Irão: Crítico de Khamenei condenado a oito anos de prisão, entre promessas de diálogo com os manifestantes

Mostafa Tajzadeh foi condenado por “conspiração” e “propaganda” contra o regime iraniano, acossado por protestos de uma dimensão inédita em vários anos. Outra opositora soube que passará mais 15 meses em prisão preventiva.

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Khamenei comentou os protestos a semana passada, responsabilizando Israel e os EUA pelos "motins" EPA

Detido desde Julho, o reformista iraniano Mostafa Tajzadeh foi condenado a oito anos de prisão, acusado de actividades contra o regime. Vice-ministro do Interior na presidência de Mohammad Khatami (1997-2005), Tajzadeh tornou-se depois uma das vozes mais críticas do Guia Supremo, ayatollah Ali Khamenei, e da forma como o líder e os seus escolhidos governam o Irão.

A condenação chega dias depois de o principal juiz do país, Gholam-Hossein Mohseni, conhecido pela sua fidelidade a Khamenei, ter convidado os manifestantes que há quase um mês enchem as praças e as ruas do país a dialogar com as autoridades, sinal de que o regime começa a ficar preocupado.

Segundo o advogado de Tajzadeh, que tentou candidatar-se às eleições presidenciais do ano passado, o opositor foi condenando a cinco anos de prisão por “reunião e conspiração contra a segurança do Estado”, a dois por “espalhar mentiras” e mais um por “propaganda contra o regime”. A condenação, inicialmente partilhada no Twitter pelo advogado, Houshmand Pourbabai, foi confirmada pelo diário reformista Shargh.

Numa carta a Khamenei, divulgada na terça-feira pelo canal Iran International, que emite a partir e Londres, Tajzadeh queixava-se da forma como os agentes dos serviços secretos dos Guardas da Revolução o têm tratado a si e a outros detidos na infame prisão de Evin. Os Guardas da Revolução são a força militar que responde directamente ao ayatollah e Evin é a prisão destino dos opositores políticos.

Tajzadeh já passou sete anos preso, depois do Movimento Verde de 2009, o maior desafio ao regime desde a Revolução Islâmica de 1979. De acordo com Siavash Ardalan, jornalista do serviço persa da BBC, a condenação do reformista coincide com a renovação da prisão preventiva da activista dos direitos humanos Narges Mohammadi.

Vice-presidente do Centro dos Defensores dos Direitos Humanos, a organização dirigida pela Nobel da Paz Shirin Ebadi, Mohammadi foi detida em Novembro de 2021, sensivelmente um ano depois de ter sido libertada da prisão. A activista, que passou grande parte dos últimos 25 anos atrás das grades, viu agora a sua detenção alargada por mais 15 meses.

Estas notícias chegam logo depois das surpreendentes palavras de Gholam-Hossein Mohseni. “Os cidadãos ou grupos políticos devem saber que temos ouvido para protestos e críticas e que estamos prontos para o diálogo”, disse o actual presidente do Supremo Tribunal, que reconheceu que o sistema político iraniano pode sofrer de “fraquezas e fracassos”.

Este aparente gesto de apaziguamento terá sido motivado pelas greves de parte dos trabalhadores do sector petrolífero, que esta semana se uniram aos protestos, condenando a violenta resposta do regime a manifestantes que saem à rua desde a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que morreu depois de ser detida pela “polícia da moralidade”, alegadamente por não usar de forma correcta o obrigatório hijab, o lenço islâmico que sobre os cabelos.

Os protestos têm enfrentado uma repressão crescente, em especial no Curdistão, de onde era Amini e onde aconteceram as primeiras manifestações, na sequência do seu funeral. A Iran Human Rights, com sede em Oslo, diz ter confirmado cinco mortes nos últimos três dias só em Sanandaj, a capital da província.

Estas mortes não estavam ainda incluídas no último balanço da organização não-governamental, que refere pelo menos 201 manifestantes mortos às mãos das forças do regime. Entre estes, a Iran Human Rights diz ter dados ainda não confirmados que apontam para que 23 tivessem menos de 18 anos.

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