Crise energética leva empresas a reduzir horários através de layoff

Prestações pagas pela Segurança Social por causa de layoffs baixaram até Setembro face ao que acontecia em 2021, mas há mais casos em que as empresas estão a reduzir os horários.

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O têxtil é um dos sectores onde as empresas têm recorrido ao layoff, segundo a CGTP Nelson Garrido

O aumento dos encargos com a energia, a diminuição das encomendas e os constrangimentos nas cadeias de abastecimento das matérias-primas estão a levar algumas empresas a reduzir os horários dos trabalhadores através do regime tradicional do layoff como forma de obterem poupanças neste momento de forte inflação, em particular na factura energética, escreve o Jornal de Notícias na edição desta terça-feira.

As estatísticas mais recentes publicadas pelo gabinete de estratégia e planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social mostram que, ao longo deste ano, até Setembro, o número de prestações pagas a trabalhadores com uma redução do horário de trabalho tem superado, em vários meses, o número de casos registados em 2021, ano ainda fortemente marcado pela pandemia.

De Janeiro a Setembro, isso aconteceu em seis dos nove meses. Só em Abril, Julho e Setembro é que houve menos trabalhadores com uma redução do horário de trabalho face aos mesmos meses do ano passado.

A CGTP confirma que a redução de horário “é uma situação que se tem vindo a agravar”, como referiu ao JN a sindicalista Andrea Araújo Doroteia, da comissão executiva da Intersindical. A representante da central sindical disse ao mesmo jornal haver mais relatos de dificuldades na região Norte, “nomeadamente nas empresas cerâmicas, têxteis, de calçado e de agro-alimentar”.

Em Maio, havia perto de 9800 trabalhadores com horário reduzido, o que comparando com os cerca de 4000 de Maio do ano passado representa um aumento superior a 5700; em Junho, havia mais de 6300 pessoas nesta circunstância, aproximadamente mais 2170 do que no período homólogo; já em Julho aconteceu o inverso, com 6600 pessoas nesta modalidade, menos 4200 do que em Julho de 2021, mês em que se verificara um pico; entretanto, em Agosto, o número manteve-se acima dos 6000 (houve uma redução mensal para cerca de 6300, mas isso representou praticamente uma duplicação face a Agosto de 2021); em Setembro verificou-se uma nova quebra, com o número de pessoas em layoff com redução de horário a passar para cerca de 2300, o que compara com 8900 em Setembro do ano passado, redução que, segundo o JN, se deve à caducidade de processos de layoff, findos em Agosto.

Apesar das variações mensais, o número acumulado de prestações de layoff concedidas pela Segurança Social através desta modalidade chega aos 52.875 entre Janeiro e Setembro, quando, no mesmo período do ano passado, esse total estava nos 44.291.

Já fazendo a conta ao número de beneficiários totais de layoff — somando os casos de redução de horário de trabalho com aqueles em que a modalidade do layoff é a suspensão temporária da prestação do trabalho —, o total de beneficiários é inferior ao de 2021: até Setembro são 59.646, quando nos nove primeiros meses do ano passado chegavam aos 76.182.

Este número corresponde à soma das prestações mensais pagas pela Segurança Social, que financia uma parte da retribuição. O número efectivo de trabalhadores é inferior, porque algumas das prestações em causa dizem respeito aos mesmos trabalhadores, que se encontram nesta circunstância em mais do que um mês. Para se ter uma ideia, no conjunto dos 12 meses de 2021, houve 39.674 trabalhadores em layoff.

Em Setembro deste ano havia 103 empresas com layoff, sendo que em Janeiro, Fevereiro e Março o número era superior.

Irregularidade nas encomendas

Ao JN, o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado, contou haver empresas que, sendo grandes consumidores de energia e enfrentando uma quebra nas encomendas, decidiram reduzir o número de dias de actividade para conseguirem baixar os custos. Essa realidade, diz, é visível nas empresas com unidades de acabamento de produtos têxteis.

Também a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) fez saber ao Jornal de Notícias que a redução de encomendas, o cancelamento de entregas, bem como a “irregularidade” que se está a assistir nos abastecimentos de matérias-primas estão a condicionar a actividade das empresas.

O indicador mais recente relativo ao clima económico, medido pelo INE com base em inquéritos aos empresários, está em queda – houve uma redução entre Agosto e Outubro que, segundo o instituto estatístico, reforça “o movimento descendente iniciado em Março” (o mês seguinte ao início da invasão da Ucrânia pela Rússia). “Os indicadores de confiança da indústria transformadora, da construção e obras públicas, do comércio e dos serviços diminuíram relativamente a Setembro”.

Já os “saldos das expectativas dos empresários sobre a evolução futura dos preços de venda aumentaram significativamente em Setembro e Outubro no comércio e na indústria transformadora, embora situando-se ainda em níveis inferiores aos máximos das séries observados em Março e Abril, respectivamente”. O saldo “diminuiu nos serviços e de forma ligeira na Construção e Obras Públicas, permanecendo em níveis inferiores aos máximos atingidos em Abril e Junho”, refere o INE na última síntese sobre os inquéritos de conjuntura às empresas e aos consumidores.

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