Ucrânia prepara-se para novos ataques contra o sistema energético

Volodymyr Zelensky e o secretário-geral da NATO dizem ter a certeza de que a Rússia voltará a visar as infra-estruturas energéticas do país. Kiev pede mais armas ao Ocidente.

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O telemóvel como lanterna durante um corte de energia em Kiev EPA/OLEG PETRASYUK

As falhas no abastecimento de electricidade e água continuam a verificar-se em todo o território ucraniano, com especial impacto em Kiev, onde às 17h já é noite cerrada e só as velas ajudam a iluminar a escuridão que se instala. Depois do último ataque da Rússia ao sistema energético do país, na semana passada, 40% da região da capital ainda está sem luz.

E enquanto a empresa pública de energia aplica cortes programados (que chegam a durar 10 ou 12 horas) e tenta reparar os danos causados na rede a contra-relógio, os ucranianos mentalizam-se de que pode ser apenas uma questão de horas até à próxima vaga de mísseis russos atingir as infra-estruturas básicas.

“Enquanto eles tiverem mísseis não vão parar, infelizmente”, disse no domingo à noite o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que acrescentou “ter a certeza” de que a Rússia está a preparar um novo ataque. Segundo a porta-voz da região militar Sul da Ucrânia, Natalia Homeniuk, há pelo menos 11 navios de guerra russos no mar Negro e alguns no mar de Azov prontos a disparar contra alvos ucranianos.

Com essa ameaça a pairar, Kiev pressiona novamente os aliados para que forneçam mais armas e mais modernas. “A impunidade alimenta a arbitrariedade. O agressor tem de sentir o preço de cada próximo passo”, escreveu no Twitter um dos mais proeminentes assessores de Zelensky, Mikhailo Podoliak, pedindo aos países ocidentais que “acabem com o tabu” sobre o fornecimento de mais armas. Cerca de uma hora antes, o Reino Unido anunciara o envio de um novo sistema de mísseis para a Ucrânia.

Em Bucareste, onde participará numa reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, o secretário-geral desta organização concordou que a Ucrânia precisa de apoio militar continuado. “Devemos estar preparados para novos ataques”, afirmou Jens Stoltenberg. “O mais provável é que a guerra termine em algum momento à mesa das negociações, mas o resultado dessas negociações depende totalmente da situação no campo de batalha. A nossa missão é dar apoio à Ucrânia”, acrescentou.

Por outro lado, o responsável da Aliança Atlântica sublinhou a necessidade de os Estados-membros aumentarem os seus gastos em Defesa, tendo em conta que o fornecimento de armas a Kiev está a desequilibrar os arsenais dos países que as enviam. “Os investimentos em Defesa são essenciais no contexto em que enfrentamos a maior crise de segurança de uma geração”, disse Stoltenberg.

O anúncio britânico relativo ao novo envio de armamento coincidiu com a visita da primeira-dama ucraniana a Londres, onde acusou a Rússia de incluir a violência sexual generalizada “no seu arsenal” de guerra. Olena Zelenska também pediu ao Reino Unido que “reconheça a Federação Russa como um Estado terrorista”, com a “esperança de que todo o mundo fará o mesmo”.

O Parlamento Europeu aprovou na semana passada, por larga maioria, uma resolução que declara a Rússia como “Estado patrocinador do terrorismo”. Trata-se de uma decisão simbólica, sem efeito prático, uma vez que uma declaração desse tipo compete a cada Estado-membro. A votação gerou debate na opinião pública, incluindo em Portugal, mas Zelensky e Zelenska saudaram-na como exemplo de “não ter medo de chamar um criminoso pelo que é”.

Na frente de batalha, os progressos de parte a parte têm sido muito limitados. As Forças Armadas ucranianas tomaram Kherson a meio de Novembro e, desde então, a guerra na região faz-se sobretudo com ataques mútuos de artilharia que têm provocado mortes e feridos entre a população civil.

A Leste, as atenções concentram-se agora em redor de Bakhmut e Avdiivka, localidades que se mantêm em mãos ucranianas na região de Donetsk. Ambas têm sido bombardeadas incessantemente pela artilharia russa desde o Verão, mas as incursões terrestres não foram até agora bem-sucedidas, sobretudo porque a tropa ucraniana se entrincheirou em redor de Bakhmut e das cidades próximas nos últimos meses.

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