Maizum traz para o presente três tragédias clássicas do Século de Ouro português

Na 7.ª edição dos Clássicos em Cena, há leituras encenadas de A Vingança de Agamenom, A Tragédia do Príncipe João e A Castro. É já esta segunda-feira, na Sá da Costa, em Lisboa.

Foto
Ensaio para a Comedia Aulegrafia, estreada em Julho PEDRO SOARES

No ano em que o Teatro Maizum celebrou o seu 40.º aniversário e levou finalmente à cena, com êxito, a Comédia Aulegrafia de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515/1525-1585), em catorze sessões no claustro do Convento da Graça, em Lisboa, chega a hora dos anuais Clássicos em Cena, com leituras encenadas de peças quinhentistas. De novo no seu “palco” habitual, a galeria da Livraria Sá da Costa, ao Chiado, em Lisboa, a 7.ª edição traz-nos desta vez, como anuncia o Maizum, as “três únicas tragédias portuguesas conhecidas do nosso Século de Ouro: A Vingança de Agamenom de Anrique Aires Vitória, a Tragédia do Príncipe João de Diogo de Teive, e a Castro de António Ferreira. A primeira sessão é esta segunda-feira, às 19h, prolongando-se os Clássicos em Cena até domingo, dia 27.

Realizada em Novembro, com também vem sendo hábito, a 7.ª edição dos Clássicos em Cena começa com a leitura encenada de A Vingança de Agamenom, às 19h, seguindo-se, às 20h, uma tertúlia com José Pedro Serra (CEC/ULisboa), Júlio Martín da Fonseca (Univ. Aberta) e Silvina Pereira (CEC/ULisboa), encenadora e directora artística do Maizum. As sessões seguintes realizam-se no mesmo horário. Dia 23, quarta-feira, à leitura encenada d’ A Tragédia do Príncipe João (19h) segue-se uma tertúlia (às 20h) com Nair Nazaré Castro Soares (CECH/FLUC/UCoimbra), Paulo Lages e Silvina Pereira. E no dia 25, sexta-feira, será a vez de A Castro (19h), participando na tertúlia (20h) Márcio Ricardo Coelho Muniz (Univ. Federal da Bahia), Guilherme Filipe (CET/ULisboa) e Silvina Pereira. Por fim, no dia 27, sábado, será apresentada na Festa dos Clássicos esta trilogia em sessões contínuas: A Vingança de Agamenom (17h), A Tragédia do Príncipe João (18h) e A Castro (19h). A fechar, como tem sido tradição, haverá “tertúlia e iguarias”, com actores e espectadores.

Foto
Os actores Susana Sá e Júlio Martín num ensaio PEDRO SOARES

A interpretação destas três tragédias está a cargo dos actores e actrizes Andreia Valles, Carolina Cunha e Costa, Eduardo Frazão, Guilherme Filipe, Guilherme de Bastos Lima, Isabel Fernandes, Jan Rodrigues, João Didelet, João Ferrador, Júlio Martín, Lita Pedreira, Luzia Paramés, Margarida Rosa Rodrigues, Maria Ribeiro, Marta Kaufmann, Miguel Vasques, Paulo Lages, Silvina Pereira, Sofia Carô, Teresa Faria e Tiago de Almeida.

No texto que anuncia esta edição dos Clássicos em Cena, Silvina Pereira escreve que estas peças são “três obras dramáticas que constituem o corpus trágico clássico português”. E se, acrescenta, “Anrique Aires Vitória resgata a herança teatral greco-latina, Teive oferece-nos um tema nacional coevo, um drama colectivo que atinge o lugar mais central do coração da nação, e Ferreira os amores trágicos de Pedro e Inês vividos à beira do Mondego”.

A tragédia de Diogo de Teive, escreve Silvina, “abre com o perigo e a morte iminente” e essa morte não é apenas física, mas engloba os destinos de um reino moribundo. “À beira da morte, foi-se toda a formosura do jovem príncipe”, diz Silvina. “A princesa, em fim de tempo de gestação, impedida de ver o esposo amado, chama por ele. O gemido pungente da parturiente não obtém resposta. E, porque ‘as coisas humanas são incertas na sua ambiguidade’, na ficção, como na vida, ‘o Príncipe, segurança única da pátria, está atacado de grave doença e vai morrer’. Nesta tragédia não são somente as personagens individuais a serem atingidas, é o próprio reino, cujo destino fica identificado com o malogrado príncipe. Teatro, Morte e Vida, inscritos no género trágico. O ‘caso’ colectivo em cena.”

Foto
Silvina Pereira PEDRO SOARES

A insistência na dramaturgia clássica, em particular nas comédias e tragédias quinhentistas, de que o Maizum tem feito bandeira ao longo da sua existência como companhia teatral, é aqui de novo sublinhada por Silvina: “Neste mar revolto do nosso tempo, assistimos atónitos ao ‘desvairado confronto dos mundos’, e, enquanto isso, os textos clássicos teimam em sobreviver, resistindo e dialogando com o nosso presente.” Talvez por isso ela reafirme, sem hesitação ou dúvida: “O Teatro Clássico Português é um legado único, um património que devemos conhecer e revisitar. Dar-lhe palco e espectadores.”

Para 2023, finda mais esta edição dos Clássicos em Cena, o Teatro Maizum anuncia quatro actividades: em Março, o lançamento da Comédia Eufrosina e da Comédia Ulysippo de Jorge Ferreira de Vasconcelos, na versão cénica de Silvina Pereira; em Julho, a estreia em palco da Tragédia do Príncipe João, de Diogo de Teive, encenada por Silvina Pereira; em Outubro, mais uma edição do Laboratório de Teatro Clássico Português; e em Novembro a 8.ª edição dos Clássicos em Cena, também na Sá da Costa e desta vez com uma trilogia vicentina: Auto da Festa (1528), Auto da Feira (1528) e Auto da Lusitânia (1532).

Sugerir correcção
Comentar