Impacto de mortes de animais envenenados em Portugal e Espanha é “altamente subestimado”

Cientistas acreditam que as mortes de animais causadas por veneno estão subnotificadas. As espécies que correm mais risco serão a raposa, o corvo, o grifo, a fuinha e a marta, várias espécies de roedores, o javali e o cão.

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Um texugo detectado pelas câmaras junto a um dos iscos que simulavam um alvo envenenado Palombar

Há pelo menos 47 espécies de vertebrados na Península Ibérica que podem ser afectadas pelo uso ilegal de veneno. Através do uso de iscos simulados vigiados por câmaras, um grupo de investigadores avaliou quantos animais (e de que espécies) poderiam morrer por envenenamento em Portugal e em Espanha. Resultado: houve 9095 animais que comeram 94% dos iscos. Os resultados do estudo foram publicados este mês na revista científica Biological Conservation.

As espécies que mais comeram os iscos foram a raposa, o corvo, o grifo, a fuinha e a marta, várias espécies de roedores, o javali e o cão. Foram detectados mais pássaros do que mamíferos a consumirem estes iscos e a raposa-vermelha foi a espécie que mais vezes foi encontrada a comê-los. Mas são vários os animais afectados, passando por répteis (como lagartos e cobras) e também por grandes predadores, como as águias e os lobos.

Como recordam os cientistas no estudo, o envenenamento é um método “não-selectivo” que pode afectar todas as espécies de animais – incluindo domésticos e até humanos. Além disso, contribui para o declínio de espécies já ameaçadas. Neste caso, 38% das espécies que morderam o isco são espécies que se encontram ameaçadas. O número de animais em risco de envenenamento poderá ser ainda maior se os animais sofrerem de envenenamento secundário (como quando um animal envenenado é comido por outro), acautelam os investigadores ibéricos.

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Um cão junto a um dos iscos Palombar

“O envenenamento ilegal da vida selvagem é uma ameaça global para a biodiversidade”, lê-se no estudo, “mas o seu impacto nos ecossistemas é altamente subestimado”, já que grande parte dos envenenamentos não são detectados. Sem dados, torna-se mais difícil “lutar contra esta ameaça”; para a combater, há que apostar na prevenção e em acção penal.

Veneno é comum na Península Ibérica

Para tentar averiguar a quantidade de animais afectada por estes envenenamentos, assim como as espécies mais susceptíveis, um grupo de cientistas criou e distribuiu iscos que simulavam alvos envenenados, com câmaras, em 25 locais de estudo na Península Ibérica. Ao todo, foram analisados os dados recolhidos junto de 590 iscos. Foram usados como isco pequenos bocados de carne, entranhas de animais ou cadáveres inteiros de animais – o mesmo tipo que é usado, por norma, nos envenenamentos de animais.

O envenenamento é “um dos métodos mais usados” para controlo de predadores ou de caça furtiva. Neste caso, o estudo de larga-escala foi feito na Península Ibérica, que é “um bastião de biodiversidade na Europa e uma área em que o uso de veneno é relativamente comum”. Com a ajuda das câmaras de armadilhagem fotográfica, os cientistas avaliavam se os animais tinham comido o isco, desde que houvesse “prova inequívoca do seu consumo”.

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Um milhafre-real apanhado pelas câmaras junto a um isco colocado pelos cientistas Palombar

Esta investigação contou com a participação da organização ambiental portuguesa Palombar, em colaboração com o Parque Nacional de Monfragüe, em Espanha, assim como investigadores de várias universidades de Espanha. Em Portugal, os trabalhos foram feitos em áreas da Rede Natura 2000 e da Rede Nacional de Áreas Protegidas, como o Parque Natural do Douro Internacional, Vale do Águeda e dos rios Sabor e Maçãs, explica a associação Palombar em comunicado.

A associação refere que este estudo permitiu “desvendar a verdadeira dimensão do impacto do uso ilegal de venenos dirigido à fauna silvestre nos principais ecossistemas da Península Ibérica” e que permitirão também melhorar a inspecção no meio natural. Assim, será possível “combater de forma mais eficaz esta grave ameaça para a biodiversidade”.

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