Relatório defende apoio militar ocidental de longo prazo à Ucrânia

A actual guerra ainda não acabou, mas em Kiev já se pensa para lá dela. Afastada a hipótese de entrar na NATO a breve trecho, documento sugere um acordo de vários países para garantir a segurança do país.

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Entre as propostas do relatório encontra-se a de os países ocidentais continuarem a enviar armas para a Ucrânia STRINGER/Reuters

A Ucrânia precisa que os seus parceiros ocidentais se comprometam com um apoio militar de longo prazo para manter afastada a ameaça russa, defende um relatório sobre a segurança do país tornado público esta terça-feira.

O documento sustenta que “a mais forte garantia de segurança para a Ucrânia é a sua capacidade de se defender”, mas que isso “requer um esforço de várias décadas” por parte “dos aliados”. Isto inclui desenvolver “a indústria de defesa” do país, fornecer armas e sistemas defensivos, dar formação defensiva aos militares e a todos os civis maiores de idade, assim como partilhar informações secretas obtidas através das agências de espionagem.

O relatório foi encomendado por Volodymyr Zelensky e escrito por um ex-secretário-geral da NATO, Anders Rasmussen, e o chefe de gabinete do Presidente ucraniano, Andrei Iermak. Ele resulta de “opiniões e discussões com especialistas de todo o mundo democrático”, incluindo “antigos primeiros-ministros, ministros, assim como altos funcionários e académicos”. Nenhum deles é identificado.

Até ao momento na actual guerra, vários países têm fornecido armas e outro apoio logístico militar à Ucrânia de forma voluntária, ainda que haja uma coordenação, nomeadamente dentro da NATO, relativamente ao que cada um pode enviar para Kiev. Afastada, para já, a hipótese de o país aderir formalmente à NATO, o que o colocaria sob protecção do artigo que garante assistência miliar mútua entre Estados-membros, o que este relatório propõe é que um conjunto de parceiros assine com a Ucrânia um compromisso de segurança.

“Com essas garantias, a Ucrânia manterá a capacidade para assegurar a sua autodefesa. O seu objectivo é fortalecer a integridade territorial, a soberania e a independência política da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”, diz o relatório. Entre os países apontados como potenciais subscritores de um acordo estão os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá, a Polónia, a Itália, a Alemanha, a França, a Austrália e a Turquia. O documento não especifica se algum destes Estados foi directamente abordado e/ou manifestou intenção de assinar o compromisso.

“É uma mensagem clara para Putin de que vamos ajudar a Ucrânia o tempo que for preciso”, disse Anders Rasmussen em Kiev. “Assim que a guerra acabar, temos de garantir que a Rússia nunca mais pode invadir [a Ucrânia]. A melhor forma é a Ucrânia ter uma força militar significativa capaz de resistir qualquer ataque russo futuro.”

As Forças Armadas ucranianas conseguiram na última semana recuperar o controlo de uma parte significativa da região de Kharkiv que estava ocupada pelos russos. Volodymyr Zelensky disse que já foram reconquistados mais de 6000 quilómetros quadrados tanto em Kharkiv como a Sul, em Kherson, mas não é possível confirmar essa afirmação através de fontes independentes.

Ao conseguir avanços rápidos no terreno, os ucranianos mostram ter a iniciativa e a capacidade para lançar ataques, assim convencendo os seus parceiros ocidentais de que vale a pena continuar a enviar armamento. Ainda esta terça-feira, o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros insurgiu-se no Twitter contra a hesitação da Alemanha em fornecer tanques e viaturas blindadas.

“Nem um único argumento racional sobre por que é que estas armas não podem ser enviadas, só medos abstractos e desculpas”, criticou Dmitro Kuleba. “De que é que Berlim tem medo que Kiev não tem?”

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