Regime iraniano fecha as portas a moderados nas eleições presidenciais

Lista de candidatos aprovada pelo Conselho de Guardiães exclui os nomes mais importantes entre a ala reformista. Ebrahim Raisi fica com caminho aberto.

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Ebrahim Raisi é o favorito para ser eleito Presidente do Irão no próximo mês WANA NEWS AGENCY / Reuters

Entre os sete candidatos às eleições presidenciais iranianas de 18 de Junho não há qualquer nome relevante conotado com a ala mais progressista do regime. A lista dos candidatos reforça o favoritismo do actual líder do aparelho judiciário, o conservador Ebrahim Raisi.

O anúncio da lista de candidatos foi feito esta terça-feira pelo Ministério do Interior após a decisão do Conselho dos Guardiães, o órgão que está na cúpula do sistema político iraniano, que tem como função supervisionar o cumprimento da Constituição e é chefiado pelo Guia Supremo, o ayatollah Ali Khamenei.

De fora das eleições ficaram 585 pré-candidatos que não passaram no crivo do Conselho, incluindo o ex-presidente do Parlamento, Ali Larijani, um político conservador mas que nos últimos anos tinha adoptado posições mais moderadas, e era visto como o nome com mais hipóteses de pôr em causa o favoritismo de Raisi. Também foram excluídos o ex-Presidente, Mahmoud Ahmadinejad, e o ex-vice Eshaq Jahangiri.

Entre os candidatos a suceder a Hassan Rohani estão o ex-comandante da Guarda Revolucionária, o major general Mohsen Rezaei, e o ex-negociador nuclear, Saeed Jalili, ambos considerados personalidades importantes da ala conservadora. Os candidatos mais moderados são o ex-vice-presidente Mohsen Mehralizadeh, e o actual governador do Banco Central, Abdolnasser Hemmati, vistos como pouco conhecidos entre o eleitorado, diz o Financial Times.

Até às eleições espera-se que alguns dos candidatos acabem por desistir em favor de Raisi, abrindo-lhe ainda mais as portas para chegar à presidência. Mas é a exclusão de candidatos relevantes da ala moderada que deixa as eleições praticamente decididas. “Uma vitória de Raisi depois da eliminação dos seus rivais será nada menos do que vencer uma corrida contra tartarugas”, disse ao FT o comentado reformista Ahmad Zeidabadi.

As possibilidades de aparecerem candidatos reformistas competitivos já tinham ficado seriamente diminuídas depois da mudança nas regras para a apresentação de candidaturas, que passaram a permitir apenas candidatos com mais de 40 anos e menos de 75 e sem registo criminal, incluindo delitos de dissensão política. A alteração deixou imediatamente de fora da corrida Mostafa Tajzadeh, um destacado reformista que se notabilizou durante o movimento de protesto contra a reeleição de Ahmadinejad em 2009 e pelo qual passou sete anos preso.

O desequilíbrio que está a marcar as eleições está a deixar desconfortável até o favorito, Raisi, que apareceu num vídeo em que dizia estar a tentar interceder junto de alguns dirigentes do regime para permitir a entrada de outros candidatos para tornar as eleições mais “competitivas”, de acordo com a Al-Jazeera.

A pouca margem dada aos moderados reflecte a perda de credibilidade desta ala junto dos principais dirigentes do regime, sobretudo o ayatollah Khamenei, depois do fracasso representado pelo acordo nuclear abandonado pelos EUA em 2017. A reposição das sanções deixou a economia iraniana em péssimo estado e o sentimento geral da população é de apatia – calcula-se que as eleições terão uma participação mínima.

A provável eleição de um Presidente conservador pode deixar ainda mais longe a possibilidade de uma renegociação do acordo nuclear, apesar das recentes aproximações da nova Administração norte-americana.

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