Made in Portugal: primeiro Dia Internacional da Mulher na Estatística e na Ciência de Dados
Seria fundamental criarmos um dia (em vez de um ano, que não se repetirá no futuro próximo) que regularmente unifique uma comunidade em torno da importância da mulher na estatística e na ciência de dados.
Hoje, dia 11 de outubro de 2022, celebra-se o primeiro Dia Internacional da Mulher na Estatística e na Ciência de Dados. Trata-se de uma iniciativa made in Portugal proposta por mim — em nome da direção da Sociedade da Portuguesa de Estatística — à comunidade internacional e na qual temos tido um papel de liderança global em conjunto com a Associação Americana de Estatística e o Caucus for Women in Statistics.
Senti que havia uma necessidade urgente de criarmos este dia.
Em primeiro lugar, o âmbito do Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência da ONU é demasiado amplo para tenha um impacto significativo na estatística e na ciência de dados. Em segundo lugar, dada a ausência do dia que agora criámos, várias celebrações eram antes feitas durante o Dia Internacional da Mulher na Matemática, o que não era ideal, pois ofuscava as mulheres no nosso campo, bem como a nossa profissão como um todo. Finalmente, o célebre Instituto Internacional de Estatística, que foi fundado em 1855, celebrou recentemente o Ano Internacional da Mulher na Estatística e na Ciência de Dados (maio 2020–julho 2021).
No entanto, pensei que seria fundamental criarmos um dia (em vez de um ano, que não se repetirá no futuro próximo) que regularmente unifique uma comunidade em torno da importância deste tema. Esse dia, acreditei eu outrora, seria o agora criado Dia Internacional da Mulher na Estatística e na Ciência de Dados.
E como tudo na vida, o Dia Internacional da Mulher na Estatística e na Ciência de Dados tem uma história e um ponto de partida. Tudo começou há uns anos com a marcação de um seminário acerca das contribuições da mulher na estatística. Pensei que deveria escolher uma data que tivesse um significado simbólico e alegórico. A data mais óbvia que me vinha à mente era a do nascimento da célebre e influente estatística — também conhecida como a “mãe” da enfermagem moderna — a britânica Florence Nightingale (1820–1910).
Florence Nightingale, desenvolveu, por exemplo, novos métodos de visualização de dados — tais como o histograma circular — e usou os mesmos para analisar as causas de morte durante a Guerra da Crimeia (1853–1856).
Mas essa data (a do nascimento de Florence Nightingale) já tinha sido usada anteriormente noutras ocasiões por outras instituições e senti que assim sendo não era original. Posto isto, pensei que talvez pudesse agendar o tal seminário para o Dia Internacional da Mulher na Estatística e na Ciência de Dados. Acontece que dei por mim a pensar nessa altura, pela primeira vez, que esse dia, afinal, não existia. Tomei nota e acreditei nesse momento que tinha de fazer algo para mudar o status quo — e que essa visão um dia se tornaria realidade. Escrevi nesse mesmo dia cartas a colegas influentes que imediatamente abraçaram o sonho connosco e colocaram em marcha os seus grupos para que pudéssemos alterar a situação.
Termino com uma reflexão. O célebre matemático David Hilbert (1862–1943), que muito admiro, disse um dia: “A matemática não conhece raças ou fronteiras geográficas; para a matemática, o mundo cultural é um país.” Arrisco-me a acrescentar o óbvio: “A ciência não conhece géneros, raças ou fronteiras geográficas; para a ciência, o mundo cultural é um país.”
Votos de um feliz Dia Internacional da Mulher na Estatística e na Ciência de Dados!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico