Angola marca cimeira em Luanda para tentar travar conflito no Leste da RD Congo

Os Presidentes Félix Tshisekedi e Paul Kagame e o ex-Presidente Kenyatta participam em encontro convocado por João Lourenço. Combates com os rebeldes do M23 fizeram 90 mil novos desalojados num mês.

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Voluntários preparam uma refeição para os deslocados na escola primária de Kayembem, perto da cidade de Goma DJAFFAR SABITI/Reuters
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Deslocados na escola primária de Kayembem, perto da cidade de Goma DJAFFAR SABITI/Reuters
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Militares quenianos em Goma. Quénia aprovou o envio de 900 homens para a capital provincial do Norte-Kivu Reuters/ARLETTE BASHIZI

O Presidente angolano, João Lourenço, convidou os seus homólogos da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, e do Ruanda, Paul Kagame, para um encontro nesta quarta-feira em Luanda, com o objectivo de abordar o regresso dos combates entre o Exército congolês e o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23).

A Presidência angolana acrescentou que também foi convidado o ex-Presidente queniano, Uhuru Kenyatta, que trabalha como mediador para o conflito da Comunidade da África Oriental (EAC), de acordo com a agência estatal angolana Angop.

O encontro terá entre os seus principais objectivos a aprovação de um Plano de Acção para a Paz na RDC e a resolução de disputas diplomáticas entre Kinshasa e Kigali, que estiveram no centro de vários conflitos nos últimos meses em torno da situação no Leste da RDC.

O Presidente angolano realizou recentemente uma visita à RDC e ao Ruanda para se encontrar com os seus homólogos, no âmbito dos esforços de mediação liderados por Luanda, que se juntam aos trabalhos da EAC para procurar uma solução para a situação e restabelecer relações de boa vizinhança entre os dois países.

Nas últimas semanas, o Quénia enviou militares para a província do Norte-Kivu (Leste), no âmbito de uma missão da EAC para tentar combater os rebeldes. Em breve, devem juntar-se a este contingente soldados do Uganda, de acordo com Kampala.

O M23 é acusado de levar a cabo ataques contra posições do Exército da RDC no Norte-Kivu desde Novembro do ano passado, sete anos depois de ter sido alcançada uma trégua entre as duas partes. Os especialistas das Nações Unidas acusam o Uganda e o Ruanda de apoiarem os rebeldes, embora ambos os países neguem qualquer envolvimento.

O conflito gerou uma crise diplomática entre a RDC e o Ruanda, país acusado por Kinshasa de apoiar o M23, embora Kigali rejeite estas afirmações e acuse o seu vizinho por alegado apoio ao movimento rebelde das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR).

Desespero entre quem foge

A organização não-governamental World Vision disse que, perante o agravamento da crise humanitária causada pelo conflito, desde 20 de Outubro foram registados 90 mil novos desalojados que chegaram a acampamentos “já a abarrotar” — no total já superavam os 234 mil a 15 de Novembro, de acordo com a Lusa, citando as Nações Unidas.

“As famílias que fugiram estão num estado desesperado. Precisam de alimentos, água limpa, quase não têm roupa para trocar e amontoam-se em salas de aulas e igrejas, com acesso limitado a casas de banho”, disse a directora da ONG no país africano, Aline Napon.

“Numa situação destas, os rapazes e as raparigas ficam extremamente vulneráveis à fome, doenças, à violência sexual e a perderem-se”, alertou, antes de pedir um “acesso humanitário seguro às comunidades afectadas e um aumento rápido dos abastecimentos de emergência”.

Eloisa Molina, directora de comunicação da World Vision Espanha, sublinhou que estas ajudas “devem incluir alimentos, assistência em dinheiro, kits de água, saneamento e higiene, incluindo recipientes para transportar e armazenar água, sabão e pensos menstruais básicos”.

Bahati Fifi Ngurizira, uma mulher desalojada por causa dos combates, disse que teve de fugir depois de um tiroteio na zona em que vivia. “Sair ao exterior era aterrador, mas sabia que ficar à espera era mais perigoso. Os disparos não paravam, por isso acordei os meus filhos e disse-lhes que era hora de correr”, contou a mulher, grávida do seu sexto filho e que teve de caminhar 35 quilómetros de Rugari até Kanyarucinya, no território de Nyiragongo.

A World Vision sublinhou que a sobrelotação dos acampamentos, que carecem de instalações sanitárias necessárias durante a temporada de chuvas, deixou as comunidades afectadas expostas a surtos de doenças, como a cólera ou a disenteria.

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