Pela primeira vez, mulheres árbitras vão apitar num Mundial de futebol: “Merecemos estar aqui”

Salima Mukansanga, Yoshimi Yamashita e Stephanie Frappart vão estar presentes no Qatar, país que tem sido criticado pela posição perante os direitos das mulheres e das pessoas LGBT+.

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Salima Mukansanga, Yoshimi Yamashita e Stephanie Frappart Reuters

Nas vésperas do arranque do polémico Mundial do Qatar, falar da presença de mulheres árbitras no campeonato quase que pode parecer mentira. A verdade é que, pela primeira vez na história, um mundial de futebol vai contar com a presença de mulheres na arbitragem. No anúncio de Maio deste ano, que revelava quais os 36 árbitros seleccionados, estão presentes os nomes da ruandesa Salima Mukansanga, da japonesa Yoshimi Yamashita e da francesa Stephanie Frappart.

Pode parecer contraditório ou até irónico num país onde ser mulher “é como ser menor a vida inteira” estarem presentes, pela primeira vez, três mulheres a arbitrar um campeonato do mundo de futebol masculino. Para além das três, a brasileira Neuza Back, a mexicana Karen Diaz Medina e a norte-americana Kathryn Nesbitt compõem a equipa dos 69 árbitros assistentes. Mas quem são estas três árbitras pioneiras?

Não é a primeira vez que a japonesa Yamashita Woshimi, de 36 anos, arbitra um torneio mundial. Em 2019, estreou-se no mundial de futebol feminino, em França e, dois anos depois, apitou o jogo entre os Estados Unidos e a Suécia dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Em entrevista ao The Guardian, admitiu nunca ter pensado que fosse possível arbitrar jogos masculinos, não tendo o campeonato do mundo nos seus objectivos. Ainda assim, vê a sua presença no Mundial, sendo mulher e japonesa, como uma responsabilidade e promete “dar o seu melhor”. Acrescenta ainda que “o facto de as mulheres estarem a arbitrar pela primeira vez num Campeonato do Mundo masculino é um sinal para outras pessoas de que o potencial das mulheres está sempre a crescer”. “Isso é algo que também sinto com muita força”, concluiu.

Dado o contexto de crítica em relação aos direitos e liberdades no Qatar, Yamashita Woshimi vê a presença das mulheres na arbitragem como meio de encorajar uma mudança de atitudes no país. “Quase não há árbitras no Médio Oriente, pelo que gostaria de ver essa mudança, tendo o Campeonato do Mundo do Qatar como catalisador”, afirmou, quando questionada se se sentia em conflito sobre a arbitragem num país como o Qatar. Como árbitra, espera que a presença de mulheres em eventos deste tipo seja normalizado: “Por isso, o que está a acontecer no Qatar precisa de continuar. Sinto uma certa pressão para ganhar a confiança de todos.”

Também Salima Mukansanga, do Ruanda, e Stephanie Frappart, de França, arbitraram no mundial de futebol feminino de 2019. No entanto, Mukansanga, quando era jovem, tinha como sonho jogar basquetebol. O rumo foi outro e desde 2012 que a ruandesa é árbitra na FIFA, tendo marcado presença também no ano passado nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Já Frappart, para além do campeonato do mundo, também arbitrou a final da Supertaça da UEFA, em 2019. Em 2020, tornou-se a primeira mulher a arbitrar um jogo da Liga dos Campeões.

“Estamos aqui porque merecemos estar aqui”, ressalvou Mukansanga à Reuters, em Doha, esta sexta-feira. “Não é uma mudança ou porque somos mulheres.” A árbitra assistente Kathryn Nesbitt afirmou também à mesma agência que, como árbitras no Qatar, sentem que fazem parte de “uma equipa de árbitros, sem diferença entre homens e mulheres”.

À Reuters, o presidente do Comité de Árbitros da FIFA Pierluigi Collina esclareceu que as árbitras não irão enfrentar “restrições baseadas em motivos culturais ou religiosos em jogos envolvendo nações conservadoras como o Irão, Arábia Saudita ou Qatar”. Collina acrescentou ainda que, apesar de ser “algo novo” e atrair o interesse e a atenção, as três “não estão aqui porque são mulheres, estão aqui porque são árbitras de jogo da FIFA”.

O Mundial do Qatar arranca este domingo. O país tem sido criticado, entre muitos outros aspectos, pela posição perante os direitos das mulheres e das pessoas LGBT+.

Texto editado por Amanda Ribeiro

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