Metro de Coimbra: sistema de mobilidade ou atentado ambiental?

Os plátanos abatidos no dia 12 de Setembro na Avenida Emídio Navarro eram parte da identidade da cidade de Coimbra.

A obra do novo sistema de mobilidade do Mondego, somada a uma outra obra que decorre paralela ao canal de 7 metros do metrobus, de saneamento e água, esta com um outro canal de mais de 21 metros, listou para morrer mais de 600 árvores. Muitas delas são centenárias, fazem parte da memória colectiva dos conimbricences. Pela sua presença majestosa na paisagem urbana, os plátanos abatidos no dia 12 de Setembro na Avenida Emídio Navarro eram parte da identidade da cidade.

A forma urbis, que sintetiza a forma da cidade, buscada pelos arquitectos-urbanistas do Renascimento, esbateu-se na cidade contemporânea, se a pensarmos como um todo. Porém, como provou o académico catalão Josep Parcerisa na sua tese Cinco cidades sobre suspeita, persiste através da identidade dos lugares centrais. A rotunda dos plátanos da Av. Emídio Navarro, era um lugar central que fazia o remate sul desta artéria histórica.

Datada do final de XIX, a Emídio Navarro é a primeira avenida de Coimbra, a “Avenida da Estação”, a que faz a transição da cidade antiga para a cidade moderna. Ladeada por um parque e uma linha de edifícios de casas típicas, com traços Arte Nova, a Av. Emídio Navarro sintetiza “a imagem da cidade”, no sentido dado pelo estudioso norte-americano Kevin Lynch (que deu esse título a um dos livros de arquitectura mais conhecidos). Arrancar-lhe os plátanos, ignorando uma petição online com duas mil assinaturas e cordões humanitários de mais de cem pessoas, constituiu um chocante exercício de autoridade municipal. O trauma causado à população levará tempo a curar. Nem com pedidos de desculpas, que por sinal ainda não aconteceram.

Pelo contrário, insiste-se em dizer que “não era possível salvar os plátanos (...) era urgente abatê-los”. A verdade é que era possível salvá-los: diversos arquitectos exibiram soluções alternativas que permitiam passar os autocarros do metrobus sem tocar nas árvores. A verdade é que passado mais de um mês nada aconteceu no local, o que demonstra que não havia pressa nenhuma. E foi por causa desta insensibilidade e autoritarismo que se escrutinou a legalidade deste acto.

Foi um abate sem pré-aviso, caótico, sem regras de higiene e segurança, em desvio do Plano Director Municipal de Coimbra, Programa Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas e da Lei do Arvoredo Urbano. Uma providência cautelar e uma acção popular demandam a nulidade do acto administrativo que deu origem ao abate e a responsabilização do seu/sua mandante (ainda não identiticado/a). Esta acção permitirá clarificar a existência, ou não, de estudos de impacto ambiental em correspondência com o projecto de execução, de acordo com a lei. Nesse sentido, foram apresentadas denúncias desta eventual lacuna às entidades competentes, incluindo as que a financiam.

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