Helena, Olga e outras 14 mulheres já conseguem tratar das reparações lá em casa

Projecto Mulheres em Construção chegou esta segunda-feira ao fim, mas deixa várias sementes. Uma delas passa por um banco comunitário de materiais e ferramentas, que vai estar à disposição dos habitantes do Bairro de Santiago.

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As formandas aprenderam a tratar elas próprias da grande maioria das reparações e consertos em suas casas DR

Helena Fidalgo não só já consegue resolver grande parte das pequenas obras lá em casa, como até já teve a oportunidade de dar uma mãozinha na habitação de uns amigos. “Ao início estavam um bocado receosos, mas lá perceberam que eu sabia o que estava a fazer”, conta esta formanda do projecto Mulheres em Construção, promovido pela associação Mulheres na Arquitectura, no Bairro de Santiago, em Aveiro. Helena Fidalgo, de 68 anos, decidiu inscrever-se por sugestão da filha e, cumpridas que estão mais de mais de 200 horas de formação profissional teórica e prática, regozija-se por ter feito parte desta iniciativa financiada pelo programa público Bairros Saudáveis. O mesmo acontece com Olga Karavai, de 38 anos, que depois de adquirir a sua própria casa percebeu o quão difícil era “contratar alguém para mudar um autoclismo, arranjar interruptores ou pintar uma parede”. Agora, já se sente capaz de pôr as mãos na massa e tratar ela própria da grande maioria das reparações e consertos.

Além de Helena e Olga, estiveram envolvidas no projecto Mulheres em Construção mais 14 formandas. Todas elas ganharam autonomia para realizar arranjos e melhorias nas suas casas - tiveram a oportunidade de aprender a rebocar paredes, colocar mosaicos ou a realizar consertos ao nível da canalização - ou até para começar um novo percurso profissional. “Temos já uma das formandas a preparar o seu currículo para tentar arranjar emprego na área”, desvenda Isabella Rusconi, uma das mentoras do projecto que arrancou no final de Novembro de 2021 e chegou esta segunda-feira ao fim.

Para as seis representantes da associação Mulheres na Arquitectura que estiveram envolvidas na coordenação deste projecto ainda é cedo para fazer balanços, tanto mais porque o Mulheres em Construção deixa sementes que ainda vão precisar de ser regadas. Disso é exemplo o banco comunitário de materiais e ferramentas, que vai estar à disposição dos habitantes do Bairro de Santiago a partir do Espaço 23 da instituição particular de solidariedade social Florinhas do Vouga. “Os moradores poderão ir lá requisitar ferramentas e materiais para fazerem os consertos nas suas casas, sendo para isso necessário o banco continuar a receber doações”, enquadra Patrícia Robalo, outra das mentoras do projecto - a equipa conta ainda com Elena Parnisari, Lia Antunes, Cláudia Escaleira e Gabriela Cavalcanti.

Depois de mais de duas centenas de horas de formação e sete workshops com entidades parceiras, as coordenadoras do Mulheres em Construção acreditam que o objectivo do projecto foi cumprido e congratulam-se com o facto de a iniciativa ter conseguido conquistar ainda mais parcerias além das que estavam inicialmente previstas. A entidades como a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património, Florinhas do Vouga e associação Mon Na Mon, juntaram-se outras mais, nomeadamente várias empresas privadas de construção civil. Fica, apenas, um lamento: “não conseguimos ter a Câmara Municipal de Aveiro como parceira, apesar de ter sido convidada logo na primeira hora”, desabafam. Contactada pelo PÚBLICO, a autarquia não respondeu a esta crítica.

Em dia de sessão de encerramento do projecto - além da inauguração do banco de materiais, houve um momento de confraternização entre entidades parceiras -, ficou a certeza de que foi “uma longa e vibrante jornada de aprendizagens diversas”, com direito a um intercâmbio de formação com as participantes de um outro projecto do Bairros Saudáveis, o “Entre o chão e o telhado”, de Águeda. Será o Mulheres em Construção uma iniciativa a repetir? “Tem muito potencial para virar política pública”, frisa Isabella Rusconi ao PÚBLICO. O projecto, recorde-se, nasceu da constatação de que havia mulheres com situação habitacional muito precária e sem condições, nem autonomia, para realizar pequenos consertos.

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