Literacia em Saúde

A decisão partilhada entre um profissional de saúde que pratica medicina centrada na pessoa e um cidadão informado, com boa literacia em saúde, aumenta a eficácia dos cuidados de saúde.

A necessidade do envolvimento da pessoa nos seus próprios cuidados provém da constatação de que pessoas com maior literacia em saúde, que percebem melhor o que se pode fazer para prevenir doenças, que aderem a estilos de vida mais saudáveis, que são capazes de identificar adequadamente alterações iniciais preocupantes do seu estado de saúde, que, quando doentes, compreendem melhor a natureza da sua doença, a forma como ela evolui e as suas possíveis complicações, que estão conscientes dos riscos envolvidos no uso inadequado ou na adesão incorreta à medicação, que estão mais capacitadas para lidar com a sua própria doença, obtêm melhores resultados em termos de qualidade de vida, menos complicações, menor recurso a cuidados de saúde e a internamentos hospitalares.

A literacia e a capacitação dos cidadãos não dizem respeito apenas à gestão das doenças crónicas devendo ser vistas num sentido mais lato de promoção da autonomia e autodeterminação dos cidadãos em relação à sua saúde. A literacia em saúde dos cidadãos em geral e uma maior capacitação das pessoas com doença ou dos seus cuidadores deve ser entendida numa perspetiva de cidadania, de aumento do controlo do indivíduo sobre os seus destinos.

A escolha informada e a decisão partilhada são as expressões mais elevadas do nível de capacitação do paciente. O processo de tomada de decisão clínica em consulta tem sofrido alterações ao longo do tempo, desde um modelo muito paternalista para uma perspetiva mais centrada na pessoa que, apesar de ser cada vez mais frequente, infelizmente ainda não está presente na prática de todos os profissionais de saúde. Numa prática clínica centrada na pessoa, os profissionais de saúde devem usar o melhor conhecimento científico disponível, a medicina baseada na evidência, aplicando-o à pessoa, considerando o contexto, as opções individuais e a disponibilidade de meios. O médico deve ser capaz, adaptando a linguagem do ponto de vista cultural, de transmitir ao doente as vantagens, inconvenientes, riscos e benefícios das intervenções (tratamentos, rastreios e de pedido de exames complementares). Isto requer uma formação que desenvolva essas aptidões, que é hoje promovida no ensino médico e na formação médica pós-graduada.

A decisão partilhada entre um profissional de saúde que pratica medicina centrada na pessoa e um cidadão informado, com boa literacia em saúde, aumenta a eficácia dos cuidados de saúde.

Os profissionais de saúde de hoje lidam cada vez mais com pessoas idosas, frequentemente com várias doenças em simultâneo, a multimorbilidade, o que exige novas aptidões clínicas e formas diferentes de organização dos cuidados de saúde em que os vários problemas da pessoa sejam geridos em complementaridade pelas várias profissões da saúde em articulação com o setor social e os agentes e instituições da comunidade e com a participação ativa do próprio doente e da sua família.

Neste contexto de reflexão, surgiu o projeto de promoção da literacia em saúde designado “Saúde que Conta”. O seu papel inovador tem sido a conjunção de esforços de profissionais provenientes de diversos setores e disciplinas que pretendem contribuir para o reforço do papel do cidadão no controlo e gestão da sua saúde, uma maior promoção da literacia em saúde no nosso país, e uma maior sensibilização da comunidade para este importante tema.

O projeto destaca-se como ferramenta essencial na análise do estado da literacia em saúde em Portugal e na capacidade de disponibilizar soluções nesta área contribuindo para melhorar o conhecimento sobre a saúde.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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