Períodos longos e intensos não são “normais” — mas não se fala sobre isso

A menorragia é uma condição clínica que afecta cerca de um quarto das mulheres. Anemia, fibróides, endometriose, infecção pélvica ou doenças hemorrágicas são alguns dos problemas que pode causa.

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Períodos intensos podem levar a problemas de saúde para jovens mulheres Oana Cristina/Unsplash

Muitas de nós não fazem ideia se o nosso período é ou não “normal”. Não é de admirar, pois não só todos são diferentes, como o estigma continua a impedir-nos fazer perguntas ou falar com amigos e familiares sobre o que passamos todos os meses.

Mas há fenómenos como o excesso de sangramento. De facto, cerca de um quarto das mulheres sofre de uma condição clínica conhecida como menorragia, ou seja, o seu período menstrual é anormalmente pesado ou prolongado. Aqui está o que precisas de saber sobre esta condição.

O que se considera um período intenso?

Geralmente, durante um período considerado “normal”, as mulheres perdem entre 70 ml a 80 ml de fluido (o equivalente a cerca de dois expressos duplos). Cerca de 50% desse fluido é sangue. Mas as pessoas com hemorragias menstruais fortes podem perder cerca de 160 ml a 400 ml de fluido (um pouco menos de meio litro).

Os sintomas mais comuns de um fluxo menstrual demasiado intenso são:

  • Sangrar para lá dos pensos ou tampões a cada uma a duas horas;
  • Menstruação dura mais de sete dias;
  • Coágulos de sangue com mais de 2,50 centímetros.

Os períodos intensos são maus?

Apesar de ser muito comum, a maioria das mulheres com esta condição nem sequer se apercebe que a tem. Muitas até assumem que têm um período “normal”. Mas esta forma de pensar pode ser um problema, uma vez que uma hemorragia menstrual intensa pode por vezes ser um sinal de um problema subjacente, como fibróides, endometriose, infecção pélvica ou doenças hemorrágicas. Um dispositivo intra-uterino (DIU) recentemente colocado pode também causar temporariamente hemorragias intensas.

Cerca de dois terços das mulheres com menorragia também sofrem de anemias por deficiência de ferro.

Quando menstruamos, perdemos os glóbulos vermelhos que são essenciais para transportar oxigénio (uma fonte de energia) por todo o corpo. Se sangrarmos muitos todos os meses, perdemos mais do que o normal.

A anemia pode demorar algum tempo a desenvolver-se, mas pode causar uma série de sintomas que terão consequências importantes na vida diária de uma mulher.

Ter a pele ou lábios pálidos são sinais físicos reveladores. Além disso, uma pessoa com anemia também pode sentir-se mais cansada do que o normal, irritável, tonta, confusa e até deprimida. A anemia também pode causar dores de cabeça, nevoeiro cerebral, aumento do ritmo cardíaco e até perda de peso.

O que se fazer?

Se suspeitares que podes ter menorragia, é importante falares com o médico o mais depressa possível. O diagnóstico pode demorar até vários meses após a primeira visita ao médico de clínica geral, por isso é importante não adiar.

Ir à consulta já com alguma informação é sempre útil. Por exemplo, é bom ter uma ideia de quanto sangue costumas perder, quer usando copos menstruais para medir o volume ou contabilizando quantos produtos higiénicos usas em cada ciclo.

Manter um diário menstrual ou usar uma aplicação de monitorização também podem ajudar, assim como saber se há outras mulheres da família com esta condição. Se não o tiveres feito, é provável que o médico te peça para fazeres estas coisas durante alguns meses antes de te diagnosticar.

O médico poderá ainda prescrever certos medicamentos que podem diminuir o fluxo, como a pílula ou ácido tranexâmico (que controla a hemorragia e ajuda nos coágulos sanguíneos). Também podem ser necessárias opções cirúrgicas caso a condição seja causada por outro problema, tal como fibróides.

Se suspeitares que podes ter anemia, é igualmente importante contabilizar cuidadosamente os sintomas, especialmente antes e depois do período menstrual. Muitas doenças comuns, como ansiedade, tosse, gripe e alergias alimentares, têm sintomas que se sobrepõem à anemia por deficiência de ferro, por isso é importante pedires ao médico uma análise ao sangue, pois estas análises dirão se estás ou não anémica.

Se te for diagnosticada anemia, podem ser-te prescritos suplementos de ferro para ajudar o corpo a gerar novos glóbulos vermelhos. Uma dieta saudável e equilibrada contendo alimentos ricos em ferro, como carnes vermelhas, grão-de-bico, feijão, verduras e nozes, também podem ajudar.

Porquê receber ajuda?

Como muitas mulheres com menorragia sabem, muitas vezes demora demasiado tempo a terem a ajuda que necessitam. Isto pode significar anos de sofrimento desnecessário, com esta condição a afectar tudo, desde a vida pessoal, escolar, desportiva e até profissional. Aquelas que desenvolvem anemia, como resultado, irão experimentar ainda mais efeitos ao nível da saúde física e mental.

É por isso que é necessário haver muito mais abertura e educação sobre a saúde da mulher. Isto não significa apenas falar mais sobre o que é e o que não é normal quando se trata de períodos. Significa também garantir que os prestadores de cuidados de saúde são devidamente informados sobre os sinais e sintomas desta condição e as suas consequências. Falar abertamente sobre o assunto e promover uma maior sensibilização sobre o assunto pode ajudar mais mulheres a obter ajuda e tratamento mais cedo.


Exclusivo P3/The Conversation
Suzannah Williams é professora associada em Fisiologia do Ovário e investigadora principal de Criopreservação e Preservação da Fertilidade do Ovário na Universidade de Oxford, no Reino Unido
Tomi Adeniran é doutorada em Saúde da Mulher e Reprodutiva na Universidade de Oxford, no Reino Unido

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