Cadeiras de rodas não entravam em exposição sobre Frida. Após denúncia, haverá um elevador

A Immersivus Gallery está a preparar uma exposição sobre a vida e as obras da pintora mexicana no Reservatório Mãe D’Água, em Lisboa, mas, inicialmente, o local não estaria preparado para receber pessoas com mobilidade reduzida. Vídeo de activista alertou para a situação; organização vai instalar um elevador de escadas portátil.

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Exposição sobre vida de Frida Khalo chega a Lisboa no dia 27 de outubro Immervisus Gallery/Instagram

Uma exposição imersiva em 360º sobre a vida e as obras da pintora mexicana Frida Khalo vai estar patente no Reservatório Mãe D’Água das Amoreiras, em Lisboa, a partir de 27 de Outubro. Mas Catarina Oliveira, activista pelos direitos das pessoas com deficiência, alertou nas redes sociais que o local onde se encontra a exposição não seria acessível para todas as pessoas.

Através de um vídeo publicado no Instagram, Catarina refere que a exposição “não é acessível a pessoas em cadeiras de rodas”, como é o seu caso, estando, por isso, perante uma situação de “discriminação”. Em conversa com o P3, a jovem descreve que se sentiu indignada ao ler, no site da Fever, uma das empresas parceiras da organização, que a exposição à qual tinha interesse em ir não seria acessível a utilizadores de cadeira de rodas.

“Fiquei indignada quando soube da falta de acessibilidade. Ao início pensei que deveria ser um erro, mas depois percebi que não se tratava disso. Até achei irónico, dado que se trata de uma exposição que fala de uma mulher que era, ela própria, uma mulher com deficiência e não tentava esconder isso”, conta Catarina.

O local onde estará exposta a vida de Frida Khalo, em Lisboa, é um monumento histórico de 1834. E será esse o motivo, segundo a Immersivus Gallery para a falta de acessibilidade: a promotora apontou, no momento do anúncio do espectáculo, que o edifício não estava ainda equipado com elementos que proporcionassem boa acessibilidade a utilizadores de cadeira de rodas, ficando estas pessoas condicionadas para assistirem ao espectáculo.

Contactada pelo P3, a organização não prestou, em tempo útil, declarações sobre o assunto, mas esclareceu através de um comunicado publicado no Instagram que “a exposição é um espectáculo acessível para pessoas com mobilidade reduzida” e “está pensada dessa forma desde a sua concepção”, sendo que a informação que foi transmitida anteriormente prendia-se com o facto de “o edifício ser histórico e não possuir elevador”.

A organização da exposição garantiu também, através do comunicado, que “está em curso a instalação de um elevador de escadas portátil para facilitar o acesso aos visitantes de cadeiras de rodas”. Os espectadores podem sempre contar com o “apoio permanente da equipa do Museu da Água, que todos os dias recebe e apoia os visitantes com mobilidade reduzida de modo a garantir o seu total acesso a todas as áreas do edifício”, escreveu a Immersivus.

Nos dias seguintes à publicação do vídeo, Catarina recebeu respostas por parte das empresas organizadoras: disseram-lhe que o acesso de pessoas com mobilidade condicionada ao evento seria possível. Para a jovem activista, apesar de a organização ter acabado por apresentar soluções, gostaria que, desde o início, existisse “uma transparência na mensagem: “As pessoas têm de saber com o que vão contar, porque não vão pagar um bilhete para não terem condições de acessibilidade”.

Questionado pelo P3 sobre esta situação, Tiago Fortuna, fundador da Access Lab, que trabalha para garantir o acesso de pessoas surdas e com deficiência à cultura, descreve que este caso é “um ‘abre-olhos’ para a sociedade e para a falta de preparação estrutural por parte das infra-estruturas e espaços históricos que Portugal oferece para acolher uma pessoa com mobilidade condicionada”.

“A organização provavelmente não pensou na dimensão da questão, e este assunto é difícil, porque existem degraus e não há uma solução evidente e imediata. A solução também não passa por pegar nas pessoas ao colo para fazê-las entrar na exposição”, menciona Tiago. Acrescenta que seria necessário, desde início, “programar o espaço para ter acessibilidade física e, posteriormente, preparar o espaço para o acolhimento das pessoas e apostar na formação dos profissionais”.

Texto editado por Mariana Durães

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