após protestos maciços e por vezes violentos no ano anterior. Em Moscovo, os manifestantes também já usaram, este ano, as folhas de papel para protestar contra a guerra da Rússia com a Ucrânia.

Um morador de Pequim com o apelido Wang, que se juntou aos seus vizinhos no sábado para pressionar as autoridades locais e libertar o seu apartamento da quarentena, descreveu a sua tristeza ao ouvir os “desastres secundários” consequentes da política covid-19.

Wang referiu-se a incidentes que provocaram indignação nas redes sociais, incluindo uma mulher que abortou após ter sido impedida de entrar num hospital em Xian, em Janeiro; um acidente mortal em Guizhou, com o autocarro que transportava pessoas em quarentena; e um menino em Lanzhou que morreu envenenado por gás durante o confinamento. “Tudo isto podia ter-me acontecido a mim ou à minha mulher”, contou à Reuters.

No WeChat e no Weibo, vários utilizadores mostraram, na internet, solidariedade ao publicar fotos em branco, simulando a folha de papel, ou fotos deles mesmos segurando folhas de papel em branco, do WeChat ou Weibo. Na manhã de domingo, a hashtag “exercício papel branco” foi bloqueada na plataforma Weibo, levando os utilizadores a lamentar a censura. Um deles publicou: “Se temem uma folha de papel em branco, são fracos.”

Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Uma mulher levanta uma folha de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Uma mulher levanta uma folha de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Uma cidadã segura uma vela, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Uma cidadã segura uma vela, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Cidadãos seguram folhas de papel em branco em Shangai. Os cidadãos seguram folhas de papel em branco durante um protesto contra as medidas da Covid-19, no seguimento de um incêndio mortal em Urumqi.
Cidadãos seguram folhas de papel em branco em Shangai. Os cidadãos seguram folhas de papel em branco durante um protesto contra as medidas da Covid-19, no seguimento de um incêndio mortal em Urumqi. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar.
Vigília em Pequim em homenagem às vitimas do incêndio em Urumqi. Os cidadãos levantam folhas de papel branco, enquanto se reúnem para a vigília e protestam contra as restrições criadas para a Covid-19, à medida que o número de casos continua a aumentar. REUTERS/Thomas Peter