A violência tomou conta da campanha?

Teresa de Sousa assina, a partir dos EUA, uma crónica diária até à próxima terça-feira, dia das eleições intercalares norte-americanas.

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“Pelosi é uma traidora, é culpada de traição. Jurou proteger a América e dá ajuda e conforto aos nossos inimigos, que ilegalmente invadem a nossa terra. É um crime que deve ser punido com a pena de morte – é o que traição significa.” Estas palavras foram ditas por Marjorie Taylor Greene​ em 2020. Podiam ter sido ditas agora. A congressista da Georgia tornou-se famosa graças às suas tiradas em que o extremismo só é equiparável à ignorância. Foram recordadas a propósito do assalto a casa de Nancy Pelosi em São Francisco, que feriu gravemente o marido. Sabemos que o assaltante, munido de martelos e de cordas, visava a speaker da Câmara dos Representantes, a terceira figura do Estado. “Onde está Nancy?” Se, em vez do martelo, tivesse uma arma de fogo as consequências teriam sido, provavelmente, outras. Nas suas próprias palavras, a sua intenção era raptar e torturar Nancy Pelosi. Se ela não confessasse a “verdade”, começaria por partir-lhe os joelhos. Alimentou-se de teorias conspirativas que circulam nas redes sociais e atribuiu-se a si própria uma “missão suicida” contra Pelosi e outros políticos democratas. Pelosi é particularmente odiada entre os republicanos. Talvez pelo seu desassombro, determinação e capacidade para manter a disciplina na bancada democrata da câmara.

O problema é que, nos dias de hoje, as tiradas de Marjorie Taylor Greene​ são banais. A linguagem violenta tomou posse do Partido Republicano. Não foram poucos os seus candidatos que não hesitarem em gozar com o assalto à casa de Pelosi. Por vezes, com enorme grosseria. Estamos, definitivamente, no domínio do “vale tudo”. Com ou sem razão, nunca se falou tanto em “guerra civil”. O ataque ao Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, paira sobre a campanha eleitoral. Intimidação, ameaça, violência verbal tornaram-se a moeda corrente nestas eleições. As palavras têm consequências.

E nem vale a pena dizer que é uma tendência comum aos dois extremos dos dois partidos. Não é. Por uma razão simples. O Partido Republicano mudou de natureza e é hoje, maioritariamente, o “Partido de Trump”, uma forma de extremismo que tem pouco ou nada que ver com o velho partido conservador. Do outro lado, o Partido Democrata continua a ser maioritariamente de centro-esquerda moderado, com uma minoria radical.

Faltam cinco dias para as eleições. Onde está a sonho americano?

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