Como opinar sem discutir?

A maneira de aproximar pessoas, e de abrir o coração, é manifestar, com as palavras, mas sobretudo com a atitude, que estimamos, a sério, a pessoa com quem conversamos.

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"A exaltação fecha o coração e bloqueia a inteligência" Jason Rosewell/Unsplash

Na Bíblia, no Livro dos Provérbios lemos: “Começar uma contenda é como abrir um dique: afasta-te antes que ele rebente.”

Há várias maneiras, e muito eficazes, e por isso muito desaconselháveis, de começar uma discussão:

  1. “Mas porque é que falas com essa cara de mete-nojo?” ou “Quando te tornares inteligente, então hei-de ouvir o que estás a dizer.” — É o ataque verbal à pessoa. Muito eficaz.
  2. O silêncio. Simplesmente ignorar. Fazer de conta que o outro nem sequer falou. Isso faz-lhe saltar a tampa e fazê-lo gritar.
  3. “Mas quem julgas tu que és? O que é tu sabes sobre isso?” — É desvalorizar o outro. Quanto maior o desrespeito, mais violenta a resposta.
  4. “O teu gesto até foi bonito, mas está-se mesmo a ver o que queres com isso.” — É a táctica de atribuir más intenções. Irrita muito.
  5. Humilhar em público. Quando o ataque é em público, o ignorar, o desrespeito, o juízo sobre intenções funcionam muito mais, mesmo usando palavras mais subtis. A censura pública pede sempre resposta para defesa da honra.

Estes cinco ingredientes são um “pack piripíri” que põe a arder qualquer conversa.

Discutir ou não discutir, eis a questão

Cada um de nós sabe muito sobre aquilo a que se dedica. Sabe sobre o seu trabalho. Sabe sobre a família próxima. Sabe sobre os hobbies. As nossas opiniões sobre trabalho, família e hobbies têm valor. Ou têm até muito valor. Por isso custa muito que nesses temas outros venham contradizer-nos, ou venham pedir que justifiquemos. Dar opinião pode, por isso, tornar-se uma corrida de obstáculos. O nosso instinto não ajuda porque teima em só oferecer o “subir de tom.”

Desistir de dar opiniões, não é o caminho. Mais: muitas vezes é obrigatório dar opinião. E em contextos difíceis: com colegas, em reunião de partilhas, em reunião de condóminos. Um cristão também não pode fugir de dar a sua opinião como cristão. E hoje em dia é difícil não ter de opinar contra a corrente. Que fazer então?

O primeiro passo é rever como é que lidamos com as opiniões dos outros. Usamos o “pack piripíri”? Ou tentamos antes o “pack airbag”?

O “pack airbag” das discussões

No “pack airbag” vamos encontrar várias ideias decisivas. O outro vale mais do que as suas opiniões. Uma ideia pode desiludir-me, mas isso não é motivo para me desiludir com aquele que a pronuncia.

Se uma opinião me parece absurda e estúpida é melhor evitar dizer “isso não faz sentido nenhum” ou até “isso é completamente estúpido”. É preferível tentar perguntar: “Podes explicar um pouco melhor?”, ou “Como é que se consegue encaixar o que tu acabaste de dizer com os factos a, b e c, ou com a opinião que diz x ou y?”.

A troca de opiniões está feita para aproximar da verdade as pessoas que dialogam, não está feita para que um lado vença por KO, ou aos pontos, o outro. Se numa conversa deixámos o outro entre a espada e a parede, sem uma saída airosa, poderemos ter ganho a discussão mas perdido o interlocutor.

Não tem por que ser um fracasso ficar com a sensação de não ter ganho um debate. É suficiente que tenhamos dito coisas valiosas com uma atitude honesta e respeitadora. As ideias valiosas costumam ser sementes que de início parecem mortas, mas depois, quando menos se espera, rebentam e crescem vertiginosamente.

À verdade chega-se mais com o coração do que com a inteligência. Ora, a exaltação fecha o coração e bloqueia a inteligência. O melhor mesmo de uma troca de opiniões não é a aproximação das ideias mas a aproximação das pessoas. E a maneira de aproximar pessoas, e de abrir o coração, é manifestar, com as palavras, mas sobretudo com a atitude, que estimamos, a sério, a pessoa com quem conversamos.

Qualquer assessor de comunicação aconselha a não perder a calma, manter a serenidade e sorrir. Porque assim funciona. O cristão quando fala da sua fé, também nas redes sociais, não deve perder a calma nem a compostura nem o respeito, mas não porque o diga um assessor de comunicação. A razão é mais profunda e é mais exigente.

Tudo o que a fé cristã é, fala de um Deus bom, que pensou em cada um como a melhor mãe pensa no seu filho. Ou seja, a verdade da fé, é, no seu núcleo, uma verdade que fala de bondade, e de bondade em grau supremo. As opiniões de um cristão devem, pois, espelhar sempre essa bondade em grau supremo. E quando olha para o interlocutor pode olhar para a versão melhorada desse interlocutor. Um olhar assim, atrai o outro para essa melhor versão de si mesmo. Assim sempre fizeram os pais e as mães.

Com acerto disse G.K. Chesterton: “Há a figura do grande homem que faz cada outro homem sentir-se pequeno. Mas o verdadeiro grande homem é aquele que faz cada outro homem sentir-se grande.”

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